O Bahia é um grande clube? É, haja vista sua estrutura e orçamento. Mas o Bahia é um clube grande? Depende. Somos campeões baianos, temos quase vinte títulos estaduais a mais do que o rival e temos o maior cartel de títulos do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Isso é fato que não necessita ser provado subjetiva nem objetivamente.
E em relação aos doze maiores clubes brasileiros? O Bahia é digno de se integrar a tais clubes como o fez na época da fundação do Clube dos Treze? Temos condições de brigar por títulos nacionais, como na época pré-2003 fazíamos com parca frequência? As evidências mostram que não, tendo-se em vista a campanha que o Bahia faz no atual Brasileirão, no qual só angariou um triunfo contra um dos doze, fora de casa.
Uma das maiores desculpas utilizadas por alguns dirigentes e torcedores para as pífias apresentações diante dos ditos grandes é o fato do futebol nordestino conviver com limitações econômicas e de mercado. Mercado, aliás, tido como muito aquecido pelo manager tricolor em entrevista mais ou menos recente o que inviabilizaria contratações de jogadores capazes de tornar uma equipe competitiva no nosso maior campeonato.
É sabido que a maioria dos clubes de futebol brasileiros convive com dívidas astronômicas em relação às receitas; é sabido também que a atual Legislação esportiva alija os clubes de recuperar o investimento realizado nos atletas da base e permite muitas vezes que empresários inescrupulosos lucrem fábulas de dinheiro com transferências de atletas jovens. Todos nós conhecemos estas dificuldades e não as negamos. Contudo, os problemas existem para serem resolvidos, e vemos exemplos como o Clube Atlético Mineiro, líder do atual campeonato, tendo no elenco atletas como Ronaldinho Gaúcho (tido como decadente no Flamengo) juntamente com vários outros atletas da base ou preteridos pelos clubes de Rio de Janeiro e São Paulo. Ressalte-se que o gaúcho é muito importante no time, mas se um dia ele sair não quebra o conjunto da equipe…
Há uma fórmula para o sucesso? Não há, mas o que pode ser feito sem medo de errar é montar uma equipe com atletas capazes de vestir a camisa e resolver, com diversas peças de reposição à altura no banco. No Bahia de Júnior, Jones e cia ltda. isso não acontece. O jovem atacante cearense de 36 anos, por exemplo, mal consegue dominar uma bola de costas para o gol (às vezes nem de frente), embora eu constantemente escute e leia comentários exaltando a sua raça em campo…
Enfim: vamos ao que interessa!
Em primeiro lugar, vejamos a tabela abaixo: ela fala de alguns indicadores sociais e econômicos de algumas das maiores UF, que são consideradas potências futebolísticas brasileiras. Ao mesmo tempo, mostramos alguns números dos clubes de futebol destas localidades.
Vejam que há uma correspondência entre a colocação de cada Estado no valor do PIB e a importância dos mesmos no futebol nacional. São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Bahia estão entre os seis maiores centros futebolísticos da atualidade, tendo-se como padrão o critério títulos nacionais conquistados dentro de campo. Pernambuco, exceção à regra, tem o décimo PIB nacional, porém possui o Sport como um dos ganhadores da Copa do Brasil e do eternamente contestado Brasileirão de 1987, conquistado fora de campo. Os números do Estado de São Paulo seriam ainda maiores se contássemos clubes como Santos, Paulista de Jundiaí, Santo André e Guarani de Campinas, todos detentores de títulos em âmbito nacional. Percebam ainda que na era dos pontos corridos, apenas clubes pertencentes a Estados com os três maiores PIBs venceram o Campeonato Brasileiro da Série A. A depender desta correlação, podemos corroborar a primeira hipótese desta coluna; a de que a riqueza do Estado ou da Capital é proporcional aos títulos conquistados por seus clubes.
Indicadores sociais e futebol
Frequentemente asseveram que cidades ou Estados mais desenvolvidos possuem clubes mais vencedores. Índices como PIB per capita e índice de Gini (mede o grau de desigualdades sociais, sendo que quanto menor seu valor, menores as desigualdades) são mensuradores da riqueza do local e potencial público consumidor. Na tabela acima, notemos que Salvador (menor dos PIBPC relacionados), Recife e Rio de Janeiro possuem altos índices de Gini em relação às outras capitais supracitadas; desta forma sendo um dado inútil para se inferir algo neste sentido. O mesmo se aplica ao índice IDEB, no caso da tabela acima, relativo à qualidade do ensino médio. Observem que Salvador, dentre as capitais mencionadas, tem o pior de todos os índices; ao lado de Recife e Rio de Janeiro. Cientificamente não é possível estabelecer este nexo causal entre desenvolvimento social e futebol, apesar de reconhecermos que uma cidade mais desenvolvida de povo mais instruído teoricamente possuirá cidadãos mais conscientes de si e da sua sociedade. Teoricamente.
Como este texto não tem a pretensão de possuir validade científica, deixo estas tabelas para conhecimento e reflexão do que vou comentar no final desta série de textos.
Futebol e mercado
Futebol é mercado, todos sabem disso. Clubes mais rentáveis possuem maior potencial de marketing e certamente atraem maiores patrocínios. Um dos critérios que definem quanto pode render um clube é o valor da sua marca.
Bahia: Segundo a BDO Consultoria (2011), o valor da marca é de 55 milhões de reais
Corinthians (atual campeão brasileiro, da Libertadores e ex-rebaixado para a Série B): R$ 1 bilhão e cinco milhões (BDO)
Coritiba (atual finalista da Copa do Brasil em dois anos seguidos e ex-rebaixado para a Série B): R$ 83,3 milhões (BDO)
Grêmio (ex-campeão do mundo, dentro do G4 do Campeonato Brasileiro, ex-rebaixado para a Série B e venceu o Bahia 3 vezes este ano): R$ 316 milhões (BDO)
Observem que o Coritiba possui atualmente valor de mercado maior do que nosso clube. Tem um título nacional contra dois do Bahia (sendo que venceu o poderoso Bangu na final) e também é um frequentador assíduo de divisões inferiores igual ao Bahia. Olhem lá pra cima e vejam os PIBs estaduais de Paraná e Bahia (um próximo do outro). Olhem qual o elenco do Coritiba e olhem qual é o do Bahia. São Estados parecidos, equipes parecidas. O que eles têm que nós não temos?
Pois bem! Vejamos uma breve comparação entre o Bahia e o Coxa-Branca, ainda segundo a BDO:
Esta é a evolução do Coxa nos últimos 4 anos. O valor de mercado subiu da casa dos 50 a 60 milhões até os 80 milhões em apenas um ano. Qual o segredo? Seriam DUAS FINAIS CONSECUTIVAS DE COPA DO BRASIL?
Vejamos a evolução da marca Bahia, ainda segundo a BDO Consultoria:
Os anos nas divisões inferiores do futebol nacional prejudicaram muito o Tricolor. De 17 milhões, quando brigava para não cair na Série B do Brasileiro; a 55 milhões na Série A, mesmo que atualmente brigando para não cair. A Série A é o melhor marketing para um clube, e uma queda certamente possui efeitos negativos tanto no valor da sua marca, como nos patrocínios e cotas de TV.
Aliás, as cotas de TV são um capítulo à parte. Clubes de maior valor de mercado rendem mais ibope às emissoras que tenderão a privilegiar tais equipes em suas transmissões. Um jogo entre Bahia e Corinthians em Pituaçu não é o jogo do Bahia para as grandes redes, e sim o jogo do Corinthians. O modorrento placar de zero a zero no último encontro entre ambos não foi lá grande coisa para o Tricolor, mas foi fartamente justificado pelos cronistas paulistas como reflexo da acomodação pós-conquista da Libertadores pelo Timão.
Temos vinte clubes na Série A e grandes redes de televisão sempre contrariando interesses regionais: este é o panorama atual. Os clubes do segundo escalão aquém G12 são sistematicamente prejudicados pela fome do mercado; cujas consequências incluem a massiva torcida do Flamengo em cidades como Brasília, Manaus e capitais do Nordeste, bombardeadas constantemente com as gírias, cultura e costumes apregoados pela Rede Globo, carioca da gema e única emissora presente nos lares de diversos municípios durante décadas. Enfim: a distribuição das cotas de televisão, que deveria ser paritária e igual entre as equipes, acaba não o sendo, prejudicando os menores, favorecendo a impenetrabilidade destes na elite dos maiores e aumentando o público consumidor dos maiores a cada dia em detrimento dos menores.
O Rio Grande do Sul ainda resiste à ditadura global. Já presenciei pessoalmente nas TVs locais jogos do Grêmio e Inter sendo transmitidos para este Estado em detrimento do jogo do Flamengo transmitido para o Nordeste. Aliás, os clubes locais do Rio Grande são mais do que simples clubes: são tratados como algo cívico nos Pampas! É muito difícil ver um torcedor que não seja da dupla Gre-Nal na terra de Ronaldinho… natural num Estado onde as Casas Bahia tiveram que se retirar do mercado local por causa do nome Bahia em parte; e noutra parte por não ser um grupo de capital gaúcho. Ok, a explicação oficial para este fato foram problemas com impostos relativos às operações de crediário, o forte deste grupo paulista; mas por que o paraibano Magazine Luiza ainda existe em terras gaúchas???
Finalizando esta primeira parte, eis mais uma tabela da BDO, sobre despesas com futebol por parte dos clubes brasileiros, confirmando a teoria de que os clubes do dito G12, pertencentes às quatro regiões mais ricas do país, são os que investem mais. Diante disso, a pergunta que não quer calar é: cadê o Bahia???
Finalizando, vejo que o valor de mercado do Bahia poderia ser muito maior do que o do Coritiba, por exemplo, e se aproximar de pelo menos a metade do valor de mercado do Grêmio se nosso clube estivesse frequentando a parte de cima da tabela do Brasileirão e disputando títulos nacionais relevantes com alguma frequência. Quanto ao item despesas, apesar do Bahia não estar na tabela publicada, vejo que a Ponte Preta, que está na primeira divisão, tem menores despesas e tantos títulos nacionais relevantes quanto o nosso maior rival da Série B; está muito melhor colocada na tabela que o tricolor baiano…
Um valor de mercado maior atrai patrocinadores, parceiros, empresários outros etc. Pode inclusive dar força política para botar as cartas na mesa no que diz respeito às cotas de TV. Isso porque não falei do quadro social como fonte de renda, da valorização que provoca o desaquecimento do mercado de jogadores em relação ao potencial do clube, da marca que atrai o jogador mais qualificado, etc, etc, etc.
Aí eu me pergunto: será que Sua Alteza, o Presidente do Esporte Clube Bahia, tem plena consciência disso tudo?
Não sou economista nem sou um especialista em marketing esportivo. Considerem este longo texto como o resultado de um porre que tomei no fim de semana.
Saudações Tricolores e até a próxima parte!
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