O Bahia gestado por Guilherme Bellintani, tem duas fases curiosamente distintas: o futebol que jamais conseguiu passar da mediocridade; a excelência na negociação com o City Group, que culminou em sucesso estrondoso. O futebol que é o objetivo maior do clube, como resultado, tem sido pífio e desagradável. Porém, ainda que paradoxo, não considero as contratações feitas de 2018 para cá, ruins – claro que existem as exceções em número considerável, mas isto faz parte de um processo de busca.
Assim é que; não dá para dizer que aquisições, temporárias ou de longo prazo, de jogadores como Gilberto; Artur; Nino Paraíba; Rossi; German Conti; Luís Otávio; Índio Ramirez; Léo Pelé; Moisés; Thaciano; Gregore; Rodallega; Ricardo Goulart e mais alguns do atual elenco, foram erradas — o Bahia atual está dentro do G-4 desde que começou o campeonato e isto tem méritos.
Se em campo, um time composto por bons jogadores, ao longo da Era Bellintani, não funcionou adequadamente ao desejado, aí é questão de gestão em futebol. São 5 anos sem conquistas – exceto ser campeão do Nordeste, uma vez – sem nenhuma aplicação de conhecimentos fundamentais que difere o futebol dos demais segmentos, comerciais.
Uma coisa é o empresário da cadeia produtiva que gera riquezas, outra coisa é a gestão em clubes de futebol. São expertises distintas. Futebol é uma paixão que vem do berço familiar e daí se expande ao conhecimento de causa teórica e prática. O que não é o caso dos atuais dirigentes do Bahia.
A meu ver, faltou à gestão Bellintani uma visão maior e capaz de enxergar o mercado profissional no futebol brasileiro para contratar executivos profissionais do ramo. Ao invés disso, atendeu a pedidos de eminências pardas envolvidas com a Política partidária para simplesmente perpetuar ideologias políticas como o empreguismo. Essa filosofia anacrônica no Bahia teve suas consequências.
Saltam à frente dos olhos vários motivos para derrocadas e frustrações da gestão Bellintani: ausência de transparência; cabide de emprego; intromissão da Política partidária no clube; ações sociais do tipo óleo no mar; ações sociais em excesso, em detrimento da prioridade no futebol; pautas de lacração sucessivas; caso Índio Ramirez x Gerson do Flamengo, e outros absurdos que nem vale a pena elencá-los, são fatores que explicam o fracasso da gestão Bellintani no futebol.
Um clube de futebol, principalmente de massa, tem de ser prioridade máxima dos seus dirigentes porque envolve uma torcida apaixonada e ávida por vitórias e títulos conquistados em campo, e, no caso do Bahia, são coisas que fazem parte da história do clube, mas que estão ausentes há muitos anos, décadas. Não foi o time de futebol que fracassou; foi a gestão de Bellintani. Não por irresponsabilidade, mas pela forma como ele e seus pares encaram o futebol.
Não esqueçamos que, em uma norma paralela ao Estatuto, feita no episódio de “racismo” repleto de inverdades, entre o Índio Ramirez e Gerson do Flamengo, reza: “o futebol no Bahia não é uma finalidade em si”. Ali ficou muito claro para este colunista que de fato o problema era de gestão em futebol e não de má vontade. Jamais entendi a infeliz posição de Guilherme Bellintani ao se colocar ao lado do jogador do Flamengo, antes de quaisquer apurações, praticamente jogando Ramirez às feras. Os interesses a serem defendidos seriam os do Bahia e não os do jogador do Flamengo – ao acusador cabe o ônus da prova.
Isto foi um dos grandes absurdos patrocinados pela atual diretoria Tricolor, que se perdeu desde quando pretendeu transformar o Bahia num vetor de ações completamente voltadas para um lado mais afeito ao “politicamente correto”. Não sou contra as ações sociais, já disse isto nesta coluna, o problema é que isso estava tirando o foco do futebol e plantando sutilmente a semente de um Bahia voltado, principalmente, para as minorias como se essas não fizessem parte da sociedade e fosse o Bahia esse canal de acesso. Todo excesso é pecado e o Bahia vem pagando pelo pecado dos seus dirigentes.
Exceto Mano Menezes, qual foi o treinador de ponta que o Bahia contratou, na Era Bellintani? Somente Mano, que aliás, passou 90 dias no clube e pediu dispensa porque não gostou das condições, que só percebeu quando começou seu trabalho. A torcida, de alguma forma, colocou em parte, a má campanha da temporada na conta do Mano Menezes. Vejamos onde e como Mano está com seu trabalho; vejamos agora onde foi parar o Bahia; Segunda Divisão. Quem não acredita que um técnico de excelência não tem essa influência toda, que constate isso nos grandes clubes – embora toda regra tenha a sua exceção, claro.
Fato é que tudo no futebol passa pela gestão de ótima qualidade. No Bahia aconteceu essa qualidade quando Guilherme Bellintani conseguiu, de forma surpreendente, colocar toda a sua competência, com todos os méritos, para marcar um tento espetacular ao negociar o Bahia com o Group City. Em meu modo de ver, isto o redime de todos os seus pecados no clube e o torna parte essencial na história Tricolor.
Como consequência da má gestão no futebol; tem sido um pesadelo ver o Bahia jogar, em casa ou fora dela. Mas assim ou assado, não posso negar que, de alguma forma, os jogadores têm sido sacrificados taticamente. Por exemplo, Ricardo Goulart de centroavante é o mais do mesmo que vinha ocorrendo com os equívocos que levaram à demissão de Enderson Moreira, que nem deveria ter desembarcado em Salvador para treinar o Bahia.
São por esses fatos, parcialmente colocados acima, que a venda do Bahia ao City Group virou motivo de alegria e muitos festejos por parte do torcedor Tricolor. Sair das incertezas e passar a vislumbrar um futuro de verdadeiras glórias, terá um preço bem razoável do ponto de vista sentimental. Se por um lado, há a sensação de perda de genuinidade – o que não é verdade –, por outro lado sabe o torcedor que o Bahia vai ser de fato um gigante que jamais terá problemas causados pela falta de dinheiro. O Bahia será um clube completamente equacionado, pasme, por um feito de Guilherme Bellintani. Isto é incrível, mas… maravilhosamente verdadeiro.
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