A Venezuela é um país marcado por séria situação democrática, como todos sabem. Há uma ditadura cinicamente disfarçada sob a égide do “clamor popular”; um presidente moribundo – ou realmente morto! – possivelmente a ser empossado de fora da sua própria pátria, um Legislativo e um Judiciário no mínimo coniventes com tal estado-de-coisas e as Forças Armadas locais certamente de butuca para qualquer “eventualidade”.
Não entrarei no mérito ideológico da coisa, nem discorrer a respeito da vontade do povo venezuelano – se é que há mesmo “vontade”. Enfim: deixemos aos cientistas políticos e aos diplomatas este assunto.
Mas então, Cássio, por que você começou esta coluna falando da Venezuela de Hugo Chávez, in memoriam ou in vivo? Ab absurdo?!
Calma! Chegarei lá.
Em primeiro lugar, olhai para o Esporte Clube Bahia: um clube dirigido pelo mesmo grupo político durante anos a fio, o qual possui uma “Assembleia Nacional” ou Conselho Deliberativo totalmente dominado por este grupo, sendo que tal grupo se mantém amparado em decisões de altas instâncias do Judiciário que sempre lhe são favoráveis, perpetuando uma mesma ideologia de gestão durante anos a fio, e que passa à massa (ao torcedor mediano) aquela imagem de mudanças profundas nos seus paradigmas (Nike, novo CT, etc) quando na verdade ano após ano a sua luta é tanto para não cair e anunciar os grandes reforços como Zé Roberto, Mancini e Kleberson, os quais até agora não disseram a que vieram com altos salários em detrimento de planteis mais efetivos.
Qualquer coincidência é mera semelhança.
Ano após ano, enquanto o caudilho venezuelano resolve alterar a Carta Magna daquele país a cada final de mandato e garantir sua recondução por tempo indeterminado; Sua Alteza, O Presidente do Esporte Clube Bahia – Notável Príncipe dos Cabelos de Gel – toma atitudes como a destituição seletiva de conselheiros conforme ocorreu no ano passado, garante sua recondução unânime a despeito das muitas e altas vozes de oposição dentro do quadro social do clube e agora efetuou (com a anuência da maioria dos votantes) críticas alterações na Carta Magna tricolor – o Estatuto – instituindo eleições diretas para presidente.
Para as tais eleições diretas transcorrerem conforme o desejo do torcedor mais engajado e sequioso de um Bahia cada vez maior e cada vez mais competitivo, será necessária a total renovação do Conselho Deliberativo (o mesmo que reelegeu o atual presidente com cem por cento dos votos), e ainda este conselho renovado impor aos sócios patrimoniais com algum tempo de clube e quites com suas obrigações financeiras duas chapas dentre as quais deverá sair o novo presidente.
Como as eleições para presidente foram mantidas para antes das eleições do Conselho, em tese, mesmo com um milhão de pessoas se associando e promovendo uma chapa para renovar o Conselho, isso só ocorrerá depois de 2016! E este hipotético novo conselho só conseguiria homologar as chapas para presidente em 2019!
Ok, podemos esperar, ter paciência, torcer todo ano para ficar na primeira divisão e promover uma grande mobilização da torcida ate lá… mas alguém aí acredita mesmo que isso vai acontecer???
Até mesmo porque é difícil confiar num mandatário o qual, à semelhança do presidente da Venezuela, sempre dá um jeito de garantir o status quo dentro da instituição; adiando por tempo indeterminado a alternância de poder diante de um clube amarrado em um sistema de valores anacrônico e pouco efetivo.
Difícil acreditar na palavra de alguém que prometeu eleições diretas por cinco anos, e quando cumpriu, o fez do jeito que o seu grupo político achou melhor, sem atender ao clamor da mais recente tendência nos clubes de futebol brasileiros, ficando sempre atrás do bonde da História; justificando tanta procrastinação culpando os mesmos contrários os quais eles nunca escutaram de fato (e quando escutaram – na marra – vêm as corujas becadas e notívagas empatar a cópula oposicionista).
Difícil acreditar em alguém que vende o que provavelmente seria o maior ídolo do Bahia na atual década por quantia questionável e módica, num autêntico negócio “de pai para filho”, a perder de vista; quando poderia fechar negócio com equipes de fora do país em outro momento, com dividendos certamente muito mais promissores nesta hipotética transação.
E é muito complicado crer num cidadão que alega ser a atual equipe suficiente para disputar as quatro competições vindouras, sendo que pelo menos três delas são campeonatos de médio e alto níveis, com base num desempenho pontual e fortuito no Campeonato Brasileiro do ano passado. Não, não precisamos de contratações bombásticas e impagáveis, mas precisamos muito de uma equipe sem atletas que ganham 200, 300 mil por mês (isso é o que é divulgado…) para nem sentarem no banco de reservas! Muito fácil culpar a escassez de cotas de TV, muito fácil fazer a torcida crer que ser nordestino é condição suficiente para ser medíocre. O bom gestor muda padrões e faz acontecer o que parece difícil. Subir da Série B para a Série A e vencer o varzeano campeonato estadual após dez anos, ao meu ver, ainda é muito, mas muito pouco.
Enquanto isso, em Caracas, segue a estatização compulsória de setores lucrativos e competitivos da economia local, sem a devida contrapartida em aumento de renda e empregos; segue a sonegação de informações como tônica da atual gestão, segue o cinismo institucional como o mote do general bolivariano. Contudo, “a Venezuela derrubou as Elites e é o governo do Povo”
Enquanto isso, na Boca do Rio e Itinga, segue o oligopólio institucional a sonegar informações como a lista de sócios aptos a votar, por exemplo; e sem dar o devido retorno à torcida em forma de fortalecimento do clube no cenário nacional. Mas vencemos (vencemos?!) o todo-poderoso rival ano passado, estamos nas Elites do futebol brasileiro e vestimos uma marca de Elite, mesmo terceirizada. Ah,somos o clube do povo e temos a maior torcida do Norte-Nordeste-Centro Oeste e teremos um novo CT. Que bom!
Não queremos Libertadores agora, Senhor Presidente e Senhor Genitor do Senhor Presidente. Queremos ver, pelo menos, um clube alinhado com o mercado do futebol, sem precisar aguardar as sobras de outros clubes; que jogadores expressivos queiram vestir as nossas cores, dentro das nossas possibilidades; que possamos brigar até a última rodada pelo G-4 de cima num médio prazo… só pra começar.
Finalmente, nada espero deste grupo político senão a manutenção do mais do mesmo. As evidências são irrefutáveis e me tiram qualquer crédito em qualquer coisa vinda desta gestão. E que os Deuses do Phutebol me desmintam.
Ao torcedor, resta reencontrar a Chávez da esperança em dias melhores, ou seja, em um novo fortuito e isolado 4×0 em cima do Vasco ou com grandes desempenhos fora de casa e pífios desempenhos dentro, afinal “a torcida do Bahia não tem paciência comigo”, já diria um outro Chaves.
Ao torcedor mais engajado, resta a dolorida (lá ele) prática da autossodomização, conforme sugerido por Sua Alteza recentemente: sem condom e sem gel… não o gel dos cabelos da Autoridade Máxima tricolor, e sim o lubrificante.
Ao sócio em dias, ansioso por poder de fato ajudar o seu clube, resta a autossucção dos respectivos primeiros quirodáctilos.
Encerro este texto com uma singela canção de Elizeth Cardoso, dedicada ao meu amigo Paulo Angioni:
Tem sido assim minha sorte está marcada
Dou muito de mim em troca recebo nada
A vida é luta, lutarei até o fim
Não aceito ingratidão e nem que falem mal de mim
Cada dia que amanhece agradeço a Deus mesmo
sofrendo preconceito entre os meus
Eu quero dar amor e receber amor
entregar tudo de bom que há em mim
Eu quero dar amor e receber amor
até minha existência chegar ao fim
Cada dia que amanhece agradeço a Deus mesmo
sofrendo preconceito entre os meus
Eu quero dar amor e receber amor
entregar tudo de bom que há em mim
Eu quero dar amor e receber amor
até minha existência chegar ao fim
Saudações Tricolores!
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