Diofanto de Alexandria foi um matemático grego considerado por muitos acadêmicos como o pai da álgebra. Dentre as suas contribuições para os estudos matemáticos, existem demonstrações de como poderia ser aplicada a ‘’regra dos sinais’’ numa equação de multiplicação. Anos mais tarde, esta regra foi desenvolvida por outros matemáticos para que pudesse ser ampliada e ganhar usabilidade. Em suma, a regra dos sinais diz: sinais iguais devem resultar em mais (+) e sinais diferentes devem dar menos (-). Em suma, menos (-) com menos (-), numa conta de multiplicação ou divisão, deve dar mais(+).
Utilizando o exemplo acima no mundo da bola, por vezes menos com menos dá mais. Entretanto, como o futebol não é uma ciência exata, menos com menos quase sempre dá… Menos. Digo mais: – a probabilidade de dar menos é 99%. É muito raro ver times corresponderem no campo em cenários onde todo mundo (torcida, imprensa, ‘’especialistas’’, etc.) apontam o caminho do precipício. O normal é de onde não se espera nada, não sair coisa nenhuma mesmo. Não existe tirar leite de pedra, quem acredita nisso é quem acredita em papai noel e em salvador da pátria. Mas, tem indicadores que apontam o caminho e é possível melhorar trabalhos patéticos, deixar ao menos no nível do medíocre. É sobre isso que vou falar abaixo em pequenas crônicas.
(-) Senso de urgência.
Quando oficializaram que o Bahia havia costurado um acordo com o City Football Group e que caminharia para uma Sociedade Anônima do Futebol, eu fiquei muito esperançoso. Achei que as coisas mudariam. E não me refiro a dinheiro apenas, não esperava que eles quebrassem as cifras do futebol brasileiro e nem que moveriam montanhas para mudar os escalões do Bahia. Acreditei que posturas que para mim, um humilde e modesto torcedor corneteiro, eram as causas dos insucessos do Bahia deixariam de acontecer. A principal postura inadequada de outrora, que se repete como ciclo: a falta de senso de urgência.
Não sei se o maluco sou eu ou se mentiram para mim, mas está lá no contrato que o Bahia tem que jogar no modelo de jogo de posição. Eu sei que é difícil de executar, que se o treinador conseguisse fazer isso em sete meses, Xavi seria demitido do Barcelona e ele seria contratado para ocupar o lugar. Mas, eu não esperava que fosse ser tão sofrido tentar jogar assim. Aí que entra a questão da urgência, como é que faz para acelerar o processo? Contratam-se jogadores habituados ao modelo de jogo para as posições problemáticas. O Bahia tem uns quatro jogadores no elenco que possuem as características e comportamentos necessários para jogar dessa forma, alguns que podem se encaixar e vários que nem se nascerem de novo vão jogar assim. E já que o Bahia agora fala inglês, cadê o ‘’know-how’’, cadê o ‘’background’’?.
Sinceramente, eu não esperava ter que reclamar disso de novo. Não é possível que um sujeito parco que nem eu, que nunca chutei uma bola na vida, enxergue as necessidades e quem tá lá respirando o Bahia não veja. Agora tem dinheiro, tem o tal scout magnânimo de classe mundial, tem a tecnologia, tem tudo, chega à segunda janela e o técnico tem que ficar mandando indireta a cada coletiva que falta jogadores, que os jogadores chegam sempre fora do tempo, que a negociação é difícil, etc. É difícil por que não tem grana ou por que o negociador é meieiro? Dia 03 de Julho já era para ter cinco jogadores no CT Evaristo de Macedo para estrear no primeiro jogo seguinte. É isso que um sujeito que está comprometido com resultados faz. Tem que pegar o avião e ir lá resolver o que falta na negociação. Mas, não, aqui todo dia é uma especulaçãozinha, um rumorzinho e reforço nada. Antes o rumor era que chegariam oito jogadores, agora o oficial é que pode ser que chegue a quatro reforços.
Pra ficar ruim, tem que melhorar muito o trabalho da diretoria de futebol.
(-) A fábrica de crises.
Três pontos: o calendário do Brasil não deixa o time treinar, não existe salvador da pátria no futebol e o Bahia precisa de reforços que não chegam devido à letargia do departamento de futebol. Eu concordo com Renato Paiva, é incontestável. Dito isso, o Sr. Paiva também não se ajuda. Pelo contrário: é uma fábrica de crises. Ele não faz o menor esforço para melhorar sua imagem junto ao torcedor.
A começar com suas declarações nas coletivas que vira e mexe são motivos de ‘notas oficiais’ de torcidas organizadas, inúmeros conteúdos de youtubers tricolores e que reverberam sempre de maneira negativa. E a turma que faz as perguntas já percebeu a fragilidade e o que no começo do ano era um momento de falar do jogo e impressionava o torcedor, tornou-se um momento de contenda, de criação de polêmica e de frases que frustram mais ainda a combalida torcida tricolor.
Outro ponto é essa fidelidade a protocolos que não se sustentam nem aqui e nem em lugar algum. A exemplo da chegada de Gilberto, lateral direito oriundo do Benfica, ao Bahia. É a contratação mais badalada do ano, naturalmente o torcedor que vê-lo logo em campo. Nas condições normais de temperatura e pressão, o torcedor entenderia que um jogador que vinha de férias precisaria de 15 a 20 dias para entrar na forma física e técnica ideal para a estreia. Mas, o momento do Bahia é esse: 1 triunfo nos últimos 15 jogos, 3 gols sofridos contra o mesmo adversário nas costas do mesmo jogador (Cicinho, concorrente de Gilberto), uma eliminação traumática (embora o time tenha jogado com espírito de luta, o que abordaremos no próximo tópico) e uma iminência de entrada na zona de rebaixamento.
Qual o malefício que levar a maior contratação do ano pelo menos pro banco causaria? Caso Gilberto jogasse num desses dois últimos jogos, qual o prejuízo que poderia causar ao time? Tomar um gol de bola nas costas? Esse é o gol que o Bahia mais toma no ano. No mínimo o atleta poderia ajudar no vestiário. Mas, a fábrica de crise está a mil na produção. Essa semana deve ser anunciado o lateral uruguaio que está em atividade, vamos ver qual a desculpa que o nosso proficiente fabricante de crises vai utilizar para não escalar o jogador.
E por fim, o treinador Paiva já mostrou que consegue jogar com um time mais fechadinho, mais coerente, em busca de melhores resultados. Já mostrou que sabe fazer em alguns momentos. Mas, ele opta por se apoiar no contrato para manter a fórmula que não está dando certo. Ele sabe o que precisa fazer e sabe como fazer, mas não tem força para brigar pela melhoria. Prefere peitar o torcedor que peitar o patrão.
Não se faz uma feijoada com azeite e ovo, assim como não se faz jogo de posição com esse elenco. O time involui a cada rodada, a cada jogo se torna mais frágil e todos os adversários sabem explorar as lacunas. Mas, o Mister (Bean) prefere pôr a culpa na sorte. Se tivesse um pouco mais de lastro, conversaria com a diretoria, usaria o tal argumento do ano zero para justificar uma mudança de postura do time para o formato que se praticou na copa do Brasil e partiria para a busca de uma maior competitividade e melhoria de resultados. Depois, quando a fase melhorasse, tentaria retomar a forma como tem que jogar segundo o contrato.
(-) A falta de caráter.
Até que me provem o contrário, quem joga futebol são os jogadores. De nada adianta mudar o técnico (ou ele mudar sua postura), chegarem às peças que faltam, se a parte operacional da bola resolver não funcionar. Nos últimos dias saíram alguns cortes de uma entrevista do ex-treinador Muricy Ramalho falando que jogador de futebol não tem ficar precisando de muita coisa para se motivar. Cabe perfeitamente ao Bahia. Se pegar o VT dos jogos contra o Santos e o Grêmio na Copa do Brasil e depois comparar com o que aconteceu ontem na Arena da Baixada e o jogo contra o Cuiabá, as pessoas dirão que são times diferentes. Até o semblante dos atletas muda de uma peleja pra outra. Sabe o que é isso? Caráter.
O termo caráter é cunhado no futebol internacional para se referir à postura de certos times. Não está diretamente ligado a traços de personalidade individuais, mas sim coletivos. É saber que não importa o campo, o relevo, o estádio, o vento, a umidade, o calor, ou qualquer condição, o time que for enfrentar tal equipe vai ter que lidar com algumas características. Como por exemplo, o Manchester City que segundo o jogador Bruno Guimarães, enfrentá-los é muito complicado porque parece que eles jogam com quinze em campo, enquanto sua equipe joga com sete, dada a forma que a equipe pressiona a bola e se comporta coletivamente. Vai ser assim em qualquer lugar. É o caráter do time.
O Bahia é um time sem cara, sem corpo e sem método. Sem personalidade. Quando é ‘’valendo’’, você ver jogador que naturalmente é displicente tentando se manter concentrado, jogador ruim tentando coisa diferente, jogador carinhoso dando carrinho para tirar bola. Dá até orgulho de ver, mesmo perdendo no final. Parece até o Bahia mesmo. Aí acaba o jogo grande, vem um joguinho ‘’qualquer’’ de campeonato brasileiro e volta toda aquela energia horrorosa que esse time transmite de desdém com o torcedor. E para além do fator sentimental: esse time é infiel ao modelo de jogo.
É um time que pratica o jogo de posição por quinze minutos, aí no primeiro erro, começa a jogar alguma coisa que não se parece com futebol. Vira um grande baba. Parece um grupo de colegas do trabalho que marcaram um baba pela primeira vez e os peladeiros são escolhidos pelo ‘’arriar das malas’’ e pela ‘’pinta de jogador’’, mas de fato ninguém conhece ninguém ali dentro do campo. Se pelo menos o Bahia tivesse perdendo e mantendo a filosofia de jogo, haveria algum alento. Haveria esperança que um dia a tal chavinha fosse virar. Mas, a impressão que fica é que o time queria jogar de outra forma. Eles dizem que estão comprometidos com o treinador, mas não acreditam na ideia de jogo. Tentam executar o que foi treinado por alguns minutos, até sofrer a primeira finalização.
E pra piorar isso tudo: o bla-bla-bla na frente das câmeras. Outro dia, um ex-jogador do Bahia estava cobrando disposição no treinamento para aparecer no vídeo que iria para as redes sociais. Em seguida, pegou o microfone depois de mais uma atuação horrível do coletivo de atletas que vestem a camisa do Bahia (mas que não tem cara e nem cheiro de Bahia) e criticou o time publicamente. Quarta-Feira, outro ‘’colaborador’’ do elenco atribuiu a sua falta numa lista de cobranças de penalty ao treinador, provando que Paiva é uma máquina de crises até mesmo quando ele não é o criador ativo. Foi uma turbulência culposa, quando não se tem a intenção de causar problema. A mais nova foi o capitão do time dizer na frente das câmeras que vai sair na mão se for preciso pro time melhorar. Estou cansado de ser enganado viu.
E sabe o que é pior: uma coisa está ligada a outra. O Bahia teve personalidade na Copa do Brasil porque jogou as partidas com outra estratégia de jogo. Teve muito mais correria, briga pela segunda bola, contra-ataque, coisas que os atletas desse plantel sempre fizeram a vida toda. Um cenário mais confortável para eles jogarem futebol. E qual a solução? Acelerar as contratações e trazer jogadores que estão ou já foram treinados por bastante tempo no jogo de posição? Admitir que no tal do ano zero não haverá jogo de posição e jogar conforme as características do elenco? Trocar de técnico por um mais experiente capaz de implantar os conceitos mais rapidamente com uma metodologia mais clara? São perguntas que quem está lá gerenciando tem que responder antes que seja tarde demais, porque menos com menos não var mais nessa equação do Bahia.
BBMP!
comentários
Aviso: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do ecbahia.com.
É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral, os bons costumes ou direitos de terceiros.
O ecbahia.com poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios
impostos neste aviso ou que estejam fora do tema proposto.