Começo esta coluna remetendo a dois trechos do meu texto denominado “O Tempora, O Mores!”, de 15 de janeiro do corrente.
De concreto, o único adversário de respeito será o Canabrava mesmo. Do restante, o que poderemos esperar é uma zebra, uma girafa, um hipopótamo e um rinoceronte. No zoológico das possibilidades, o efeito Colo-Colo de 2006 se repetiu com força no ano passado e o rival nos brindou mais uma vez com um título que parecia impossível, rendendo a um clube feirense a taça maior do Estado quarenta e dois anos depois. Entretanto, e a despeito das boas revelações do genérico feirense como Diones e João Neto, não se sabe se o raio cairá pela terceira vez este ano. Os interioranos tem até se reforçado com jogadores famosos, mas para variar, o favoritismo jamais deixará de ser da maior dupla do Estado da Bahia.
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Todos dizem que o importante é o Bahia ficar na primeira, que é importante o vice ficar na segunda, e que o campeonato baiano de nada vale. Ok, mas às vezes as pessoas esquecem do lado psicológico da coisa. Vencer o campeonato baiano não apenas consolidará o Bahia como um verdadeiro clube de Elite, que a permanência na primeira não é por acaso e que a normalidade e hegemonia regionais são realmente do Bahia. Não estamos discutindo a ainda ampla frente que temos perante eles em clássicos e títulos, porém a honra e o orgulho deverão estar na ponta da chuteira de cada jogador tricolor neste baiano.
Não é preciso ser profeta, sábio, nem adivinho para ter dito isso no passado recente. O normal aconteceu e a dupla Ba-vi fará novamente a final do brioso, glorioso e grandioso campeonato baiano de futebol. E pela primeira vez em dezoito anos com vantagem tricolor, o que traduz a melhor campanha do Bahia e sua hegemonia, até o presente momento, nesta competição.
Preferi não me manifestar durante a trajetória do Bahia neste campeonato porque seria comentar pontos isolados e factóides instantâneos num conjunto de fatores. Fatores estes que ainda me dizem que desde 2001 não vencemos o campeonato baiano; que desde 2002 não temos um título sequer conquistado (para quem acredita que acesso é título, só lamento). Amargamos um período sombrio que envolveu numa só tacada rebaixamentos, quedas vertiginosas de divisão nacional, viradas de mesa, desviradas de mesa, classificações sofridas contra clubes varzeanos do Amazonas, tragédia mortal em estádio, demolição de estádio, um tenebroso inverno sem estádio; aclamação de presidente continuísta, turbulências democráticas dentro do clube etc.
Foram tantas emoções que viveu o torcedor do Bahia num tempo-espaço de quinze anos que em verdade vos digo que este jogo dito épico contra o Primeiro Passo de Vitória da Conquista foi mais um passo importante rumo a recuperação de uma honra perdida.
Na verdade o histórico confronto de ontem pode ser qualificado como mais um GRANDE SUSTO o qual poderia ser evitado, porquanto nas palavras de BUENO, G; “tem que ser com sofrimento”. Haja coração e troponina T e mioglobina em níveis estratosféricos; e haja supradesnível de ST; até mesmo porque infradesnível de ST e onda T invertida são coisas do rival [medical slang mode on. Sorry]
Espero que o sr. Falcão e equipe entendam o tamanho da responsabilidade que tem nas mãos a partir de agora. Contra o rival do artilheiro dos penais Neto Baiano, será muito mais do que vencer o Canabrava no dia da efeméride comemorativa dos seus cento e treze anos de virgindade; será muito mais do que amealhar o nosso 43º ou 44º título estadual; será muito mais do que provar que temos a melhor campanha: será a chance de mostrar que aos poucos as coisas voltam à normalidade em busca daquele Bahia que eu aprendi a amar nos anos oitenta.
Para quem acredita em “Deuses do Phutebol”, nada, exceto uma suposta incompetência do grupo ou do técnico, vai tirar este campeonato do Esporte Clube Bahia!
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Em relação ao nosso treinador, está na hora dele tirar a fama de amarelão que sempre o caracterizou lá no Sul; incluindo a passagem apagada que o mesmo teve pela Seleção. Um gênio quando tinha a bola nos pés que por vezes troca os pés pelas mãos e irrita o torcedor mediano. Está na hora de escalar quem vem dando certo e evitar improvisações. Faça-se o simples.
Mais uma vez elogiamos a diretoria por ter trazido este treinador, com excelente custo-benefício diante das nossas possibilidades. Joga para frente e deu alguma alegria à forma de jogar do time. Contudo, precisamos de laterais e de meias mais efetivos, haja vista os ataques de hipersônia do senhor Morais, aquele que pensa demais. Pois! Foi pensando que morreu o burro do meu avô (ou o asnino que pertencia ao genitor do meu genitor)
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Em 1994, quando havia quatro turnos no campeonato baiano (e os vencedores de cada turno faziam a final), o Bahia de Joel Pré-Sardinha disputava o terceiro contra o Poções na Fonte Velha. Só a título de recordação, o primeiro turno tinha sido vencido pelo Camaçari e o segundo pelo Canabrava; e vencendo o Poções o Bahia juntar-se-ia aos outros dois na decisão e o Tricolor jogava pelo empate. Era uma insossa quarta-feira à noite e o estádio às moscas.
Depois de um 2×0 para o time do Sudoeste marcado pela impagável dupla Fafá e Fofão, o Bahia conseguiu diminuir no decorrer do segundo tempo e o final do jogo se aproximava. Eis que numa cobrança de escanteio surge o então zagueiro Advaldo, mais conhecido como NBA, em razão da sua girafal e desengonçada estatura de jogador de basquete; compondo ao lado do açougueiro Missinho uma das duplas de zaga mais emblemáticas da História recente do Bahia.
Enfim, o escanteio foi cobrado e eis que o tão criticado Advaldo tocou de cabeça e sacramentou o triunfo do Bahia, que venceu o quarto turno de lambuja em cima do zagueiro-goleiro João Marcelo em pleno sol do meio-dia e foi ao triangular final com vantagem sobre o Vice e o Camaçari. O resto da história é do conhecimento de todos, lembrando que o épico gol de Raudinei teve uma indireta participação do mesmo Advaldo.
E quem é Rafael Donato, o salvador da pátria de ontem? Carioca, indicado por Joel Santana, veio de um clube pequeno do Rio de Janeiro, alto igual a uma vara de tirar caju, aparentemente desengonçado e por isso criticado pela torcida; além de autor de importante gol de classificação a uma final de campeonato baiano no apagar das luzes. Tal descrição se encaixa como uma luva no perfil do zagueirão tricolor de 1994! Em que pese a diferença flagrante de catiguria entre ambos, para completar as coincidências só falta Donato participar do gol do título. E quem sabe esse gol não será do Júnior Coveiro para queimar a minha língua?!
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Dezoito anos depois, o Bahia disputa uma final contra o Canabrava com a vantagem da melhor campanha, encerrando em seu mando de campo e jogando por dois resultados iguais.
Vinte e quatro anos atrás o Bahia vencia a final do baiano contra o vice com triunfo no último jogo.
Eis que o Bahia pós-1988/1990 atinge a maturidade civil e penal; e tá na hora de quebrar tabus e acabar com determinadas escritas.
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Só fazendo um adendo: eu, como profissional de saúde, não posso deixar de me indignar com o que estão fazendo com aquele rapaz filho do cantor sertanejo Leonardo, ao qual peço que Deus tenha dele misericórdia e lhe traga pronta recuperação. A família do moço nem o próprio tem culpa de a televisão passar uma reportagem de meia hora reconstituindo repetitivamente e minuciosamente os passos do triste acidente, filmando lágrimas de familiares em close, entrevistando especialistas que apenas dizem o óbvio e incutindo a ideia de comoção nacional perante esta comezinha tragédia do trânsito brasileiro. Isso porque não falei do circo armado pelos programas de auditório em torno do fato…
Espero que a mesma comoção dispensada a este rapaz seja estendida a todos os brasileiros que morrem diariamente vítimas do descaso de governos e de motoristas que conduzem sob efeito de álcool e de drogas; que todas as orações em favor do jovem cantor sejam estendidas em uníssono por aqueles que nem o direito de dispor de uma ambulância básica ou de um simples leito de UTI possuem. Não é só este moço que tem uma vida bela e promissora pela frente. Digo isso, sem nada a ver com o Bahia, para lembrar que neste feriado do trabalhador, dirigir com responsabilidade não faz mal a ninguém. Não usem seus automóveis, adquiridos com o suor do trabalho de cada um, como instrumentos de morte e sofrimento.
Saudações Tricolores!
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