Ah! Como é bom saber que você está de volta. Dessa vez, de forma digna e incontestável. O gigante acordou e a nação apaixonada voltou a sorrir.
Agora a festa está completa, faltava você. Os adversários sorriram aliviados todos esses anos por não te enfrentar, afinal, eles sabem da sua força. Perdemos uma aliada importante, a Fonte Nova. A companheira de tantas honras e glórias se foi. Tem nada não, PituAço, seu novo caldeirão, tá aí.
A maior alegria de um Estado, o patrimônio histórico de milhões de pessoas, não poderia ter ficado tanto tempo sem dar o ar da graça. O amor de Nadinho, Biriba, Alencar, Beijoca, Douglas, Roberto Rebouças, Baiaco, Zé Carlos, Charles, Emo, Ronaldo, Bobô e tantos outros. Agora também é de Fernando, Ananias, Ávine, Marcone, Renê, Jael, Gral, Adriano, Nen, Alison e de todos aqueles honraram a camisa e que hoje, tenho certeza absoluta, sabem o que ela representa.
Paixão não se entende, se sente. Mais que religião, mais que devoção, o sentimento que nos une não cabe em palavras. O contágio é rápido, preciso. Em pouco tempo, seres são abduzidos por essa força alienígena. Juca Kfouri há mais tempo. Marcelo Barreto e Milton Neves recentemente. Grandes nomes do jornalismo nacional que se juntaram à imensa legião de fãs. E não deve parar por aí.
Pode comemorar, Nação Tricolor! Caetano, Gil, Bethânia, Luis Caldas, Ricardo Chaves, Claudia Leite, Netinho, Jamil e outros ilustres torcedores. Cantem, declamem seu amor em alto e bom som. Por quê? Porque eu voltei e agora pra ficar.
Muito prazer, meu nome é Bahia, bi-campeão nacional, conhecido também como Tricolor de Aço, campeão dos campeões, o maior do N/NE. Mas podem me chamar também de Baêa Minha Porra!
XXX
O dia chegou. Depois de sete longos anos podemos dizer que somos um time de primeira. Não foi um título, mas uma conquista que pode ser considerada uma das mais importantes do clube em oito décadas de existência.
É difícil escrever qualquer coisa nesse momento, a emoção ainda permanece viva e se confunde com a razão. Tudo o que for dito vai soar repetitivo, a maioria de nós padeceu da mesma dor e sofrimento. Cada um teve a sua história durante esse período de ostracismo e agonia. E eu vou contar a minha.
O meu primeiro texto nesse espaço tinha um tom nostálgico, falava do 20º aniversário do título de 88. Citava também uma luta pessoal que eu travava há certo tempo: fazer minha filha entender a grandeza do Bahia. Por mais que eu insistisse e mostrasse através da história o quão tradicional e glorioso que é o tricolor, era difícil o entendimento por parte dela.
Como um time consegue ficar tanto tempo sem títulos? Por que o Bahia não vence sequer o campeonato baiano? Basicamente, eram essas as duas perguntas que mais eu ouvia dela. Meus argumentos tornaram-se repetitivos e poder de convencimento já não existia.
Ela acompanhou meu sofrimento na Série C. Estava ouvindo o jogo comigo quando Charles fez aquele gol salvador contra o Fast. Ali ela me viu chorar como poucas vezes. Apesar da agonia, curtimos juntos aquele momento. Foi minha parceira até o término da competição, quando eu não podia escutar os jogos, ela ouvia e me atualizava.
Veio a Série B. Em 2008, no primeiro ano do nosso retorno, a esperança foi renovada. A expectativa era grande e nós não fomos bem. Vimos o Corinthians comandar a competição do início ao fim. Nosso único alento foi vencê-lo no Pacaembu, na única derrota dele dentro de casa.
Ano passado a coisa foi pior. Brigamos até as últimas rodadas contra o rebaixamento. Foi duro, mas conseguimos nos manter. E a essa altura eu já ouvia dentro de casa rumores e comentários a respeito do time do aterro sanitário. Risco iminente de perder minha luta.
Começamos 2010 como sempre, esperançosos e cheios de boa vontade. Renato Gaúcho nos colocou novamente nos holofotes da mídia nacional. O objetivo inicial era o Baiano. Não deu. Perdemos por um gol para o pessoal do aterro. Ouvi novos questionamentos e comecei a perceber que estava perdendo a luta e a guerra, minha filha já não me acompanhava mais.
Na Série B, só fomos engrenar mesmo depois da Copa. Apesar de não fazer uma campanha ruim, o time não foi muito constante na primeira parte da competição. O entrosamento com os reforços foi aparecendo aos poucos. Márcio Araújo chegou para substituir Renato sob a desconfiança de todos. Precisou de certo tempo para encaixar as peças e dar o ajuste final.
Voltando à minha batalha em casa, algo de novo surgiu. Com o Bahia lutando a cada rodada para se manter entre os quatro, a mídia nacional passou a dar ênfase e a torcer por nós, por incrível que pareça. E isso foi determinante. Acompanhando o noticiário e a mobilização de boa parte de jornalistas e comentaristas, ela começou a entender o que representa o Bahia.
A cada partida, tensão e ansiedade se misturavam. Fui percebendo que o sentimento de quem antes me questionava fora se modificando em doses homeopáticas. Passei a receber ligações e cobranças para chegar em casa cedo nos dias de jogos. Criamos uma espécie de ritual pra acompanhar cada partida. E seguimos assim até o triunfo magistral contra a Portuguesa.
O saldo final: venci minha luta pessoal e o Bahia a dele. A sensação é de alívio e de realização. Vibramos juntos o retorno. O clamor da torcida, a festa dos jogadores e meu choro de felicidade foram motivos para um abraço emocionado.
A guerra particular que eu venci é nada diante do sofrimento de milhões de torcedores. Talvez alguns se identifiquem e saibam o quanto é difícil pensar na possibilidade de ver o filho torcer pelo rival, não por vontade própria, mas induzido pela falta de competência do outro.
A conversa entre nós agora é um pouco diferente. Ela ainda não compreendeu completamente o que nós, torcedores de longas datas, sentimos, essa paixão visceral e incondicional. Mas aos poucos o Bahia vai conquistando o espaço que merece no coração dela. E eu estou muito mais feliz por isso.
Saudações Tricolores!
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