E a previsível tempestade desceu sobre Ceni e todos os navegantes no mesmo barco… não sem aviso. Havia como escapar, mas o comandante resolveu seguir pela rota de choque com o mau tempo desprezando a sugestão de quem indicava uma rota por águas tranquilas. Agora, com o “barco fazendo água”, Ceni diz que mudará de rota e substituirá alguns marinheiros cansados – antes tarde do que nunca.
Poderia ter mudado de rumo desde que o time da “convicção” deu evidentes sinais de que o encanto havia acabado na metade do campeonato em curso. Mas convicto de que havia encontrado o onze perfeito, o treinador continuou pela mesma rota tempestuosa e se perdeu.
Criei um mantra para quando preciso refletir e corrigir rotas que cessem minhas dificuldades: se o dia me dá ímpetos, a noite me dá conselhos...
Agora Ceni fala de confiança perdida… como assim, confiança perdida se o próprio comandante é quem inspira essa confiança ao seu time? Será que ao insistir com os desgastados Jean Lucas, Everaldo, Cauly, Juba e Thaciano – estes dois últimos sacrificados pela improvisação – os demais jogadores desistiram de lutar, ingloriamente, e jogaram a toalha na lona? Há que se ter uma explicação para esse indolente Bahia do segundo turno.
A ciência de hoje já admite que não existe mais a certeza absoluta devido à velocidade como as coisas acontecem. Portanto, temos de ser dinâmicos e jogar o jogo sem teimosias. Quando um objetivo está sendo perseguido não é uma convicção cristalizada que deve definir como se chegar nele, mas sim um olhar periférico aliado ao conhecimento de causa capaz de criar outros motivos para mudar de opção.
A capacidade cognitiva do treinador Rogério Ceni não deve ser colocada em discussão. Tolice fazer isso. Quem tem uma história no futebol como ele tem merece o respeito de todos. O cerne do questionamento é a já histórica teimosia que, inclusive, remete a passagens por outros clubes e segue por aqui. Em minha opinião, isso aponta a seta para a necessidade de uma ajuda profissional terapêutica para comandante e comandados, em grupo, para recuperar a saúde mental do time no seu todo.
Há situações que requer cuidadosa reflexão: o próprio Rogério, quando esteve treinando o São Paulo, recorreu à Base de Cotia para oxigenar o time profissional, por que no Bahia ele aparenta ter má vontade para fazer o mesmo? Para a Seleção Brasileira de novos a Base Tricolor é referência, mas para esse time de medrosos milionários do Bahia, que amarela – salvo raras exceções – em jogos decisivos, a prata de casa não serve.
O Bahia tem um time que nega a si mesmo o exercício de um futebol eficiente porque já entra em campo com aspecto de derrota, consequência de um ambiente hostil devido à pressão induzida pelo seu próprio medo. As coisas pioram quando no primeiro passe errado a torcida começa vaiar. A assimilação dessa vaia é automática por parte dos jogadores. A indolência em alguns longos momentos de uma partida, que não raro assola esse time, descaracteriza completamente a tradição do Bahia.
Rogério Ceni errou – quero crer assim, no pretérito – ao insistir nas repetições e, talvez, tenha entrado no estado de alerta para fechar a sangria tardiamente. Não preveniu e agora tenta curar. Tomara que ainda haja remédio, mas não percebo solução, exceto se mexer sem medo nos pontos realmente críticos desse grupo que enfraqueceu mentalmente na metade do campeonato.
O sucesso nada mais é do que uma consequência da prioridade para com os valores em que acreditamos, sim, mas consequentemente também é das decisões diárias que tomamos para viabilizar um novo patamar de responsabilidade e reconhecer nossas próprias fraquezas para recomeçar com um novo modelo sem violar princípios fundamentais. É o que o momento requer e não o que a inflexibilidade de uma convicção despida de sensatez nos impõe.
– “Tolo é aquele que naufragou seus navios duas vezes e continua culpando o mar”.
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