Dois aspectos existenciais da minha vida têm me feito refletir muito. O primeiro é a busca da paz espiritual sem a qual não dá para se pensar em futuro absoluto. O segundo é tentar compreender pessoas, fatos e aspectos, o que é muito difícil, convenhamos. E nesta área atmosférica, digamos assim, de instabilidade diante de acontecimentos medonhos que circulam nos noticiários da mídia mundial, chego à conclusão de que quanto mais atinado eu estiver, mais chance de sobrevivência saudável terei.
Recentemente recebi uma crônica, enviada por um primo-irmão que tenho em Jaguaquara, escrita por um dos meus ídolos no campo da literatura, no caso Rubem Alves, intitulada “O tempo e as jabuticabas”, e eu transcrevo a seguir algumas partes da sua crônica:
“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras ela chupou displicentemente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Já não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com os invejosos tentando destruir quem eles admiram (…) cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
(…)
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o Milênio.
Não quero ver o relógio avançando em reuniões de confrontação, onde tiramos fatos à limpo. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo masjestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário Andrade, que afirmou: “as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver do lado de gente humana, muito humana; que saiba rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge da sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo”.
Transcrever um texto de Rubem Alves, para mim é uma honra, mas não quer dizer que haja quaisquer direções que não seja compreender os meus próprios conflitos. Eu detesto encrenca, muito embora me coloquem dentro delas sem prévias consultas. Eu perco tempo para sair delas, e por isso detesto-as tanto. E este é o motivo pelo qual já me assombro só de pensar da seguinte forma:
Será que uma das mais fortes angústias de uma nação ainda perdurará por mais três longos anos? Será que o pessoal circunstancialmente rejeitado por essa nação ainda vai se arvorar a dar continuidade a esse estado de coisas, de alguma forma? O continuísmo viria com nome supostamente opositor? Por que não participar de uma grande cruzada pró Bahia apoiando um nome com trânsito livre num lado e noutro? Tem que ser alguém parte de acordo entre oposição (…) e situação?
E por que não um nome, que sei, tem trânsito na oposição e na situação e é do inteiro agrado da torcida? Este nome existe e está muito forte, senhores conselheiros tricolores. Reub Celestino não é para ser descartado à toa. Eu estranho muito o fato de Petrônio Barradas, um homem sério, estar antecipando o seu desejo de não indicar sequer um candidato. Estaria em rota de colisão o grupo de Marcelo Guimarães com o de Petrônio? Eu não esqueci de que a vontade de Petrônio era abrir o Bahia às eleições diretas. Foi o que ele disse ao assumir a presidência do clube. Não acho que ele tenha desistido disso, as pressões internas é que o fizeram descumprir a sua palavra e isso o contrariou profundamente.
De qualquer sorte, as eleições no Bahia estão nas mãos dos conselheiros, eles é que decidirão o futuro do Tricolor. Que seja Ismerin ou que seja Reub Celestino, o conselho do Bahia decidirá pelo melhor. Porém tudo o que estou colocando aqui são frutos da minha imaginação, ninguém me antecipou nada, nem tenho este privilégio. Possa ser que nem seja Reub e nem Ismerim, possa ser que uma grande surpresa nos pegue de frente, e eu não quero ser leviano ao ponto das afirmações infundadas.
Menos mal, o Bahia realmente não cairá. Assim fica menos penoso para quem vir por aí, e a torcida não correrá o risco de torcer por um clube que ninguém quer assumir, posto que voltar à Terceira Divisão seria o fim de todas as esperanças, seria como dormir em casa e acordar no deserto do Saara, sem bússola e sem água.
Veja você, tento sair dos meus conflitos, transcrevo Rubem Alves, fujo das encrencas como “aquela coisa” foge da cruz, mas eis que torço pelo Bahia, sou um réu confesso, um indomável réu confesso que vai tentando com todos os seus limites compreender tantas dificuldades criadas pelo ser humano… Ah! Como tudo seria fácil se a tal da boa-vontade fosse algo possível nos espectros penados que ainda pensam de fato existir. Não existiria obsessão, não é?
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Nossa! Até me esqueci do futebol. Não creio no boicote dos jogadores tricolores, todos são profissionais e se respeitam. Sabem que o futuro deles está aliado a uma boa campanha, e boa campanha não é cair para a terceirona. São os limites técnicos e os emocionais, também, que causam uma performance ruim.
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Foi bom voltar a ver o Bahia se sair de uma roubada, ganhou do Brasiliense, sofridamente, mas ganhou e é o que importa. No meu entendimento está fora do rebaixamento, mas ganhar mais três pontinhos nos deixaria bem aliviados. Quem sabe dois! Um pontinho apenas… Hein?
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