Calma, que eu vou acabar falando de futebol (e do Bahia), mas antes vou fazer as minhas costumeiras circunvoluções que tanto exasperam os incautos e generosos leitores que se aventuram a encarar minhas presunçosas garatujas.
Eu vinha com esse negócio de Alquimia na cabeça há uma semana, sem me dar conta exatamente do motivo para tal nem da possibilidade do seu aproveitamento como matéria sobre a qual pudesse escrever. E não pensem que essa Alquimia indefinida pairando em minha mente tinha algo a ver com a do livro de Paulo Coelho, em que o protagonista alquimista vai fazer o seu longo Caminho de Santiago para descobrir o seu tesouro, acaba voltando para o lugar de onde partira e concluindo que o dito tesouro se encontrava era aí mesmo onde ele sempre esteve. Pois não tinha nada a ver com Paulo Coelho. Minha fase de primarismo filosófico já ficou para trás há algum tempo desde que eu passei dos estágios de blástula, mórula e gástrula (referências desnecessárias a fases embrionárias, mas que vão ficar no texto para ele parecer um tanto hermético e erudito).
Mas que diacho eu sabia de Alquimia para que esse assunto ficasse tiquetaqueando como um metrônomo em meus ouvidos? Bom, teve uma novela aí que tinha um personagem chamado Flamel, que era alquimista e coisa e tal, mas eu não tive saco de assistir mesmo, portanto essa obra televisiva não acrescentou nada ao meu conhecimento dessa matéria. Talvez eu tenha sido despertado pela música de Jorge Benjor Os Alquimistas estão chegando, que tem tocado ultimamente em meu iPod, desde que eu fiz o download da gravação original de 1972, quando o cantor ainda se chamava Jorge Ben (a batida do violão nessa música é incomparável).
Por falar em download, vou fazer um parêntesis aqui para destacar o verbo downlodear que li essa semana no Correio da Bahia. Parece que o pessoal não está se conformando apenas em baixar arquivos na internet e agora quer downlodear também. Os puristas da língua ficam enfurecidos com essas inovações e adaptações que julgam desnecessárias, principalmente porque esses verbos novos, chupados principalmente da língua inglesa, são todos da primeira conjugação (terminam em ar deletar, printar, escanear). E olhem que os criadores do novo verbo ainda foram além e retiraram o a de load e acrescentaram não apenas o ar no final, mas ear. Inovação total. Mas convenhamos que os verbos downloder ou downlodir não iriam pegar mesmo. Talvez como palavrão: vá se downloder, rapaz! ou agora é que eu tou downlodido!
Voltemos à Alquimia. A música de Benjor dá uma descrição muito sucinta e alegórica do que faz um alquimista e não me deu nenhuma pista sobre o porquê dessa idéia renitente em minha caraminhola. Eu continuava sabendo apenas que os alquimistas buscavam a pedra filosofal, substância com a qual conseguiriam transformar qualquer metal em ouro (e já sabia disso antes de Harry Potter aparecer). Portanto, minha ignorância e inquietação me levaram a googlar ou googlear (buscar no Google, para os não iniciados) a palavra Alquimia. Fui logo direcionado para a Wikipédia (a enciclopédia livre da internet). Lá fiquei sabendo que os alquimistas buscavam 03 coisas: o elixir da longa vida, transmutar metais em ouro (ambas através da pedra filosofal) e criar o homúnculo (gerar vida humana artificialmente). Tudo muito factível, como se sabe para usar o mínimo de sarcasmo. Não é de admirar que a ciência moderna tenha posto os alquimistas no ostracismo. Os defensores ou admiradores da Alquimia dizem que os relatos e experiências bizarros dos seus seguidores eram puramente simbólicos e representavam mais purificação espiritual do que algo físico. Vá lá: vou comer essa!
O fato é que, depois de ter acesso às informações que destrincharam e me desvendaram a Alquimia, fui aos poucos compreendendo quais eram as associações e correlações que o meu cérebro estava querendo fazer à minha revelia. Foi assim como uma coisa sobrenatural, paranormal, na falta de melhor explicação para o fenômeno porque não acredito nem nesse negócio de paranormalidade nem em paraanormalidade. Acredito que tudo tenha uma explicação no mundo físico, embora muitas coisas não a tenham… ainda.
Observem como é possível atribuir à Alquimia a transformação de um estádio longamente esquecido e abandonado, como Pituaçu, em algo vivo e pulsante novamente. Diga-se de passagem que essa vida e pulsação podem ser, em sua maior parte, atribuídas à presença da torcida do Bahia no novo estádio reformado e ampliado. É difícil adjetivar a torcida do Bahia. E olhem que eu sou relativamente bom em adjetivos. No dia em fui ao primeiro jogo no novo Pituaçu não consegui conter as lágrimas em todo o trajeto a pé do Centro Administrativo até o estádio. Primeiro foi a surpreendente educação e eficiência dos policiais que queriam saber se eu tinha sido importunado por algum guardador de carros, depois foi um desses policiais desejando boa sorte para o nosso Bahia, depois a visão daquelas pessoas vestidas com as mais variadas camisas tricolores atravessando a Paralela gritando Bora Bahêa quando o sinal fechou, aquele mar de gente subindo a rampa de acesso, a entrada organizada e civilizada no portão do estádio e, finalmente, aquela sensação de entrar em casa e ser recebido por seus entes queridos para uma festa. Durante o jogo eu não consegui cantar o hino do Bahia com o resto do povo: deu um nó na garganta. Mas gritei por dentro. Fui um ventríloquo com olhos marejados.
Então me digam: tudo isso não é transformar chumbo em ouro? Isso não é pura Alquimia? A Torcida do Bahia é a tão buscada Pedra Filosofal. Com ela tudo vira metal nobre e tudo de bom se eterniza. Amém.
comentários
Aviso: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do ecbahia.com.
É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral, os bons costumes ou direitos de terceiros.
O ecbahia.com poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios
impostos neste aviso ou que estejam fora do tema proposto.