Passada a etapa de classificação para a fase de grupos da Libertadores e tendo o Bahia alcançado as finais do Baiano, cumprindo bem a obrigação de vencer em casa na primeira partida, creio ser um bom momento para avaliar a performance de nosso treinador, sem nos deixar influenciar pelo resultado do campeonato local. Coisa aliás que ele mesmo fez na coletiva pós-jogo contra o Boston River, do Uruguai.
Segundo Ceni, a partida que decidiu nossa permanência na elite do futebol sulamericano não durou os noventa minutos habituais e, sim catorze meses, referindo-se ao tempo decorrido desde o espetacular triunfo contra o Atlético-MG, em dezembro de 2023, que selou nossa permanência na série A em 2024 e abriu caminho para a conquista de uma vaga na Libertadores da América em 2025.
Quisesse ser mais preciso, o ex-goleiro do São Paulo poderia ter se referido a um tempo maior, iniciando sua contagem em setembro/2023 quando ele assumiu o tricolor, com a missão de nos livrar do iminente rebaixamento, o que marcaria de maneira negativa a entrada do grupo City na gestão do Bahia. De fato, ao olharmos para trás é inegável a evolução do time e muito contribuiu para isso a obstinação de Ceni, o foco no trabalho, nas repetições de situações de jogo e sua experiência como ex-jogador, que disputou e venceu as mais importantes competições mundiais, e em várias delas escolhido como melhor jogador. Na minha opinião, às vezes, até atrapalha um pouco o fato dele ter sido um jogador fora de série, pois ele acaba por exigir comportamento semelhante de seus comandados. E, como sabemos todos, nada mais diferente que dois seres humanos…
Quem tiver curiosidade de pesquisar aqui no site do www.ecbahia.com vai perceber que, quando Ceni foi contratado, manifestei ressalvas ao comportamento dele quando geriu outros grupos. Mas, não dá para desconhecer que ele vem gerindo muito bem o grupo de jogadores do tricolor. O testemunho de Everaldo, elogiando o já ex-treinador na chegada ao Fluminense e a própria lembrança de Ceni de jogadores que não estão mais no grupo, como ele fez com Thaciano na comemoração do triunfo sobre o Boston River, demonstram que o ex-goleiro amadureceu e colhe os frutos.
Além disso, é perceptível que ele buscou entrosamento com o corpo técnico fixo do grupo City e vem se aproveitando dessa estrutura para melhorar seu trabalho. É visível como o Bahia melhorou seu posicionamento defensivo e ofensivo, no caso de bolas aéreas e de bolas paradas, por exemplo. Reflexo de trabalho em campo, mas não só, a fisiologia, a análise tática de posicionamentos, dentre outros, também influenciam nessa evolução. Tivemos erros ao longo desses dezoito meses de Ceni? Tivemos. Não só dele, mas do grupo City também. E ainda temos pontos de melhoria, mas isso não pode significar desmerecer os avanços.
Sempre vai ter quem diga que, “com esse elenco até eu” seria bom técnico. Pode ser. Mas, pode não ser também. A história do futebol está cheia de “dream teams” que fracassaram e de técnicos de jogadores estrelados que não conseguem traduzir a competência de seus jogadores em bons resultados e títulos. Devo reconhecer que também temos exemplos de pangarés bem sucedidos. Afinal, é futebol, não é ciência exata!
Outra demonstração de amadurecimento de Rogério Ceni pode ser vista na forma como tem encarado o Campeonato Baiano e a Copa do Nordeste. Ele entendeu que parcela relevante da torcida e a imprensa valorizam essas competições, nem tanto pelo que elas significam, mas por conta das rivalidades. Visivelmente, não se deixou contaminar em 2025 pela forma de gestão do grupo City, que avalia o trabalho ao longo da temporada. Ele entendeu a importância de ganhar. E de discursar deixando clara a intenção de ganhar. Faltam-lhe ainda títulos no comando do Bahia para coroar essa evolução.
Por fim, para não dizerem que só falei de flores. Um pouco de espinho. Ceni precisa aprender a fazer substituições com maior agilidade. Ele retarda muito as trocas, exigindo o máximo de cada jogador em campo. Ficamos com um time cansado e o treinador corre o risco de ter sua leitura de jogo prejudicada por ele mesmo, ao perder minutos preciosos no momento das alterações.
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