Às vezes, falta-me imaginação para entender essa relação do torcedor Tricolor com a “prata de casa”. O menino que vem da Base não chega pronto para entrar no time de cima e jogar o que sabe. Longe disso, necessitará conviver com os “veteranos” e começar entrando nos jogos até perder a timidez com seus companheiros, bem como com a torcida e, ainda assim, passará um bom tempo até que ganhe total confiança em si.
Lembro-me que Madson teve tanta dificuldade para jogar no Bahia que acabou indo embora e foi titular por onde passou. Daniel Alves; o Bahia foi festejado pelo torcedor quando o vendeu para o Sevilla da Espanha. Cícero era vaiado na maioria das vezes aqui, e saiu por míseros R$60 mil para fazer sucesso no Sudeste.
Matheus Bahia é um lateral esquerdo que já provou ser capaz, mas está na reserva porque a torcida o tem na mira pronta para o vaiar no primeiro passe errado que Matheus venha a dar. Provavelmente sairá e fará muito sucesso – anotem aí.
Juninho Capixaba foi um outro caso emblemático na relação com o torcedor. Sob o comando de um treinador de ponta será um grande ala porque potencial técnico ele tem. Mas aqui a paciência foi zero com ele.
Patrick, que também passou pela Base Tricolor, foi promovido e é titular. A torcida o critica muito — o jogador só tem 22 anos de idade. É titular e assim continuará porque é disciplinado taticamente e na posição está entre os melhores do Brasil, haja vista que é titular com todos os técnicos que passam pelo Bahia.
Cito apenas alguns casos, mas há outros que sofreram do mesmo mal no passado. Beijoca saiu de passe livre, à época, e foi fazer um sucesso estrondoso em Fortaleza. Precisou ser assim para o Bahia trazê-lo de volta e se tornar ídolo eterno da torcida do Esquadrão. Pode até ser que o torcedor não tenha esse sentimento de forma consciente, mas é assim que ele age com os egressos das chamadas divisões inferiores.
Espero que os torcedores compreendam e tenham paciência com Marcelo Ryan, Gregory, Everton, André, Miquéias, Cuadrado e, principalmente, com o titular da lateral direita, Borel, que não está desenvolvendo todo seu potencial porque joga com medo da torcida. O Bahia e seu torcedor ainda sentem muita falta de Nino Paraíba – uma decisão infeliz da diretoria que jamais compreenderei, exceto se foi por vontade do jogador.
No caso Borel, falo sobre a preservação de um patrimônio muito valoroso. Porém, pelas necessidades do Bahia numa série B dificílima, acho até que o novo treinador precisaria poupá-lo de um desgaste desnecessário com torcida e imprensa.
Refletindo sobre o futuro Bahia em mãos de empresários especializados em futebol/negócio, chego à conclusão que essa impaciência do torcedor será disciplinada no futuro próximo. A filosofia será europeia e com certeza não se deixará levar pela pressão externa. O torcedor vai poder cobrar? Claro que vai, mas nas arquibancadas que é onde ele exerce direitos adquiridos.
Filosofia de trabalho que será exercida terá como modelo um sistema de jogo — é que penso com base no exemplo do City de Guardiola, e vou mais adiante; treinador aqui terá também o status de Manager.
O capital privado, principalmente o europeu, não aceita ingerências e trata o futebol como empresa que de fato e de direito são as S/A. É bom lembrar que 90% do Bahia pertencerá ao Group City. Só eles determinarão o que será melhor para o Bahia, pois, não estariam investindo tanto dinheiro se não fosse para fazer a máquina empresarial trabalhar para obter lucros.
É esse capitalismo que deve preencher a lacuna entre o slogan “Nasceu para Vencer” e o que acontece atualmente. É anormal o Bahia perder jogos na Fonte Nova a não ser por obra do acaso, porém, ocorre que ser derrotado bisonhamente está se tornando rotina. Daí é que clamo por uma Base de Formação mais eficiente e prestigiada como fonte vital porque só assim o Esquadrão ressurgirá.
ENDERSON MOREIRA
Para escalar a montanha não basta ser somente um guia, é preciso conhecer a montanha. Assim entendo porque o Bahia trouxe Enderson de volta. É claro que uma troca de treinador em plena competição nem sempre dá certo. Porém, alguma coisa precisaria ser feita, e, apesar da similaridade de estilos entre Enderson e Guto, achei uma troca sensata.
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