O Esporte Clube Bahia vive, hoje, um imenso paradoxo. Ao tempo em que circunstâncias externas lhes são extremamente favoráveis ao crescimento, a sua má gestão o leva a crescer tal qual o rabo do cavalo e a andar como anda o caranguejo.
E não me venham falar, os defensores desse modelo administrativo, que ascendemos da série C para a B e desta para a A do Campeonato Brasileiro, porque as quedas, humilhantes, foram também patrocinadas por esse mesmo grupo que aí está e se pretende perpetuar em desmandos no clube. Para mim e, creio, para a maioria dos torcedores, o parâmetro do que concebemos como o nosso Bahia é traduzido nas décadas de 1960 e 1980, quando exercíamos absoluta hegemonia regional, éramos respeitados nacionalmente, praticamente imbatíveis em nosso terreiro e conquistávamos títulos expressivos, vide 1959 e 1988, para ficarmos apenas nos de expressão nacional.
Sem adentrar ao mérito das discussões políticas e das paixões partidárias, por fugirem ao escopo destas esforçadas linhas, é fato que o Brasil vem experimentando, desde o governo FHC, crescimento econômico, que se traduz, dentre outros aspectos, pelo aumento da renda per capita do seu povo; diminuição, embora longe de padrões aceitáveis, das desigualdades socioeconômicas e pela ascensão de classe social de parcela significativa da nossa população.
Essas condições propiciadas pelo nosso capitalismo tupiniquim vêm sendo relativamente bem aproveitadas por entidades privadas que delas se aperceberam, dentre as quais, alguns clubes de futebol, tais quais os gaúchos Grêmio e Internacional e, talvez o nosso melhor exemplo, o Sport Club Corinthians Paulista, que, depois de badalada queda para a Série B do Campeonato Brasileiro, em 2008, soube se reciclar, se modernizar, e alcançar status de grandeza jamais conhecido ao longo da sua história. O alcance de visão das entidades reflete o seu sucesso ou o seu insucesso. Quem percebe as condições históricas contemporâneas e a elas se adapta, colhe crescimento. Quem não as percebe ou detém interesses outros, por vezes inconfessáveis, fica para trás, tal que o nosso Exquadrão.
Salvador, em que pese se situar apenas no 10º lugar entre as cidades brasileiras quanto ao tamanho do PIB (aproximadamente R$ 37 bilhões de reais), é a terceira maior do Brasil em termos de número de habitantes (cerca de 2,7 milhões, sem contar a região metropolitana), mais da metade inseridos nas classes sociais C, B e A, as quais detêm poderio econômico a ser explorado. A meu ver, o futebol, nesse aspecto, perde somente para a religião, haja vista, nesse segmento, a mercadoria, qual seja, a fé, não ter custo, basta ao empresário uma boa lábia, um barracão e cadeiras, de plástico mesmo, e o luc…quero dizer, o dízimo é certo. O futebol, ainda requer ou que se produza a mercadoria (o atleta) ou que se a compre. Produzir é muito mais barato e menos arriscado.
Com esses dados, pesquisados no Google, que informa serem do IBGE (vou acreditar), embora reconheça o empirismo da minha tese, não faço coro com os que pregam uma espécie de determinismo segundo o qual, por sermos os patinhos feios, pobres nordestinos, estaríamos fadados a papel secundário no cenário futebolístico nacional. Penso que apesar da maior pujança econômica do eixo Sul/Sudeste em relação a nós, não há fatores externos significativos que impeçam o crescimento do Esporte Clube Bahia. Tais fatores são, muito mais, de ordem interna, organizacional, afetos à má gestão, do que externa.
Temos hoje (digo temos porque a tricoloridade se encontra no nosso DNA, em que pese a inexistência de uma política de aproximação do torcedor ao clube) condições extremamente favoráveis a que o time em campo não necessite passar pelos vexames que nos vêm sendo impingidos nas últimas duas décadas, quando perdemos (dói em mim dizer isto, mas é a realidade fria e numérica) a hegemonia local para o nosso maior rival, sofremos seguidas quedas para séries inferiores do Campeonato Brasileiro e permanecemos mais tempo, durante esse período, nessas séries inferiores do que na elite, além das históricas goleadas que pequenos e grandes nos impuseram, as quais prefiro nem relembrar.
Estão aí, e não me deixam mentir, como exemplos dessas condições favoráveis: o contrato com a Rede Globo de Televisão (à primeira vista, parece bom, mas já foi proporcionalmente melhor, quando o Bahia era considerado um dos treze grandes), a recém-inaugurada Arena Fonte Nova (Pituaçu já era muito bom), o novo Centro de Treinamentos (não sei se o negócio envolvendo a construtora é realmente bom para o clube, mas aí é outro tema), o famoso contrato com a Nike (Yes, nós temos Nike, pai!) dos uniformes improvisados, cópia do de um time estrangeiro e mais parecido a de treinamento do que de jogo. Como vêem, os adendos são muitos… mas, enfim, temos Nike! Empresa gigante no seu segmento. Sem precisar falar, por óbvio, mas falando, do maior capital da entidade, a sua imensa e apaixonada torcida, tão vilipendiada, maltratada, desconsiderada. As condições, portanto, estão postas ao crescimento do clube. Falta-nos GESTÃO, pois a que temos é amadora, familiar, truculenta, antidemocrática, afeta aos seus interesses conflitantes com os da entidade da qual, ilegitimamente, se apoderaram.
Amigos, a ganância leva o homem ao desamor. O ganancioso não tem amor a nada, a não ser ao poder, ao dinheiro, aos bens materiais. Para indivíduos assim, as outras pessoas são vistas apenas como mais um meio a contribuir para o alcance dos seus fins: mais poder, mais grana, mais coisas. São insaciáveis!
O nosso consolo é que toda tirania, mais cedo ou mais tarde, cai. Os súditos, em algum momento, abrem os olhos e veem que estão sendo enganados, explorados e excluídos. Então, o rei vai ficando cada vez mais isolado e menos temido, porque os súditos passam a perceber a sua própria força e, a partir dessa consciência, a agir. Quando se consolida a mobilização popular, o fim da ditadura se aproxima. É inevitável! Portanto, vamos às petições públicas! Às concentrações populares em protesto pela queda do rei! Vamos ao Público Zero! Às mobilizações pelas redes sociais! Ao despertar das consciências e à luta! Vamos trilhar caminho que nos leve à democracia, à transparência, à honestidade, ao compartilhamento com o povo daquilo que é seu de direito! O Bahêa, mesmo que alguns não queiram, é nosso!
Os políticos profissionais já começaram a agir, a se manifestar. Representantes de diversos partidos e tendências têm levantado, nos últimos dias, voz em contrário a essa gestão nefasta ao clube. Embora, por óbvio, o oportunismo de boa parte dessa gente, eles são experts em traduzir a voz do povo. Afinal, estar afinado com a voz de Deus é legítima tradução em votos.
Não vamos desistir! Vamos alcançar o nosso ideal! É certo que todo movimento revolucionário acirra, durante certo período, o sofrimento, pois durante a revolução, o seu objeto, a nação, se encontra quase que acéfalo. A energia do tirano se concentra em como lutar para manter o seu domínio sobre o ente em questão, enquanto o interesse dos revolucionários é libertar a Nação, é torná-la de todos.
Esse é o ideal da autêntica revolução! Mais vale o sofrer na luta, buscando criar condições favoráveis às transformações necessárias, do que o conformismo e a aceitação de um domínio ilegítimo daquilo que é nosso, a ceifar nossos sonhos. O Esporte Clube Bahia é patrimônio de parcela majoritária da sociedade soteropolitana, é arraigado às suas tradições. Não será meia dúzia de aproveitadores que irá usurpá-lo de nós. A covardia não condiz com a hombridade. A firmeza e a pureza de propósitos fatalmente conduzem ao sucesso. Fundamental é quebrar a inércia da imobilidade, é o início da luta. Com o tempo, o processo vai ganhando forma, a visão clareando e novo tempo se fará, certamente. Afinal, tudo muda, a todo tempo, infinitamente, como uma onda no mar. Uma luta ganha, mesmo com algumas batalhas perdidas, é apenas prenúncio de que outras virão, ciclicamente, espiraladamente, em eterna ascensão ao infinito.
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