Lembro-me que lá pelos anos de 1960, ainda criança, achava que o Vasco da Gama era o time do meu coração. Ver (só por revistas) jogadores como Bellini, Orlando Peçanha, Coronel, Pinga e tantos outros que cumpunham o Vasco daquela época, era belo e sonhador. Acho mesmo que a força maior de atração não era bem o Vasco, e sim o encantador Rio de Janeiro e suas belezas naturais, onde o “morro” (hoje favela, sinônimo de crime) era inspiração para poetas e compositores. O Vasco, para mim, era parte do romantismo do Rio, foi o primeiro time de lá que eu houvera “visto” jogar e ser campeão, aliás super campeão em 58.
Mas as coisas começaram a mudar à medida em que eu crescia. Meu saudoso Pai era torcedor do Bahia da época de um futebol romântico ouvido pelo rádio lá na minha terra natal, Serra do Vitorino, então distrito de Maracás. Pois é, nasci ali naquela montanha linda que mais tarde alguém transformou em Ibitiguira, hoje distrito de Planaltino. E da Serra viemos para Salvador, ainda criança. Foi então que vi o Bahia jogar na Fonte Nova de um só anel, pela primeira vez, contra o Vasco.
Ver Nadinho, Vicente Arenari, Henricão, Léo, Marito, Biriba, Mário Araújo e companhia foi algo realmente inesquecível. Virei a “casaca” na hora!! E o Vasco cedeu lugar no meu coração. Também não seria para menos, pois o Bahia se tranformou num verdadeiro CAMPEÃO ao ganhar a Taça Brasil em pleno Maracanã.
Isso mesmo, o Maracanã foi o principal palco da história do Bahia na década de 60, rendeu-se ante o brilho de uma ESTRELA que ainda hoje cintila para milhões de olhos, viu o Bahia começar a historia do CAMPEONATO BRASILEIRO justamente contra o Santos de Pelé. Isto não é pouco, tenho neste momento a necessidade obrigatória de resgatar um feito monumental, que adversários e bairristas insistem em negar e desmerecer, mas que a história do nosso futebol conta na sua plenitude, as verdades.
Mas assim é o Bahia, causa de muita inveja, apaixonante, naturalmente um estado de espírito capaz de transformar uma segunda-feira no mais belo dia, ou, no mais desanimado dos dias. Como foi bom estar em Belo Horizonte, de férias, e acompanhar através de jornais, rádio e televisão locais, que com ênfase, noticiavam os feitos do Bahia naquela trajetória de 88/89 até se sagrar campeão brasileiro, só que desta vez o feito aconteceu em Porto Alegre. Aliás, há duas coincidências nos maiores feitos do Bahia: campeão em 60 no Rio de Janeiro e campeão em 89 no Rio Grande do Sul. Nas duas vezes, claro, fora de casa e em “Rios” diferentes.
Para os mais céticos e alguns frustrados, eu digo que o Bahia ainda repetirá os gloriosos feitos de um passado não tão distante. Vendo-o jogar contra o Goiás (no 3 x 3) recordei-me da antiga garra, do antigo Esquadrão de Aço, aquele Bahia que mesmo estando perdendo uma partida buscava o resultado ideal ao “apagar das luzes”, no último minuto. Quando eu não podia ir à Fonte Nova ou o jogo era fora daqui, colava o ouvido no radinho de pilhas e escutava a eloquência de Nilton Nogueira, narrando o jogo da forma que o torcedor gostava.
Aliás, dizem que maior audiência das rádios é nos jogos do meio de semana, à noite, claro, porque tem aquele pessoal “fanático” que adora dar uma enrolada na patroa, chegando em casa com o resultado e os detalhes do jogo na mais absoluta íntegra. Até os comerciais o cara sabe quais são, seguro morreu de velho. O cara fica “trabalhando” com o radinho ligado em detrimento dos canais de circuito fechado do estabelecimento em que se encontra, porém em cuidadoso apreço ao lar, onde a patroa o espera para a “festa” que só acontece se o Bahia ganha. Se der empate, dá para justificar um desempenho meio barro e meio tijolo, ela até entende. Se perde, o cara aproveita para chegar “arrasado”, ela aguenta o “araque” e ainda sente pena do dito cujo marido torcedor “assíduo”.
Mas atualmente as coisas já mudaram muito, há telefones celulares que denunciam ruídos e silêncio. Não escapa nada. Mas mesmo assim o cara resolve não ser incomodado pelo radinho durante o “love” e arranja um amigo cúmplice, que realmente vai ao jogo, para lhe dar todas as informações. Às vezes acontece de a bateria “descarregar” para o caso de a patroa ligar. Os caras pensam em tudo, até levam outra bateria descarregada para “provar” o desconforto, ao chegar em casa.
Mas existem casos dramáticos. Me contaram até de dois amigos (alguém deveria ter segundas intenções) que combinaram de assim que terminasse o jogo, o que foi à Fonte Nova informaria via celular o resultado ao que não foi. Ele informou com riqueza de detalhes sobre o jogo… só que ao contrário do que realmente aconteceu, na maior trairagem. Foi uma agonia. Eu só não conto o resto devido ao respeito que tenho pelo drama dos outros.
Tudo faz parte do romantismo folclórico do futebol. O Bahia, principalmente, causa sempre aquele friozinho na barriga da gente, quer seja assistindo ao jogo na Fonte, na TV, ou “pulando a cerca” com o famoso e inseparável companheiro, “radinho de pilhas”. Sei que o caro leitor há de dizer: quanta experiência, própria!! Mas de antemão já respondo que nunca arrisquei tanto enquanto casado estive, até porque os meus filhos nunca deram espaço, são torcedores ferrenhos do Bahia.
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“Moré pode ir para o Vitória”. Quanta pretensão!! Não sei o que seria do futebol sem os construtores de boatos, talvez não tivesse muita graça.
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Um palpite. Acho que o Bahia passa pelo próximo adversário na Copa Brasil, desde que o empenho seja o mesmo do jogo contra o Goáis.
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Danilo, aquele outro que gosta muito de pagode… pra quê? Jogar ele sabe, mas não precisa repatriá-lo. Deixa o moço quieto, o grupo está bem coeso. Exceto se ele mudou a forma de pensar e agir.
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