Eu sempre tive vontade de abordar o futebol como cultura, não simplesmente como algo que me diverte com histórias do seu folclore que já me fez rir o bastante ao ponto de me deixar saturado. Vez ou outra alguém me faz relembrar Gentil Cardoso, Vicente Matheus, Pinguela, Osório Villas Bôas, Baiaco, Sotero Monteiro, Jair da Barra Mansa e outros. Essa gente deveria pertencer ao acervo do futebol de uma outra forma, nunca em contos que nem sempre retratam a melhor verdade dos fatos.
À parte o lado corriqueiro do futebol, preocupa aos escritores alguns aspectos da literatura mais ampla do futebol no que toca a sua cultura, que é pouco explorada por eles mesmos, por medo de não obterem êxito. O futebol é um veículo que transcende os limites das paixões e alcança um lado cultural muito forte, além do que imaginamos. Será tão somente o lado folclórico cômico e a idolatria que o faz vivo na memória do desportista?
Neste País em que apenas 45% dos brasileiros lêem livros e 18% são completamente analfabetos, o ceticismo é um adversário perigoso para os escritores quanto a uma abrangência mais culta no futebol para transformá-lo num assunto interessante no meio mais intelectualizado da sociedade.
O brasileiro aprecia muito o imediatismo das notícias e não se liga na leitura mais profunda por absoluta falta de hábito. É leitor de jornais e revistas. Por outro lado os escritores não exploram a ficção no futebol com romances sobre o mesmo, o que seria um meio de estimular mais os brasileiros à leitura posto que o esporte é sempre uma matéria fascinante.
Os monstros sagrados da literatura brasileira preferem, entretanto, escrever biografias de astros do passado, alguns do presente, escândalos com fatos pessoais, histórias dos clubes, crônicas desse lado folclórico, enfim, em prova inconteste de que há mais preocupação com a idolatria do que com a simbologia.
Necessário se torna despertar o interesse do torcedor em ter o futebol como cultura importante deste País, e para isso é importante que os escritores abracem o caráter romanesco no futebol que precisa sim ser romanceado para o bem da cultura brasileira porque ele é parte muito importante do Brasil no exterior. Não foi o Brasil que elegeu Pelé como o “Rei do futebol”, foi o mundo.
Penso que todos os clubes formadores de futuros talentos devessem investir em bibliotecas e que esses jovens ainda em formação fossem obrigados a ler um livro ou dois por semana, que os profissionais fossem estimulados à leitura enquanto recolhidos à concentração, em lugar do “carteado”. Pelo menos os Robinhos, Adrianos e Ronaldos, por exemplo, não aconteceriam da forma como acontecem fora de campo.
Se faz mister acabar com o preconceito de que livro só diz respeito apenas às pessoas de formação acadêmica, intelectuais e autodidatas. Livros são para toda uma sociedade que pretende ser democrática. É esse o caminho para que um país se torne abosolutamente livre através da cultura que faz do cidadão um patriota consciente.
O futebol não é mais tão folclórico assim, o futebol é seguramente o veículo cultural que mais divulga o Brasil no resto do mundo. E isto tem que ser levado em conta devidamente pelos escritores deste país. Nelson Rodrigues foi o início dessa descoberta que Fernando Veríssimo, mesmo de forma tímida, não descarta.
Então é preciso cuidar deste aspecto para evitar que adolescentes, incentivados pelos pais, em detrimento até da formação colegial básica, tenham no futebol todas as suas apostas. Isto é um equívoco dos piores, em detrimento da educação. É comum vermos garotos com idades inferiores aos 15 anos arvorarem-se pelo mundo sob a custódia de empresários que nem sempre os trazem de volta quando o fracasso lá fora determina o seu futuro.
Não há neste país, em clube algum, a preparação intelectual do homem antes mesmo de prepará-lo como jogador. Deveria ser proibido – por quem? – que garotos ainda em ascensão nas bases formadoras dos clubes, saíssem do Brasil antes de preparados intelectualmente. Mas essa demanda, lamentavelmente, nem parte tanto assim dos clubes, ainda é preciso aperfeiçoar a Lei Pelé e tirar dos empresários tanto poder como eles têm agora, e dar mais responsabilidade aos clubes.
Completar apenas a oitava série ginasial não é predicado suficiente para o profissionalismo. Mas isto, infelizmente, é prática especifica do futebol no nosso País. Em nenhuma outra profissão há despreparo igual. Deveria haver uma lei rígida para impedir essa migração desorganizada e patrocinada pelos “empresários” do futebol de forma altamente mercenária.
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