O Bahia tenta se encaixar em campo, mas ainda tropeça em organização tática e na falta de entrosamento. Achar o time ideal, eis a questão. Normais essas dificuldades em início de temporada causado por vários fatores, inclusive, jogadores novatos objeto de uma nova aposta. Um problema, sem dúvidas, que envolve um planejamento com mais acuidade. Ou a falta dele.
Nem dá para criticar o time e nem o treinador, por enquanto, se não há um camisa 10 de ofício para pensar, cadenciar, dar velocidade, enfim, dar o ritmo ao time dentro de campo. Como exemplo posso citar estilos similares aos de Eliseu Godoy, Fito Neves e Léo Oliveira que hoje se encaixariam perfeitamente na maior necessidade técnica e tática do Tricolor.
No recente Bavi o jogo foi mais ofensivo por parte do rival porque havia um meia legítimo – Jadson – que criava o lance futuro no meio para quando as chances surgissem essa bola fosse passada na “bandeja” ao atacante, e disso não se valeu mais vezes o Vitória porque a qualidade do lado de lá é mais escassa que do lado de cá.
Os treinadores atualmente acham que esse “meia” específico perdeu espaço porque o futebol exige uma dinâmica diferente onde as respectivas figuras do “cabeça de área” e o “10” é atualmente uma fusão fictícia na cabeça desses treinadores e, cujo produto, reflete o volante que faz funções como desarmar e armar. Ou seja, o volante que marca, passa, sai para o jogo e chega à frente para finalizar. Ele apenas tem de fazer essa função, ser habilidoso tecnicamente “não” importa.
Mas como não deve ficar vulnerável o sistema defensivo, aí os treinadores enchem o time de volantes e dizem que todos são meias, para justificar o meio. Na verdade, o que eles fazem é abdicar da boa técnica do jogo e defender seus empregos povoando com pouca habilidade o meio de campo. O que é a chamada “duas linhas de quatro” senão o 4-4-2? E fica mais claro ainda o assassinato da técnica quando o treinador resolve fazer um 4-5-1 na casa do adversário, ou marcar um gol em casa e recuar seu time usando esse sistema.
O futebol só fica técnico quando há um meia tradicional porque nesse caso usa-se o sistema 4-3-3 – dois volantes e um meia – que garante a variação para o 4-2-4 sempre que necessário. Mas no futebol de hoje o medo é maior que o dever de dar espetáculo e dane-se a leveza do dom que fez do Brasil a maior escola técnica de futebol do mundo, ao qual toda a Europa se curvava tentando aprender, e conseguiu. Agora é ao contrário, a gente viola nossa natural aptidão, tenta imitar a Europa, e o faz da pior maneira possível.
– Vai demorar meio Século para o Brasil voltar a ser campeão mundial.
Pior é que a imprensa cria mitos que são levados a sério pelos torcedores, como por exemplo dizer que a tradição do Bahia é de time reativo – que joga no contra-ataque. Busquem o Bahia dos anos 60 e cheguem até o final dos anos 90 e verão tudo ao contrário do que falam. Na verdade, isso tem muito a ver com a filosofia dos treinadores e não do clube – raça sim, é uma tradição e isso faz muita falta.
Falta também aproveitar a Base acreditando no potencial dos meninos. É nesse quesito que o problema maior existe desde quando empresários “parceiros” sugeriram à diretoria do Bahia criar o famigerado sub-23 composto por jogadores de idade estourada e estavam sob tutela do empresário de futebol. Tinham que arranjar uma vitrine. Ofereciam um percentual “merreca” à barriga de aluguel e ficavam na zona de conforto aguardando o “estouro da boiada” – ficou bem evidente isso, embora negado.
Com isso a Base de Formação foi extinta e depois reativada palidamente, sem maiores investimentos. Agora com a extinção do sub-23 espero que haja um investimento maciço dentro do possível. Aliás, fico até duvidando do sucesso quando vejo os dirigentes “geniais” do Bahia engolir um “elefante” do tamanho de Claysson e se engasgar com um “mosquito” do tamanho de Raí Soares, uma pechincha de 350 mil.
Em respeito aos profissionais não quero citar nomes, mas é cada bonde que chega no Bahia para esta temporada que só um milagre o levará à série A. Enquanto isso um diamante já trabalhado, que só precisava ser um pouco mais lapidado, escapa pela inabilidade total do dirigente ante os olhos atônitos do torcedor, completamente desiludido, com a feição disforme que estão dando ao Bahia.
Posso estar enganado, mas aguarde leitor, para ver onde o Raí vai chegar. Alegaram falta de dinheiro. Por que então não apostar no sub 20 ao invés de trazer jogadores meia-boca de custo alto? A Lei Pelé tem lá os seus valores e nem entro no mérito. Mas se existe uma classe que hoje manda dentro dos clubes de futebol e foi altamente beneficiada, essa foi a dos empresários e agentes FIFA. Os clubes viraram mendigos reféns de ricos empresários do futebol. Enquanto isso acontece o Bahia só se endivida mais e o buraco só se aprofunda.
EDUCAÇÃO REFLETE O MESTRE
Está nas redes sociais um vídeo que mostra o vestiário usado pelo Bahia pós jogo no Barradão. Parece um cativeiro abandonado pelos seus ocupantes. Recipientes de refrigerantes, caixas de pizzas com restos, pias sujas, papel higiênico, e até uns envelopes com algum tipo de lenço higiênico com a marca do Bahia, lacrados, tudo espalhado pelo chão e em cima de mesas e bancadas.
É chocante não só pela falta de educação, mas, principalmente, porque reflete o Bahia de hoje dentro e fora do estádio. O exemplo de educação, bem como organizacional, começa acima, em quem comanda respectivamente no primeiro e segundo escalões. Bastaria uma única voz sensata de liderança para impedir uma desordem daquelas. Triste Bahia!
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