Estava observando, neste carnaval, o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Sou admirador da Mangueira. Mas, a observação que importa e que eu gostaria aqui de registrar é que não é mole botar uma escola na avenida. Não basta um bom samba, uma bateria magnífica, mestre-sala e porta-bandeiras fantásticos, fantasias luxuosas ou alegorias impressionantes. Nem mesmo um conjunto impecável de passistas. Tem que ter tudo isso junto e mais organização, estratégia e competência, tudo no tempo certo, sem erros ou vacilos. Tem que ter isso tudo, mas, para vencer de verdade, tem que conquistar a avenida. Contar com o apoio da avenida é o diferencial. Esse é o algo mais. É o que distingue a verdadeira campeã das meras participantes do desfile.
Não pude deixar de fazer a analogia com um clube de futebol. Guardadas as devidas proporções, as coisas acontecem ou, pelo menos, deveriam acontecer do mesmo jeito. Assim como a uma escola de samba não bastam apenas bons passistas e boa bateria, a um clube de futebol não bastam apenas bom técnico e bons jogadores. Tem que ter boas condições de trabalho, equipamentos modernos e adequados de treinamento e preparação física, um bom departamento médico, uma divisão de base que funcione e seja capaz de gerar atletas de qualidade para a equipe profissional. E precisa também, além de tudo isso, de organização, estratégia e competência, tudo também no tempo certo e sem vacilos. E, é claro, precisa, pelo menos, pagar em dia salários de atletas, funcionários e comissão técnica.
Enfim, tem que ter tudo isso, mas, assim como nas escolas de samba, para vencer de verdade no futebol é preciso conquistar a avenida. Ou seja, contar com o apoio da torcida. Esse é o diferencial. É o algo mais. É o que distingue o verdadeiro clube dos meros circunstantes do cenário futebolístico. Estar na primeira ou na segunda divisão, por exemplo, é uma circunstância, um desvio de rota que pode ser corrigido. Já ser pequeno de espírito é outra coisa, não tem quem dê jeito. Espero que não tomem tais palavras como arrogância, talvez fruto das duas estrelas que o meu Bahia tem em cima do escudo. Na verdade, é mais pelo que essas estrelas traduzem: o espírito de campeão, o clube grande e glorioso, a imensa, fiel e orgulhosa torcida, acostumada a encher estádios.
Por isso, cabe olhar com atenção este momento novo que vive o Esporte Clube Bahia. Não porque o time esteja vencendo e lidere o campeonato. Isso é circunstância e pode até mudar. Mais do que os resultados do time em campo, o que tem mesmo renovado as esperanças dos tricolores é ver que estão sendo recuperados os campos de treinamento do Fazendão, a hotelaria das divisões de base, a concentração dos profissionais, as instalações de fisicultura. É ver que as coisas começam a se organizar, que existe uma estrutura de comando no Bahia, que pela primeira vez em muitos anos existem profissionais cuidando de diversos aspectos da vida do clube.
Mas, cá para nós, o que mais empolga mesmo é ver que o Bahia, após longo e tenebroso inverno, vive agora um momento desmaracajado da sua história. Isso, estejam certos, não é pouca coisa. Conforta qualquer tricolor constatar que o nome de Paulo Maracajá quando aparece na imprensa, hoje em dia, é no noticiário político-policial, como alvo de acusações por parte do Ministério Público ou de derrotas acachapantes em processo eleitoral do Conselho de Contas dos Municípios colegiado no qual, aliás, não se sabe por que cargas dágua foi parar personagem com currículo tão conturbado.
Pode até não dar em nada, mas a verdade é que não tem preço ver Paulo Maracajá, agora de eternidade revogada, não mais ser perguntado sobre o Bahia e só ter que abrir a boca, por ora, para responder sobre acusações de enriquecimento ilícito. Isso, sinceramente, não tem Mastercard que pague…
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