Nas últimas semanas tivemos a tristeza dobrada com o afastamento de 02 jogadores tricolores, ambos com lesões no joelho. Assim, resolvi escrever sobre estas lesões para elucidar e desmistificar.
Primeiro, falarei sobre a lesão do Ligamento Cruzado Anterior. Este ligamento como vocês podem ver nesta foto, fica dentro do joelho, unindo o osso da coxa (fêmur) ao osso da perna (Tíbia). Muito pequeno, medindo apenas 38 mm, ele é o principal restritor da translocação anterior do joelho. Mas, doutor, que diacho é isso?
Vamos lá. Ele impede que o osso da perna se desloque na direção anterior em relação ao osso da coxa, sendo assim responsável pela estabilidade do joelho. Quando um atleta ou mesmo um cidadão comum rompe este ligamento, ele passa a cursar com uma instabilidade, o joelho perde segurança, falceia e por muitas vezes sai do lugar. Por isso é que no jogador esta lesão é tão limitante. Toda vez em que se vai fazer uma mudança abrupta de direção, este ligamento é solicitado. Na ausência dele, estas mudanças são muito sacrificadas.
A ruptura do ligamento em si não dói, o mais comum é o paciente sentir um estalido no joelho e este, quando sai do lugar, aí sim, causa uma dor intensa (vejam aí na foto).
Nos primeiros segundos ou minutos após a lesão, ainda é possível se examinar o paciente e fazer teste de diagnóstico, mas logo depois o joelho começa a inchar, seja pelo derrame de sangue ou de líquido sinovial, e as dores tornam o exame muito difícil. Assim, muitas vezes para se fazer o diagnóstico é necessário aguardar 10 ou 15 dias após a lesão.
O exame físico é, sem dúvida, o melhor método de diagnóstico chegando a uma acurácia (capacidade de verificar se a lesão existe mesmo) de 98%, mas mesmo após este diagnóstico é possível que se solicite um exame de imagem que comprove a lesão. Apesar de muito caro, a ressonância magnética (que de nuclear não tem nada) é o único exame que mostra esta lesão. Eu disse: ÚNICO. Falo isso pois por vezes vejo, se solicitado uma ultrassonografia, o joelho que infelizmente não mostrará o que procuramos.
Quanto ao tratamento, o que temos de opção? Sem dúvida a cirurgia é o método de escolha, pois é a única forma de reconstruir o ligamento. Este não se regenera, não cicatriza, nem nasce de novo. Precisa ser colocado um novo no lugar. Hoje em dia esta cirurgia é feita pela técnica minimamente invasiva, chamada de Artroscopia, que muitos chamam de cirurgia a laser, mas que também de laser não tem nada. É uma micro-câmera, mais fina que uma caneta, que é colocada dentro do joelho e por ela o cirurgião reconstrói o ligamento.
Além dos 2 furos realizados e que medem menos de 1 cm, é necessário um corte de 4cm logo abaixo do joelho pra retirarmos uma parte do músculo da coxa (tendão) que é usado como matéria prima para reconstruir o ligamento. No final, este é preso tanto ao osso da coxa como ao osso da perna por parafusos específicos (que não precisarão mais nunca ser retirados).
Se me perguntarem se o paciente pode optar por não operar, sempre respondo que sim, mas ele tem que ter consciência de que não poderá fazer esporte com mudança de direção, correrá o risco de desenvolver artrose (desgaste da articulação) e ainda terá a chance grande de ter episódios repetidos de entorse, tendo o seu joelho saindo do lugar constantemente. Se com tudo isso ele optar por não operar, terá resultados satisfatórios.
Em relação à reabilitação e pós-operatório, paciente com lesão do LCA operado normalmente entra pela manhã na clínica e vai embora à noite, não havendo a imposição de dormir no hospital, deixando claro que isso é uma opção do cirurgião.
No meu caso, meus pacientes usam muletas nos 10 primeiros dias, já pisando no primeiro dia pós-operatório, começam um trabalho de fisioterapia, em clínicas especializadas em uma semana e permanecem em tratamento orientado por 6 a 8 meses. Este tratamento orientado vai desde bicicleta ergométrica até a musculação em academia.
A verdade é que esta cirurgia evoluiu muito e hoje em dia os atletas operados voltam a jogar no mesmo nível pré-lesão. Só pra lembrarmos alguns jogadores operados, temos Alison, nosso zagueiro; Obina, quando no Flamengo; e mais recentemente o Ganso, que se encontra em plena reabilitação. Claro que o melhor de tudo é não lesionar, mas se acontecer o imprevisto, sigamos o dizer futebolístico: BOLA PRA FRENTE!!!
Dr. Fabio Costa CREMEB 15998 TEOT 8421 e-mail: [email protected]
Médico Ortopedista pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT)
Especialização pela U.S.P. em Cirurgia Video-Artroscópica e Cirurgia do Joelho
Pós Graduação em Traumatologia Desportiva pelo C.E.G.O.N. do HCFMUSP
Titular da Soc. Latinoamericana de Artroscopia, Rodilla e Desporto (SLARD)
Titulo de Especialista pela Soc. Bras. de Traumatologia Desportiva (SBTD)
Titulo de Especialista pela Sociedade Brasileira de Artroscopia (SBA)
Chefe do Grupo de Joelho e Traumatologia Desportiva do INSBOT
Coordenador de Ortopedia da Clinica São Bernardo
Médico Coordenador do Esporte Clube BAHIA
www.insbot.com.br
www.doutorfabiocosta.wordpress.com.br
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