é goleada tricolor na internet
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Publicada em 16 de maio de 2007 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

Emo

Não sei se vocês já ouviram falar em EMO*. Até bem recentemente, o único Emo que eu tinha notícia fora aquele jogador do Bahia dos idos de 1980, que era tipo assim um Rafael Bastos de bigodes, com a mesma habilidade em conduzir a bola e a mesma tendência de me exasperar ao segurá-la demasiadamente e não realizar nada de útil.

Assim como Rafael Bastos, Emo tinha bastante habilidade e pouca técnica. O comentarista Tostão explica muito bem a diferença entre uma coisa e outra: habilidade é o jeito pra coisa, é algo inato, quase malabarístico, que serve muito para dar caráter de espetáculo no trato e retenção da bola, no drible e outras piruetas; já a técnica é algo aprendido, depende de treino exaustivo dos fundamentos e se reflete em passes e lançamentos certos, chutes a gol eficientes, fortes ou bem colocados com ambos os pés (um de cada vez), cruzamentos milimétricos, cabeçadas certeiras, impulsão no tempo justo, bom posicionamento. O jogador que sabe aliar habilidade, técnica e preparo físico é o que chamamos craque.

Bobô foi um jogador técnico; dos melhores que já vi. O que lhe faltava em habilidade ele compensava com inteligência a serviço da técnica – não perdia uma bola de cabeça, mesmo essas rifadas pelos zagueiros ou chutadas a esmo ao ataque pelos goleiros, porque sabia, como poucos, colocar-se e saltar no momento exato, além de direcionar a bola de olhos abertos para onde bem queria; finalizava bem tanto com a direita quanto com a canhota.

Emo foi um jogador hábil; mas na hora de chutar em gol era um desastre. O negócio dele era sair com a bola de um lado para outro em diagonal cansando os adversários que o perseguiam e depois pisar na bola, parar e recuar para a defesa. Eu xinguei muito o Emo. Gente boa, mas se queria tanto ficar com a bola deveria ter sido gandula.

A grande promessa da safra atual de jogadores do Bahia é Danilo Rios. Sejamos pacientes com o jogador (meu filho não gosta muito dele). A partida que eu vi ele fazer na Fonte contra o Flu-RJ foi algo esplêndido. Tem uma boa habilidade e uma técnica que se está aprimorando – falta-lhe condicionamento físico e físico condicionado, aprimorar a técnica de marcação para não dar faltas desnecessárias e usar o pé direito para algo além de andar (a menos que ele se aprimore tanto com a canhota como Maradona que prescinda do uso do outro pé; mas é bom parar por aí na imitação a Maradona). Gostaria de apostar num outro canhoto: Tiago Neiva. Esse também pode jogar no meu baba de habilidosos e técnicos.

Outro jogador que precisa aprimorar a técnica é o zagueiro Emerson (nunca é tarde). Ele é destro, mas costuma lançar as bolas ao ataque com a canhota. Pelas minhas estatísticas particulares, nessas circunstâncias ele lança 101% dessas bolas nos pés dos adversários. Aí fica difícil.

Ávine é um caso de um jogador com alguma habilidade e sem técnica absolutamente nenhuma!!! Se estiver cara-a-cara com o goleiro, chuta inevitavelmente em cima dele; se arriscar de fora da área, sai um peteleco ou um chute sem direção. Marca o adversário olhando as pernas e não a bola; resultado: ou leva o drible fácil ou dá uma falta escandalosa e é punido. Se ele se prepara para fazer uma virada de jogo da esquerda para direita, eu, instintivamente, fecho os olhos e tapo todos os orifícios do corpo para o meu coração fugitivo não escapar por eles.

Carlos Alberto tem alguma técnica e alguma habilidade, mas, a se julgar pelos seus atos dentro e fora do campo, precisa fazer a pré-temporada no Juliano Moreira (antigamente pra casos como ele, personalidade tipo Dr. Jekyll e Mr. Hyde, se aplicava Amplictil com Fenergan e pronto). Mas um maluco no time é sempre útil. Quando todos acham que tudo está perdido, ele está vendo uma outra realidade e pode mudar o jogo a nosso favor. Quisera fosse assim mesmo…

Quanto a Fausto, eu creio que para ele basta o empenho que ele tem demonstrado que já está bom (chuta até bem de fora da área). Para ele melhorar a técnica e a habilidade só mesmo fazendo um pacto com Mefistófeles.

Humberto é um jogador curioso. Creio que ele é um pouco mais técnico que hábil, tem espírito de xerife ali no meio de campo, mas não tem pernas para acompanhar na marcação os jogadores mais rápidos. Dá a impressão de um jogador lento. Acho que pode melhorar muito com um condicionamento físico melhor e um aprimoramento da velocidade, além de treinar mais técnica de antecipação das jogadas (sim, isso é treinável!), para não ser batido facilmente.

Nonato está voltando. Não sei se isso é motivo de alegria ou de apreensão. Técnica de se colocar bem na área e empurrar a bola para o gol é inegável que ele tinha; habilidade ele não tinha nem com as palavras. Ouvi-o declarando que agora é outro homem, casou com uma goiana que colocou ele nos eixos, que ele encontrou Jesus e coisa e tal… Espero também que, nesse encontro, Jesus tenha ensinado o caminho das pedras pra ele, ou melhor, o caminho de volta às redes. Já que ele se diz renascido, deveria mudar o nome de Nonato para Renato.

Outro filme em reprise é Neto Potiguar, o retorno. Pra mim ele deixou de jogar bem quando adicionou o “potiguar” ao nome. Tudo por culpa daquele andróide do Neto Apolônio – que a terra lhe seja leve! Quando Neto era apenas Neto, infernizava as defesas se infiltrando pela esquerda, driblando, cruzando, dando passes e fazendo gols. Tinha uma boa habilidade e uma técnica incipiente. Mas aí um outro Neto escalado no time trouxe a maldição do adjetivo pátrio para ele. E Neto foi minguando para além de tataraneto. Creio que seria uma boa se agora ele voltasse a ser só Neto novamente. Quem sabe Júnior… Bobagem pura: o negócio é ele jogar bola bem e pronto! Bem que ele podia ser o Paulo César desse ano (sem hérnia de disco no final do campeonato).

Falando em adjetivo pátrio, temos mais um representante chegando às nossas hostes: é o Inho Baiano. Êta nomezinho infeliz! Ainda bem que eu não conheço o Inho Sergipano nem o Inho Alagoano, apenas o Jun”inho” Pernambucano. Tomara que o “inho” não seja sufixo diminutivo de um futebolzinho. Só o vi rapidamente num jogo do Poções contra o Vitória. Pareceu-me que o futebol dele é maior e melhor que o nome. Tomara. Um cara que joga armando o jogo para ser respeitado em campo com um nome desses tem que jogar muito futebol.

Um jogador de quem pouco se tem falado é Rogério. Sacrificado e improvisado lá na zaga, ele deu conta do recado direitinho e ainda arriscou várias subidas eficientes puxando contra-ataques em vários jogos. Bastaria uns cinco Rogérios no time que o Bahia subiria fácil para a Segundona esse ano. Ele tem técnica e habilidade na medida certa. É sério e aplicado. Não sei quanto ganha, mas ganha pouco, pois tem carregado o time nas costas. Não, não sou o empresário nem parente dele.

Quando se fala em técnica de um jogador eu fico sempre pensando no papel exatamente do técnico do time. Não se deve pensar que o papel de aprimoramento da técnica individual dos jogadores é papel exclusivo dos técnicos das divisões de base. O aprimoramento técnico deve ser uma questão contínua tanto do treinador dos profissionais quanto dos jogadores individualmente, até pendurarem as chuteiras. Colocar os caras para treinar exaustivamente cobranças de faltas, pênaltis, chutes ao paredão com a perna mais fraca, cruzamentos com a bola em movimento (os nossos laterais, diferentemente dos europeus, têm que parar a bola antes de cruzar, dando chance da defesa chegar mais junto na marcação), cobrança de arremesso lateral…

Esse fundamento merece um capítulo à parte, pois somos péssimos nisso, por falta de treino provavelmente. Uma jogada que é feita com as mãos e que devia ter um alto índice de precisão acaba resultando em algo totalmente diverso: parece que nossos jogadores se especializam em cobrar laterais ou nos pés dos adversários ou na fogueira, para queimar os companheiros, pois colocam a bola em circunstâncias de difícil domínio e no mais das vezes num arremesso paralelo, bem junto à linha lateral. Nunca entendi porque os técnicos não criam jogadas para se beneficiarem dos laterais (o único que vi fazer isso foi Falcão, quando treinou a Seleção – mas parece que ele se esqueceu de treinar as outras coisas e foi defenestrado). Além do mais, a cobrança de lateral é uma jogada na qual não há impedimento. É raro ver algum time se aproveitando sistematicamente disso, cobrando rápido e deslocando um jogador para além da linha de defesa do adversário.

Também nunca entendi porque os nossos técnicos não conseguem passar para os jogadores mandamentos básicos do futebol em questões de posicionamento. Exemplo: é absolutamente obrigatório ter pelo menos um jogador do nosso time na meia-lua para pegar rebotes em situações de cruzamentos sobre nossa área ou cruzamentos nossos sobre a área do adversário. Parece coisa simples, mas o que eu mais observo em nossos jogos é sempre a presença de jogadores adversários nessa região e um deserto dos nossos, colocando-nos sempre em apuros. Custa designar um jogador para ficar sempre ali naquela região crucial onde vão parar boa parte das rebatidas de bola oriundas da área? Parece que custa, porque o que mais tenho visto no Bahia é uma jogada ensaiada de falta em que se gastam 03 jogadoes em torno da bola para um dar um toquinho, o outro dar uma pisadinha na bola e o outro vir e chutar para o gol. Foi só fazer um gol desse jeito que passamos a realizar isso sistematicamente. E lá na área ou na meia-lua… ninguém.

Já que depois dos rodeios todos eu cheguei ao técnico, vou falar de Arturzinho, ou Frogface (cara-de-sapo), como alguns torcedores o denominam. Eu tenho opiniões conflitantes com relação a ele. Ele é um bom técnico. Ele é um técnico atrapalhado. Ele tem coragem de mexer no time no primeiro tempo. Ele é um destemperado e troca o jogador só porque errou um passe. Ele arma o time ofensivamente. Ele recua o time para garantir resultado. Ele é pirracento. Ele atende aos apelos da torcida. Ele não ganhou nada. Ele tem uma estatística favorável desde que assumiu o Bahia. Ele muda muito o time. Ele tenta adequar a escalação do time ao adversário para surpreender. Enfim, Arturzinho é um poço de contradições e paradoxos. Eu gosto de Arturzinho. Eu não gosto de Arturzinho. Deu pra entender?

O que mais me incomodou em Arturzinho ultimamente foi a declaração que ele reiteradamente deu nas rádios, a respeito do jogo contra o Flu-RJ dizendo que “havia 5 jogadores do Bahia que nunca tinham jogado no Maracanã!” Aaaahhh!! Que coisa aterrorizante. O monstro do Maracanã, o Bicho-Papão da Tijuca iria atacar os jogadores que desconheciam aquele local inóspito e alienígena. Todos iriam temer morrer eletrocutados ao pisar naquele terreno, ou afundar em areia movediça, sei lá. Ora, meu senhor, me faça uma vitamina! Dá medo é jogar naquele campo lunar de Juazeiro. Quantos jogadores do Bahia será que já jogaram em Arapiraca? Isso é que pode ser problemático e não o Maracanã. Esse é um tipo de declaração que traz subliminarmente todo um injustificado sentimento de inferioridade. Os cariocas construíram esse mito de “o gigante do Maracan㔠que perdurou durante um bom tempo, e hoje não faz mais nenhum sentido, mas o Sr. Arthurzinho continua sob o efeito dessa balela e, pior, incutindo isso nas cabeças dos nossos jogadores. O Bahia ganhou a taça Brasil no Maracanã, Arturzinho. Os jogadores daquele time também eram jogadores mais acostumados aos gramados dos lados de cá, mas sabiam que a grama tem o mesmo gosto em qualquer lugar.

Ainda assim, eu quero desejar muita sorte e felicidade ao técnico Arturzinho e ao grupo de jogadores que a nossa “afortunada” diretoria conseguir montar e entregar ao técnico para enfrentar a árdua missão de nos devolver à Série B. Digo isso de peito aberto porque estou EMO. Acabei de completar 50 anos e decidi deixar de lado qualquer traço de rancor ou ódio, que o fim está mais próximo que o início. Decidi amolecer meu coração de pedra e distribuir bem-aventuranças. Optei por suprimir as picuinhas íntimas e cósmicas que tenho com o grupo diretivo do Bahia e pensar no bem maior do clube e da imensa torcida tricolorida. Estou achando tudo lindo. Uma beleza só.

Todo esse processo EMO começou quando, há poucos dias, na minha cruzada olímpica pela liberdade de expressão e contra a censura em todos os níveis, baixei na internet o livro com a biografia não autorizada de Roberto Carlos, que inexplicavelmente está sendo recolhido das livrarias, e li o episódio em que ele, na infância, teve a perna amputada após ser esmagada por um trem. E me vi emocionado ao ler que ele quando chegou ao hospital teve a única preocupação de pedir ao médico para ter cuidado em não manchar os sapatos novos que ele, Roberto, estava usando. Aí, entre uma lágrima de crocodilo e outra, cantarolei a música “O Divã”, em que ele narra essa passagem de sua vida (“essas recordações me matam…”) e me lembrei que por causa dessa música foi dado o nome ao zagueiro Odivan e que ele bem que podia vir para o Bahia fazer dupla de zaga com Júnior Baiano. Perceberam a associação de idéias? Coisa muito EMO.

Não sei até quando vai durar essa minha fase. Não posso dizer aos jogadores que irei apoiá-los na Fonte, pois ando muito lacrimejante e nas vezes que estive lá esse ano eles fizeram um pacto de não jogar nada na minha presença. Ninguém me convence que aquelas redes da Fonte, tipo trave de futebol de botão da Estrela, não dão azar… A gente nunca sabe se a bola entrou mesmo, porque ela bate na rede e volta. Coisa mais subdesenvolvida aquelas redes e seus suportes… Bobô: se quiser, eu faço uma rifa, um Raid das Moças para ajudar a Sudesb a trocar aquelas redes. É só pedir. Assim, acho que vou ficar me emocionando em casa mesmo. Quando essa fase emocional passar, EMO para mim provavelmente vai significar “eu me odeio”.

* EMO – abreviação do inglês emotional hard core. Pessoas (geralmente jovens e não cinqüentenárias como eu) que curtem música EMOcore – um pouco parecida com punk, mas com letras sentimentais. São muito emocionais, chorando a todo momento. Muita gente acha uma viadagem esse comportamento, mas há quem ache isso melhor que votar no PFL ou ouvir Hip Hop.

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