Em meus estudos voluntários (voluntários porque minha formação é na área de ciências exatas) sobre a sociedade humana, uma certa feita me deparei com uma afirmação de Jean-Jacques Rousseau, um dos mais célebres iluministas franceses, em sua clássica obra O Contrato Social.
Rousseau afirmou, com grande sabedoria, que sábio é o povo que se submete ao jugo do tirano quando não pode a ele se opor. Contudo, mais sábio ainda o é quando sacode o jugo assim que tem condições de fazê-lo.
Esta afirmação tem tanta sabedoria em seu significado que me marcou profundamente. Desde esse dia, passei a refletir sobre ela e sobre o mundo ao meu redor. As relações entre nações, entre governos opressores e povos oprimidos e entre usurpadores do poder e suas vítimas.
Rousseau era um homem corajoso e inteligente que vivia em uma época em que as liberdades e os direitos individuais estavam sujeitos à vontade dos reis absolutistas da Europa. Por seus escritos audaciosos demais para o padrão de ignorância e submissão da época, foi perseguido e banido.
Foi perseguido pois sacudir o jugo significa abalar as estruturas que suportam o ilegítimo tutor da nação no poder. Sacudir o jugo significa enfrentá-lo em seu campo de jogo e o tirano (e seus vassalos em covarde submissão), quando enfrentado, reagirá ferozmente, mobilizando todo seu poderio a fim sufocar o grito de liberdade da nação sempre que o momento de sacudir o jugo se tornar inevitável.
Ainda assim, Rousseau venceu. Venceu porque ajudou a transformar o mundo e porque seu legado ainda é reconhecido pela humanidade mais de três séculos depois de sua passagem por este planeta. Seus algozes foram esquecidos, mas ele permanece influenciando o pensamento humano rumo a um mundo melhor.
Outro momento de aquisição de conhecimento humano que me marcou profundamente foi quando assisti ao filme Gandhi e aprendi sobre sua revolução pacífica, que libertou uma nação sem derramar uma gota de sangue inimigo. Gandhi vivia em uma Índia colonizada pela Inglaterra e lutou pela liberdade de sua nação através da Satiagraha, a resistência passiva.
Um grande momento da vida de Gandhi se deu da seguinte forma: na Índia colônia, que estava sob o jugo do império britânico, havia leis ilegítimas impostas pelo tirano que impediam que o povo indiano produzisse sal sem autorização do império. Essa era a lei indiana.
Gandhi, então, liderou a marcha para o mar, movimento que levou uma multidão de indianos ao litoral com o intuito de produzir sal, a fim de desafiar as leis ilegítimas impostas pelo império britânico ao povo indiano.
Para o império, produzir sal era direito exclusivo dele e de seus lacaios, enquanto para Gandhi a produção do sal era um direito da nação, do povo indiano. A marcha para o mar, um movimento aparentemente inócuo, executado por um líder supostamente louco, tinha na verdade o intuito de mostrar ao povo indiano que a hora de sacudir o jugo havia chegado, mostrar ao povo indiano que as regras absurdas estavam sendo desafiadas, que o poder do invasor estava sendo enfrentado e que era hora de união.
Gandhi conseguiu derrubar o império britânico com muitos anos de luta e sem derramar uma única gota de sangue. Caminhou entre feras e monstros travestidos de seres-humanos sem se sujar, mostrando um novo caminho possível para a humanidade e, assim como Rousseau, deixou um legado que influenciará a humanidade por séculos.
Considerando a torcida do Bahia como o povo que constitui a nação tricolor, a realidade com que se depara o observador externo é a de um povo submisso ao jugo de um poder ilegítimo.
A julgar a situação com as lentes de Rousseau, nosso povo agiu sabiamente enquanto não podia enfrentar o poderio dos usurpadores. Contudo, historicamente, desde a fundação do clube, jamais houve momento mais oportuno para sacudir o jugo do tirano.
Chegou o momento dos líderes que buscam implantar a democracia no clube realizarem a marcha para o mar, mostrando que o tirano está sendo enfrentado, que as regras absurdas estão sendo desafiadas e que o jugo será sacudido.
É dessa forma que enxergo a polêmica nota publicada pelos grupos oposicionistas na última semana. Os grupos mostraram ao povo da nação tricolor que chegou a hora de sacudir o jugo, que o verdadeiro dono de nossa nação é o povo e não os políticos que dela se apossaram. A nota, no meu modo de ver, dizia claramente: “sigamos, nação tricolor, para o mar, a fim produzir o sal da terra e libertar nossa nação”.
Estou observando a tudo atentamente e muito animado com a situação que se delineia no horizonte. O golpe foi sentido, as máscaras caíram, os lacaios em covarde submissão mostraram suas caras e não há mais como esconder quem está ao lado de quem, quem está ao lado da democracia e quem está ao lado do tirano.
Os grilhões serão rompidos e o grito sufocado na garganta tricolor será libertado. Para isso, dependemos somente de nós mesmos.
comentários
Aviso: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do ecbahia.com.
É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral, os bons costumes ou direitos de terceiros.
O ecbahia.com poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios
impostos neste aviso ou que estejam fora do tema proposto.