A gente não se dá conta, mas nesse exato momento e durante toda a nossa vida giramos no espaço sideral em torno do Sol a uma velocidade de 107.000 km/h, sem contar que estamos na superfície desse planeta Terra que rodopia a 1674 km/h. É de dar vertigem, mas a gente leva numa boa e ainda acha as coisas meio monótonas muitas vezes.
Eu hoje estou completando 52 voltas em torno do Sol desde que vim à luz numa já longínqua noite que envolvia minha casa na cidade de Nazaré. Nesse percurso, já fiz, vi, aprendi e senti muita coisa: às vezes mais do que deveria, às vezes menos, às vezes nada. Isso, em resumo, é o que chamamos vida. E colocar a vida nesses termos simplórios é útil para nos dar a necessária humildade.
Diferentemente do que acreditam muitos sobre possíveis formas alternativas para suas existências, eu não poderia ser outra coisa. Não poderia ser um Aedes aegypti, um curió ou um pé de umbu. Só poderia ser isso que sou, ser eu mesmo, agora e nunca mais. Um ente único e irrepetível dessa espécie animal chamada Homo sapiens, uma dentre tantas que povoam esse minúsculo planeta e que, pelo fato de ter um encéfalo mais desenvolvido que os outros animais e conseguir fazer movimento de oposição do polegar, vem há alguns milênios dominando o ambiente e transformando-o em seu proveito, ultimamente de maneira bastante questionável e perigosa.
Desde que nasci, exerci vários papéis: filho, irmão, neto, primo, sobrinho, aluno, afilhado, amigo, namorado, professor, noivo, marido, pai, médico… Muitos desses papéis já vieram com o produto, outros me foram impostos, outros se deram naturalmente. Dentre os papéis que exerço por escolha própria está o mais inexplicável e fascinante de todos: torcedor do Bahia.
Já desisti de tentar buscar justificativas para essa patologia. Chamo logo de patologia porque consigo elencar diversos elementos que podem caracterizar esse negócio como doença. Tem muito torcedor que se esquiva desse rótulo e se diz torcedor sadio. Eu digo que esse não é um torcedor de futebol. Para tal, é preciso ser DOENTE. E muito. Eu sou um torcedor doente e digo isso sem orgulho, mas com muita convicção e honestidade.
Que outro diagnóstico pode ser feito para alguém que está completando 52 anos e em vez de ficar fazendo um balanço de sua vida e projetando um futuro ainda possível num eventual papel de avô, fica só pensando em que escalação o quase paciente psiquiátrico Gallo vai colocar em campo nesse BAvi decisivo? Qual ser mentalmente saudável fica imaginando se Gallo vai colocar Ávine em algum lugar a menos de 10 km do Lixão? E temendo ver no domingo o técnico lançar mão de novo dessa enciclopédia do ludopédio para ser o criador das jogadas do seu time? Que pessoa hígida, no dia do seu aniversário, fica matutando por que a zorra do meio de campo do time não é composta por Leandro, Elton, Hélton Luiz e Léo Medeiros, que protagonizaram os melhores momentos que essa pessoa transtornada viu esse ano? Que indivíduo normal sente calafrios, pruridos e ziquiziras diversas ao ouvir o nome de um Ananias? Aliás, o que é um Ananias?
Pois é, meu povo: de nada adiantou dar tantas voltas em alucinante velocidade ao redor da estrela. Quando o assunto é futebol, ainda sou aquele bebê perplexo, inocente e ingênuo que a parteira puxou do ventre de minha mãe naquela noite de maio, naquela cidade do interior que se espalha carinhosamente nas margens do Rio Jaguaripe e que tem a bandeira vermelha, azul e branca. Por isso, gostaria de pedir humildemente aos jogadores do Bahia que nesse domingo façam um pequeno esforço para encher, se não de sentido, pelo menos de contentamento, essas minhas voltas em torno do Sol.
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