No início do ano passado, recebi um telefonema do meu amigo Nestor Mendes Júnior, de Angola, onde estava então trabalhando. Ele havia sido contactado pela diretoria do Bahia, que tinha a intenção de formar um Conselho Consultivo e lhe pedira que indicasse alguns nomes. Nestor me perguntou se poderia indicar o meu, com o que eu concordei. Na ocasião, o novo presidente do clube, deputado Marcelinho Guimarães, dava passos ousados no sentido de modernizar e profissionalizar o Bahia. Ou pelo menos parecia pretender isso.
O telefonema de Nestor vinha dentro de um contexto marcado por tricolores animados com a possibilidade de um novo Bahia. Deu-se um crédito de confiança à nova diretoria. Foi uma carta branca tão ampla que incluiu até o apoio à contratação do ex-presidente do Vitória Paulo Carneiro como gestor de futebol do clube. Esse apoio foi geral, quase irrestrito, e envolveu desde a torcida até a oposição (entendendo-se por isso os setores que tradicionalmente opunham-se ao esquema de poder implantado no Bahia por Paulo Maracajá e que, lamentavelmente, prevalece até hoje).
Claro que eu me sentiria honrado em participar do Conselho Consultivo do meu clube de coração, paixão que me acompanha desde que me entendo por gente. Mesmo que isso implicasse, de alguma forma, em apoiar o projeto da nova diretoria, que vinha falando em eleições diretas, em mudança de estatuto e apresentava a própria formação do Conselho Consultivo como parte dessa nova postura democratizante e participativa.
Esperei algum contato do clube me comunicando sobre a formação do Conselho e consultando se dele eu aceitava participar (caso a indicação do meu nome tivesse sido aceita), bem como informando sobre o papel e os objetivos desse novo e aparentemente importante colegiado. Como nada aconteceu, terminei esquecendo o assunto.
Um belo dia, encontro um tricolor, amigo do meu filho, que me comunica: Legal, tio, você agora é conselheiro do Bahia. Eu vi no site, parabéns. Fiquei sem entender. Fui à página do Bahia na Internet e verifiquei, com certa surpresa, na área institucional do site o meu nome, entre outros tantos membros de um recém-formado Conselho Consultivo. Pensei comigo: qualquer hora alguém do clube me liga para explicar alguma coisa.
Era realmente uma boa idéia, a ser apoiada, a formação de um grupo de tricolores tradicionais, que pudessem de algum modo representar o imenso universo da torcida tricolor, participando com seus conselhos e opiniões naturalmente que quando assim solicitados pela diretoria das decisões mais importantes para a vida do clube.
Comecei a suspeitar da seriedade da iniciativa na medida em que o tempo passava e eu, como conselheiro, não era comunicado de nada. Soube, depois, que outros conselheiros consultivos também sequer sabiam dessa condição (não vou nominá-los porque não me autorizaram a tanto). Enfim, o Conselho Consultivo nunca se reuniu, nunca foi consultado sobre nada e muitos dos seus membros ignoravam tal distinção.
Quando a última diretoria de marketing do clube tentou mudar o escudo do Bahia por uma frescurinha tremida de triste memória, cheguei a escrever neste ecbahia.com sobre a inutilidade do tal Conselho. Se não era consultado sequer sobre uma mudança que se pretendia promover no símbolo maior do clube, para que serviria tal colegiado, a não ser para a diretoria fazer demagogia e se fingir de democrata?
Mas, a máscara da diretoria do Bahia não demorou a cair. A máscara da modernidade, do profissionalismo, da democracia, da competência. O amadorismo logo mostrou sua cara, a falência do projeto do presidente Marcelinho Filho logo ficou clara. O que se via era o velho Bahia de Maracajá, um Bahia que perdera a hegemonia do futebol baiano, um Bahia que não pagava em dia os salários de seus atletas e funcionários, um Bahia que perdia em campo e fora dele. Um Bahia ameaçado de cair de novo para a série C.
A torcida reagiu. Cada um com as ferramentas que tinha à sua disposição. Uns deixaram de comparecer aos jogos. Outros vaiaram. Alguns xingaram. A minha ferramenta sempre foi a palavra. E só me restava usá-la para protestar contra a situação a que estavam levando e continuam a levar o nosso Bahia sempre através deste espaço do ecbahia.com, um espaço da torcida no qual tenho a honra de colaborar.
Na semana passada, assaltou-me uma curiosidade: será que a democrática diretoria do Bahia me mantinha entre os membros da peça de ficção que concebeu e batizou de Conselho Consultivo? Fui até a área institucional do site oficial do Bahia, cliquei no Conselho Consultivo e… adivinhem! Acertou quem achou que eu estava fora do Conselho.
Exatamente isso: a volta dos que não foram. Deixei de ser o que nunca tinha sido. Assim como no Conselho me colocaram sem eu saber nem ser comunicado, da mesma forma de lá me sacaram. Porque botaram eu nunca cheguei a saber ao certo, mas porque tiraram eu não tenho a menor dúvida. De qualquer forma, vou lembrar sem saudades das reuniões de que não participei e dos muitos conselhos que não cheguei a dar. Nem eu nem ninguém.
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