Nos tempos de faculdade, havia uma matéria cujo nome esqueci, ministrada por uma professora da qual não lembro o nome, que marcou minha vida acadêmica.
Sou graduado em administração e essa matéria fazia parte do meio do currículo, lá pro quarto ou quinto semestre e o que me marcou nela não foi tanto o que era passado no quadro ou na fala da professora, mas sim na discussão que havia entre alguns colegas de turma e a professora. O motivo das discussões, muitas vezes acaloradas, era mais ou menos o seguinte:
A matéria tratava do estudo de conceitos, tais como valor, mais-valia, meios de produção, e os colegas que discutiam com a professora eram contra esse tipo de discussão. Um deles se destacava, Fabrício, marxista daqueles que realmente leu o barbudo. Sua postura diante da professora, e da mizera da matéria, que era obrigatória para seguirmos adiante, era a seguinte: ele se recusava a discutir política econômica ou estratégia das empresas para atribuir valor a seus produtos, muito menos gastava saliva noutras matérias para discutir se um empregado é motivado apenas pela dupla cobrança-recompensa financeira.
Por discordar do sistema político e econômico do país, meu brother marxista se propunha a discutir o conceito de Economia Política, que segundo um trecho devidamente chupado da Wikipédia, é utilizado comumente para referir-se a estudos interdisciplinares que se apóiam na economia, sociologia, direito e ciências políticas para entender como as instituições e os contornos políticos influenciam a conduta dos mercados. Dentro da ciência política, o termo se refere principalmente às teorias liberais e marxistas, que estudam as relações entre a economia e o poder político dentro dos Estados.
A formulação de um novo sistema político e, por tabela, econômico, era o único modo que Fabrício via para se tratar das mazelas do país. Para ele, a mudança de ministros, presidentes, moeda ou sistema cambial eram esforços inúteis haja vista que se tratava apenas de substituir as peças de uma engrenagem mal-construída, ineficiente e viciada. Essa conclusão de Fabrício e não necessariamente suas idéias marxistas ficaram em minha mente até hoje, fazendo-me esquecer completamente o conteúdo programático da matéria.
Cheguei à conclusão similar a respeito do Esporte Clube Bahia. Há algum tempo percebi que não adianta discutir time em campo, escalação de jogadores, erros de arbitragem ou a contratação de fulano medalhão ou beltrano desconhecido.
Falar de 4-4-2, 3-5-2 ou 4-3-1-2 não fará meu time voltar a ser campeão.
Pedir a demissão de diretor, gerente, superintendente, supervisor, coordenador, encarregado, chefe ou mesmo Office-boy de futebol não tornará o Bahia um clube respeitado novamente.
A discussão que envolve o futuro do Bahia não pode se limitada ao campo nem ao banco de reservas.
Recuso-me a gastar uma linha de texto especulando se Anderson Barros é um apêndice de Angioni. Se o cara que tem vários ipissilones no nome pode ser dirigente e presidente do conselho ao mesmo tempo. Nem mesmo creio que nomear um substituto ao atual garoto propaganda da Johnnie Walker & Sons vá resolver algo.
A discussão sobre o Esporte Clube Bahia não pode ser reduzida apenas ao Bahea que a torcida vê entrar em campo. Tal como a melhora das condições de vida da população não se resume à criação de bolsas-isso-ou-aquilo, para que a bola entre (lá neles) adversários com maior freqüência do que entra (lá neles) no time da Ribeira, será necessário muito mais que usar roupa de marca ou andar 60km de buzu emprestado pra pegar um baba no CT novo.
Ou a torcida se propõe a, mais do que nunca, discutir formas de se reformular o Esporte Clube Bahia, com ganhos de patrimônio (hoje reduzido ao Fazendão e seus símbolos), reforma política (estatuto, conselho e direção) e atração de sócios e parceiros dispostos a se beneficiar por tirar o Clube das mãos de seus atuais posseiros, ou o caminho do Bahia será igual ao do Brasil: todos reconhecem seu potencial e riqueza, mas ele nunca será o que poderia ser.
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