Fique tranquilo, amigo leitor. Não tenho a pretensão de transformar essa coluna num ensaio autobiográfico, como acertadamente o fez Marcelo Rubens Paiva em seu romance de estreia, do qual copiei o título. Mas, confesso que não achei tradução melhor para o ano de 2021 do nosso querido tricolor, nem tampouco consigo esconder a saudade que sinto da temporada de 2020 quando olho para trás e rememoro o gosto saboroso de permanecer na série A. Trocaria facilmente o título da Lampions League do início desta temporada pelo não-rebaixamento à série B do Campeonato Brasileiro, ainda que isso significasse entregar a “orelhuda” ao outrora rival.
Fim de ano é sempre momento de retrospectivas. No nosso caso, esse filme teve de tudo. Do desespero com o quase rebaixamento na temporada 2020 à frustração pelo, enfim, descenso ao final do ano de 2021. Da euforia pela conquista da Copa do Nordeste à depressão com as perspectivas sombrias para 2022. Difícil encontrar um caminho que nos permita passar em revista os passos do tricolor no ano que se encerra sem resvalar pelas emoções, nem todas boas.
Aprendi ao longo da vida a tentar encontrar algo positivo, mesmo nos momentos mais sombrios. Com o desastre que se abateu sobre o esquadrão de aço não foi diferente, servirá para por fim às ilusões com que nosso prestidigitador-mor vem conduzindo o clube e ludibriando o torcedor. Não há mais espaço para o discurso de que, no final, o futuro que nos aguarda é lindo e maravilhoso e que só não aconteceu ainda por obra do acaso ou porque o fim ainda não chegou. Há algo de podre no reino da Dinamarca, bradaria Marcellus, personagem de Hamlet, e já não dá para fingir que não há, empurrando o problema para a futuro. O futuro chegou e a conta também, bem salgada por sinal.
E o que não está certo? Seguramente, cada torcedor ou analista esportivo tem sua própria resposta. Na minha humilde opinião, é uma conjunção de fatores que começa quando damos o passo maior que a perna, entre 2019 e 2020, gastando recursos com jogadores caros (Clayson é o maior exemplo), que não conseguiram fazer o Bahia subir de patamar. Esses recursos, fruto de um bom trabalho de ampliação de receitas da atual diretoria, não foram canalizados para reduzir a dívida e isso fez enorme diferença na temporada 2020, no momento em que a pandemia do Covid-19 se apresentou. Conseguimos nos sustentar, mas à custa de comprometer o desempenho no ano de 2021, quando investimos muito pouco no plantel, quase sempre trazendo peças descartadas em outras praças ou que eram apostas de risco. O resultado está à vista de todos.
Contribuiu muito para essa trajetória a nenhuma experiência de nossos dirigentes eleitos com o mundo do futebol, embora tenham certeza de que são PhD no assunto, e a pouca disposição em voltar atrás em decisões que se mostraram equivocadas. Querem exemplos? A maneira como enfrentaram a “greve dos atletas” e, mais recentemente, a insistência com dois dirigentes para a área do futebol. É evidente que não deu certo, mas é muito mais confortável colocar a culpa nas “peças” que já saíram e não no modelo errado adotado. O problema é que o sapato confortável para uns, machuca o pé de outros.
Das poucas decisões acertadas no ano, a não insistência com Dabove acabou no anedotário do futebol nacional. Primeiro, porque foi necessário reconhecer, dada a inusitada situação, que a contratação do técnico foi realizada sem grandes sondagens ou levantamentos sobre o estilo de jogo do mesmo. Na linha, precisamos de um estrangeiro… Segundo, porque menos de 24 horas antes do desligamento, um alto dirigente tricolor “confidenciava” a importante jornalista esportivo a imensa satisfação da diretoria com o técnico, tanto que já se cogitava a renovação, mesmo que o time não permanecesse na série A. Toda essa vergonha, passada à vista, em transmissão nacional de televisão.
As desculpas utilizadas estão cada vez mais esfarrapadas, assim como em farrapos andam os nervos e a paciência do torcedor ao acompanhar os anúncios de contratação para o ano de 2022. Não tem jeito. O impacto do rebaixamento no clube será sentido por muito tempo ainda, principalmente porque as janelas de contratação em 2022 (janeiro a abril e julho a agosto) exigirão maiores dispêndios com os atletas e, consequentemente, melhor planejamento, algo que não tivemos até o momento. De bom, até agora, o anúncio da permanência de Guto Ferreira, sinal de que poderemos ser competitivos. Temos que acreditar, ainda que a natureza nos faça ressabiados. Eu acredito que teremos um Feliz 2022. E você, amigo leitor?
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