Em cargos públicos ou privados, a pressão exercida sobre os executivos por melhores resultados nas empresas pode torná-los frágeis perante o seu eleitorado, ou mais fortes, a depender das suas convicções. A convicção é fruto de uma consciência limpa que proporciona ao homem a grandeza de entender com precisão os seus conceitos, o momento de uma decisão, as emoções e os interesses comuns daqueles que exercem essa pressão.
Por outro lado, nem sempre as pessoas que pressionam estão dispostas a assumir o ônus ou a responsabilidade, como queira, de equacionar vermelhos históricos de quaisquer empresas e, principalmente, clubes de futebol. Ser pedra é muito fácil e divertido, ser vidraça é sofrido, incômodo, e poucos estão dispostos a isso.
Parece-me que o presidente Marcelo Filho se encaixa nesses exemplos acima. Tem enfrentado ondas difíceis de serem surfadas e tornou-se a maior vidraça da cidade. Entretanto, parece convicto dos seus objetivos, e entre esses objetivos está a conclusão do seu mandato com o Bahia saneado. Alguém terá de fazer isso um dia, pois que seja ele, já que resolveu assumir o pepino e as suas conseqüências.
Um amigo, Conselheiro do Bahia, oposicionista convicto, referindo-se à própria oposição, sentenciou: a realidade, meus jovens, é que ninguém quer assumir esse ônus que é a dívida do Bahia. Vivi dentro do processo e percebi que embora muitos participem, ninguém quer pegar o pinhão na unha. É a famosa história de um esperar pelo outro e aí não sai nada… O clube precisa de um investidor e enquanto isso não for conseguido ninguém fará nada. Pois entrar no Bahia sem um respaldo financeiro é suicídio.
Eu diria que é preciso o cara ser singular e destemido. É um desgaste sem igual e um sacrifício de imagem capaz de conseqüências desastradas. E fica pior quando o divisor de águas o time não corresponde em campo. Com o time bem as críticas se resumem a uma vírgula e fica menos penosa a missão, dá para trabalhar mais tranqüilo. Mas se o time vai mal, tudo parece muito mal.
Alguns equívocos são normais para quem dirige um clube de massa como o Bahia. Afinal, quem sobe ao palco pela primeira vez tem que conhecer o script da peça. Mas daí a querer execrar o dirigente vai uma diferença muito grande, porque não é assim que se formam conceitos para recuperar algo semi-destruído.
Claro, há falhas nos detalhes de princípios, como por exemplo, a prestação de contas que seria divulgada no site oficial do clube prometida pelo próprio presidente, que ainda não aconteceu e eu sei que não é por má-fé. Os problemas no Bahia são tão grandes que uma apresentação de um balancete, balanço etc., se transforma em coisa que pode ficar pra depois. Mas não é assim, Presidente, isso é algo que faz a diferença a favor porque passa credibilidade à torcida.
Quem tem convicção do que faz tem também a certeza que pode contrariar quem está à parte. Afinal, ser presidente do Bahia é ter a responsabilidade de conduzir politicamente correto uma nação com milhões de pensamentos diferentes e ter que trabalhar confiando absolutamente nas suas convicções.
Se o presidente tricolor acha que não deve aceitar ingerências e não deve mesmo no peito e na marra, é porque está confiante no seu trabalho e na forma como o faz. Dirigir o Bahia já é muito difícil, e ainda sem grana é o mesmo que encarar o deserto do Saara com pouca água. São coisas completamente diferentes, mas igualmente incertas e assustadoras. Você pode chegar do outro lado a salvo, mas tem todas as chances de sucumbir no trajeto.
Convicção é acima de tudo sinônimo de autoconfiança, mas quem a possui está sujeito a críticas, prejulgamentos, sentimento de prepotência, e ainda ter de assumir a condição de radical e antidemocrático. O lado bom dessa aposta é que a própria convicção pode transformar um vilão em líder absoluto e mudar a história dos fatos. É aposta alta e definitiva que depende só de atitudes.
Então a convivência com cobranças e insatisfações é algo com o qual o presidente tricolor precisa se habituar e seguir o seu rumo conforme a sua consciência. Realmente não dá para ficar se atendo demasiadamente às dificuldades políticas de dentro do clube, há que se cuidar, também, dos pequenos detalhes para que a gestão ganhe confiabilidade, senão o tempo passa e o que a torcida anseia, que é um time vencedor, jamais acontecerá.
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