Quem é que gostaria de ficar discutindo a política de seu clube do coração e esquecer o time dentro de campo? Quem é que gostaria de passar suas poucas horas de lazer lutando por melhorias para um clube que deveria ser sua fonte de alegrias? Quem é que prefere discutir sobre o estatuto do seu clube a discutir sobre a escalação de seu time? Quem é que gostaria de ver seu filho herdar um legado de sofrimento e angústias por amor a seu pai e a seu clube do coração? Quem é que gostaria de se expor em uma sociedade pusilânime e hipócrita como um dos poucos a berrar aos surdos sobre os erros que só cegos não enxergam?
Acredito que a quase unanimidade da população responderia com sonoros Eu, não! a todas as perguntas acima, inclusive eu. Afinal, as razões para a paixão que sentimos pelo esporte mais popular do mundo são a magia dentro de campo, as polêmicas envolvendo os atores do futebol, as disputas entre clubes rivais, as obras de arte realizadas pelos craques em campo, a superação de jogadores menos talentosos, mas com imensa vontade de vencer, as zebras protagonizadas por azarões, a indignação pelos erros de arbitragens contra nossos times e principalmente a alegria de voltar para casa como um vencedor.
Mas, o que acontece quando o time do seu coração se torna motivo de chacota por anos a fio, devido aos mesmos repetidos erros, cometidos pelos mesmos repetidos personagens? O que acontece quando você passa a recear que seu filho tenha duas opções diante de si: se tornar torcedor do clube rival devido à influência de seus coleguinhas, na maioria filhos de pais na mesma situação que você, ou se tornar um sofredor por optar pelo clube chacota para o qual você torce, por amor a seu pai?
A essa pergunta, não sei qual seria a resposta da maioria da torcida do Bahia. Seja porque não sou o dono da verdade, seja porque os fatos mostram que grande parte das pessoas está tomando Johnny Walker e Activia e pensam ter resolvido seus problemas, seja porque quem viu as barracas da orla serem derrubadas sem reação da população, perdeu a esperança na vitória dos homens de bem nesta capital do desemprego. Cidadania, deixa pra lá, é coisa que só se vê nos livros que ninguém lê.
Fato é que Jael e Morais estão aí e o Bahia ganhou duas seguidas. Viva, viva, viva! Três vezes, viva! Neste momento, nada de cobrar mudança em estatuto, nada de cobrar prestação de contas, nada de cobrar transparência, nada de cobrar democracia, nada de cobrar profissionalismo! Jael e Morais estão aí e tem jornalista de veículo de alcance nacional fazendo gozação diária com o coitado do vice! Viva, viva, viva! Cidadania, deixa pra lá, é coisa que só se vê nos livros que ninguém lê.
Também fato é que ainda há os que lutem, apesar de serem poucos, para que Jael e Morais sejam somente a pontinha do iceberg das boas contratações que o Bahia merece. Mas, estes estão sozinhos nessa luta, enquanto o estádio está cheio, e apreensivos sobre quando as pessoas voltarão a discutir sobre os meios de fazer com que jogadores como Jael e Morais não sejam mais novidades de outro mundo e apenas mais uma dupla de bons jogadores dentre os muitos que um clube como o Bahia deveria desfilar em campo. Esses, tão poucos, são os heróis aos quais o futuro prestará tributos. Esses sabem o que é cidadania.
A decepção me diz: em Roma, como os romanos, torne-se mais um na turba a comer churrasquinho de gato, beber cerveja quente e urinar nos postes e colunas de passarelas e viadutos da cidade, após os seguidos fracassos em PituAço.
Mas, logo depois, me lembro de Winston Churchil admoestando Chamberlain: entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra e terás a guerra. Sábias palavras do homem ao qual o presente presta tributo.
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