Dando o tom

Certa feita, o maestro Tom Jobim, ao ser questionado sobre se preferia viver nos Estados Unidos ou no Brasil, saiu-se com essa pérola: “Morar em Nova Iorque é bom, mas é uma merda; morar no Rio é uma merda, mas é bom!”.

Essas palavras me ocorreram por analogia instantaneamente ao ver o resultado de uma interessante enquete que está rolando aqui no ecbahia.com.br, perguntando se a torcida do Bahia está disposta a pagar o preço de permanecer na Terceirona para, em troca, ter a saída dos velhos cardeais do comando dos destinos do clube.

Geralmente eu costumo tomar de goleada nas respostas às enquetes, pois meus posicionamentos costumam estar, no mais das vezes, do lado da minoria perdedora. Você acha que o Bahia tem time para subir esse ano? Você confia no elenco? Você acha que Hip Hop é música? Você acha que Clodovil tem plataforma ou usa plataforma? Para perguntas simuladas como essas, eu sempre cravo a resposta que colide frontalmente contra a opinião da maioria.

Não foi o que aconteceu dessa vez. Ao ver a pergunta estampada no canto direito do meu monitor, refleti por um segundo e cliquei: sim, eu prefiro que o Bahia continue na Terceirona (ou na possibilidade de chegarmos até ela) se for o preço para nos livrarmos desse entulho autoritário que insiste em não aceitar que a Terra gira em torno do Sol. Eles parecem querer insistir em nos convencer que o Universo foi feito em apenas seis dias e que o Criador, no sétimo dia, estafado, descansou e ficou ouvindo, no radinho de pilha, um jogo do Bahia no Campo da Graça. Pois, para minha surpresa, ao ver o resultado parcial, constatei que a minha opção também tinha sido a de quase 82% dos tricolores que responderam à enquete até aquele momento, num total de mais de 5000 respostas!

Ontem eu ouvi na Rádio Excelsior, no programa Nação Tricolor, de Dito Lopes, uma declaração patética do presidente Petrônio Barradas, em tom quase apoplético, dizendo que a administração dele cometeu apenas alguns equívocos, pois quis consertar todos os problemas do Bahia ao mesmo tempo; que não deu a devida prioridade ao time de futebol profissional, mas que, de agora até a próxima glaciação ou até o cumprimento do Protocolo de Kioto pelos Estados Unidos, ele e seu grupo de fabulosos administradores iriam dar o encaminhamento apropriado para resolver todos os nossos problemas. Eu lhes digo uma coisa meus pacientes leitores: na empresa em que eu trabalho e em qualquer outra empresa medianamente séria, esse senhor delirante e sua equipe já teriam sido demitidos, há muito, por “desempenho insuficiente” (eufemismo para incompetência).

Os tricolores dos mais variados calibres já estão se movimentando para mostrar sua insatisfação e conclamar esse pessoal a ter o mínimo de dignidade e sair pela porta da frente. Eu já assinei o manifesto postado por Mário Kertész em seu site da Rádio Metrópole, pedindo a devolução do nosso Bahia. Assinarei tantos quantos apareçam com esse intuito. Se tivéssemos a possibilidade de impeachment por ineficiência, eles já estavam enquadrados. Mas Petrônio está ameaçando cumprir o mandato até 2008. Eu não sei se minhas coronárias irão suportar. E o pior é que não consigo ficar indiferente. Nem tampouco consigo torcer contra o meu time. Mas se eles me incomodam com sua permanência, vou continuar tentando incomodá-los aqui com minha indignação.

Atendendo ao aforisma que diz que quando falamos besteira devemos ser breves, serei. E, tomando a liberdade de parafrasear Tom Jobim, deixo-lhes a seguinte e óbvia mensagem:

Disputar a Segundona com Petrônio pode parecer bom, mas vai ser uma merda; disputar a Terceirona sem Petrônio pode parecer uma merda, mas vai ser bom.