Peço desculpas antecipadamente aos leitores desta coluna por tratar, a seguir, de um assunto que me incomodou demasiadamente, e, que foge de certo modo, à linha editorial do ecbahia.com que é pertinente ao E.C. Bahia, conquanto sejamos um veículo informativo independente. Vamos ao fato objetivo.
Não só por eu ser amigo pessoal de Manoel Serapião Filho, mas por ser um orgulhoso bairrista, é que tomo sua defesa para não permitir as distorções de quem não conhece seus limites.
A CBF, recentemente, passou a publicar em seu site os pareceres da Ouvidoria sobre as reclamações dos clubes, acerca de decisões de arbitragem que lhes teriam sido prejudiciais. Louve-se a decisão da CBF, pois, a transparência é o único caminho que conduz à dignidade uma entidade ética.
Parabéns à CBF e ao seu presidente, Ednaldo Rodrigues — é de transparência que o futebol brasileiro precisa.
Pois bem, o assunto a seguir, relacionado com o indicado órgão – Ouvidoria de Arbitragem –, é a publicação de artigo publicado em página de uma rede social, pelo Sr. Sandro Meira Ricci, comentarista de arbitragem da Rede Globo, fazendo crítica à CBF pelo fato de o Ouvidor da entidade prestar instrução aos árbitros e, ao mesmo tempo, analisar suas atuações.
Para o comentarista a situação é “inaceitável” e a CBF deve afastar, imediatamente o Ouvidor de suas atividades… pasmem. Ainda que houvesse algum conflito sobre o assunto, não é um — talvez recalcado — comentarista de arbitragem de uma emissora que deve determinar tal evento.
A forma como o Sr. Sandro Ricci se manifesta possibilita duas inoportunas inferências:
- a) determinar as ações da CBF, o que seria pretensão exacerbada
- b) ou questão de ordem pessoal com o Sr. Manoel Serapião.
A surpresa da matéria, seja por uma ou outra razão, é ainda maior porque a Ouvidoria de Arbitragem da CBF sempre foi ocupada por instrutores, que cumularam as correspondentes atividades, sem qualquer percalço ou censura, inclusive quando o Sr. Sandro Meira Ricci ainda era árbitro e recebia instruções do Ouvidor.
De outro passo vale dizer que, pela ótica deste colunista, não há conflito de qualquer natureza, senão perfeita sintonia da função de Ouvidor com a de instrutor. Realmente, pois se a Ouvidoria diz dos acertos e erros dos árbitros, nada mais adequado que as percepções técnicas do Ouvidor sejam partilhadas com os árbitros.
O mais importante de tudo, todavia, é a forma como as análises das reclamações dos clubes são feitas pela Ouvidoria. Sabe-se, a partir do momento em que o atual Presidente da CBF, o também baiano Ednaldo Rodrigues, determinou que os correspondentes pareceres fossem publicados no portal da CBF, o que revela trabalho com independência e imparcialidade, pois, tem reconhecido os erros e acertos dos árbitros por meio de argumentos técnicos consistentes.
Consistência essa que passou a ser motivo e uma ótima forma de instruir o público em geral sobre as nuances das regras do futebol. A independência e correção dos pareceres fortalece a CBF como instituição ética, que não obstante, segue em evolução buscando cada vez mais o aperfeiçoamento dos árbitros de campo e operadores do VAR.
Afora tudo isto, como amigo pessoal de Manoel Serapião Filho, e, conforme ressaltei na coluna anterior qualificando sua formação como advogado, magistrado federal, ex-árbitro de futebol internacional da Boa Terra, sei que ele é pessoa de reputação ilibada e de reconhecida capacidade profissional em todas as atividades que desenvolve, especialmente no campo da arbitragem.
Até mesmo por ter sido o primeiro e único brasileiro, após mais de um Século de existência da International Football Association Board – IFAB, a integrar a entidade como membro do Painel Técnico Consultivo, onde apresentou o projeto que revolucionou a arbitragem mundial –VAR — o que muito orgulha o futebol brasileiro e, especialmente, a Bahia como um todo.
Por tais qualidades, ainda quando não houvesse compatibilidade entre as atribuições de Ouvidor e de instrutor, o que não é o caso, porquanto as normas de instituição da Ouvidoria o autorizam, essa incompatibilidade haveria de ser ajustada, pois a arbitragem do Brasil não pode ser privada do conhecimento de nosso querido Manoel Serapião, baiano, para orgulho nosso.
Portanto, esse artigo é fruto de minha indignação a tão infeliz pronunciamento do comentarista Sandro Ricci, valendo ser dito que Serapião certamente se surpreenderá com minha iniciativa, que aliás, seria a única que eu poderia fazer, em contraposição a quem só enxerga o negativo.
À CBF, cumpre o dever de aquilatar devidamente a opinião do comentarista, considerando, inclusive, seu suposto objetivo e, mais do que isto, fincando rígida fronteira para evitar invasões indevidas em sua administração, para que haja respeito à sua independência institucional.
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