“É campeão! É campeão!” Antes que o torcedor tricolor pense que torço pelo Flamengo ou pelo Cruzeiro, pedindo minha cabeça como escriba deste espaço, esta comemoração é nada menos pelo inédito tricampeonato brasileiro do não-rebaixamento. Festa nas ruas de Salvador! Alegria nos quatro cantos da terra da alegria. Borá Bahia!
A não-queda sepulta de vez as esperanças do Império da Ribeira em afirmar uma suposta competência que nunca teve. Do mesmo modo que em outras ocasiões, o Bahia lutou até o fim do Campeonato Brasileiro para não cair, e desta vez, pela terceira vez seguida na era dos pontos corridos, consagra a permanência na primeira divisão de um campeonato tão difícil, no qual somente a organização, planejamento e estabilidade podem dar aos clubes participantes um lugar ao sol.
Esta “conquista” de ontem, num improvável triunfo diante do atual campeão brasileiro [com sobras] deve ser valorizada apenas no contexto da manutenção do Bahia na Série A, e não no contexto técnico. O time é fraco, continuo afirmando; a diretoria democrática arriscou-se bastante em sua popularidade, mantendo a estrutura de antes em campo e fora dele; e o treinador não tem demonstrado a sua “mão” até hoje, com escalações pouco compreensíveis e efetivas aos olhos do torcedor mediano.
Valorizando o treinador e a base do atual elenco, a direção de Fernando Schmidt e equipe sem dúvida demonstra que existe um planejamento para formar uma base, cujos frutos, se houver, serão somente vistos no médio e longo prazos. Apesar de não contar com a confiança de boa parte da torcida, dou um crédito de confiança à nova direção – mesmo mantendo o treinador cujo trabalho não aprovo – pois em 2014, dizem, serão realizadas contratações de custo-benefício compatível com o que o clube pode ter. Aguardemos.
Importante ressaltar que não precisamos de promessas de “jogadores de seleção”, como sói ocorrer em gestões dinâmicas e futuristas. Neste momento, é preciso compreender qual é o papel do ator Bahia no futebol nacional. É mais do que necessário entender que transitamos no segundo para o terceiro escalão do ludopédio tupiniquim, e temos perdido espaço até para o antes “inexistente” futebol catarinense, o qual poderá emplacar três clubes na Série A no ano da Copa.
A euforia do torcedor mediano não pode dar lugar a exigências impossíveis de serem satisfeitas e é preciso começar de baixo, dentro da realidade financeira e de mercado que nos cabe. No entanto, isso não é desculpa para dizer que o mercado está “muito aquecido”, como em tempos de outrora, continuar catando panticos e adelinos, e mantendo esses elencos de quarta divisão com os quais infelizmente já estávamos nos acostumando.
Foi com um time titular composto em mais da metade por baianos que fomos campeões brasileiros em 1988. Além da base, cumpre lembrar que o perfil dos demais atletas-chave a serem integrados ao elenco deverá respeitar o quadrinômio titularidade + posição da equipe atual + forma física/técnica + comprometimento, cujo produto deverá ser o melhor possível para nossos propósitos. Para disputar Campeonato Brasileiro, Baiano, Copa do Nordeste e [talvez] Sulamericana, será necessário um elenco coeso, no qual qualquer atleta tenha condições de entrar em campo sem comprometer a qualidade da equipe.
Para 2014, ano de Copa com grande visibilidade dos times nacionais lá fora, conquistar o interplanetário Campeonato Baiano, a Copa Nordeste, e não escapar de rebaixamento nas últimas rodadas do Brasileirão (figurando até a décima posição) deverá ao meu ver ser uma meta factível, escalonável e perfeitamente alcançável. E esta será a primeira exigência que farei à gestão tricolor democrática de direito.
No mais, a maior conquista nesta reta final do Brasileirão, além daquelas conquistas do durante e pós-intervenção, foi não ter dado ozadia a uns e outros. Parabéns à torcida tricolor, o décimo-segundo jogador da equipe [ontem, hoje e sempre] e o único responsável por manter o Tricolor vivo nestes nebulosos anos de segunda e terceira divisões.
Finalizo esta coluna, possivelmente a última do ano, fazendo mais alguns breves comentários, e o primeiro diz respeito ao Fluminense carioca. Primeiramente, repudio quaisquer acordos, conchavos, promessas, troca-trocas, malas brancas, pretas ou amarelas para que o Bahia entre com time reserva ou coisa do tipo a fim de facilitar para o time das Laranjeiras. Nenhum torcedor tricolor quer ver seu time perdendo, mesmo que o jogo seja para cumprir tabela. Além disso, o clube carioca é conhecido por não cumprir a ordem preestabelecida nos quesitos de acesso e descenso, o que pode ser provado com a subida meteórica do time de Fred da terceira para a primeira divisão em 1999. Ok, o Bahia também foi beneficiado naquela ocasião, mas desceu de novo (o que é frágil não se sustenta) e subiu, a duras penas, em campo.
Adicionalmente, e digo sem querer fomentar ao ódio interestadual, se fôssemos nós que estivéssemos na corda-bamba, a conduta do adversário certamente não seria de pena, afinal de contas, na penumbra dos gabinetes cartolais e midiáticos, é melhor um carioca capenga do que um baiano forte, pois “ainda há mundos a serem conquistados”. Chega de colonialismo e de submissão! Que o Bahia entre em campo para vencer.
O segundo comentário, pegando carona no primeiro, é que ainda há chances de acesso à Copa Sulamericana, interessante atalho para a Libertadores da América [desde que tenhamos uma equipe de respeito]. Hora de pensar grande e para cima deles, Esquadrão!
E o terceiro e último comentário: nada como a simbologia de determinados fatos… se antes nos descabelávamos pelo joelho de Pantico, atleta de renome intergaláctico e integrante da Seleção Brasileira de bolinha de gude, incrivelmente foi um joelho que salvou o Bahia de uma batalha sangrenta no próximo domingo [e com grandes chances de derrota].
Agora, o menino da base Talisca é o cara, entrando de forma positiva para a história do tricolor. Não teve repeteco do 7×0, nem do 6×0 nem do 5×0; não consagramos ninguém do adversário e desta vez não teve freguesia pros mineiros nem nada disso. Do pó viemos, ao pó voltamos e o pó vencemos. Pó-de-arroz, pó Pará que tá feio e acerte suas contas com o capeta. Sinto cheiro de Série B, mas bem longe daqui. Deixa que eles rezem pra São Januário porque Santa Edwirges os espera. Santo Expedito curtiu isso e a mistarada do Nordeste diz amém ano que vem. Que papelão! Icasa de ferreiro, espeto de pau. Siará possível?!
“Sorte”, “estrela” e outros mitos são importantes num clube vencedor, mas são muito mais úteis quando o clube faz por onde.
Saudações Tricolores e, se não nos encontrarmos até o fim do ano, feliz 2014!
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