é goleada tricolor na internet
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Publicada em 6 de agosto de 2015 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

A tentação de vender a maçã

Quanto vale uma ideia?

Quanto vale acreditar em um conceito?

Quanto vale persistir no que se confia?

Agora a pergunta Guaramix (risos):

Quanto vale hoje a marca da Apple?

Para o primeiro triunvirato de perguntas, o presidente Marcelo Sant’Ana poderia responder com uma cifra: R$ 13 milhões.

Este é o valor da transação que selou a venda do volante Bruno Paulista para o Sporting. O jovem de apenas 18 anos repete o destino de Anderson Talisca e vai jogar no futebol português — detalhe que Talisca defende o rival, o Benfica.

Citei Talisca aqui não à toa. Uso ele como gancho para uma rápida digressão.

Lembro de uma conversa que tive com Marcelo no ano de 2014, ainda antes dele ser eleito presidente do Esquadrão. Eu morava em Fortaleza e Marcelo viajava, como repórter do Correio, para cobrir a Copa do Mundo no Brasil.

Findadas nossas atividades na divulgação da Seleção Brasileira fomos beber uma cerveja no chopp do Bixiga, no Dragão do Mar. O amigo e engenheiro tricolor Iran Santos também estava presente na ocasião.

Falamos entre outros assuntos sobre a venda de Talisca. E Marcelo sacou um argumento que considerei bem inteligente à época. Sem a precisão literal, corroída pelos lapsos de memória, lembro que ponderou algo nesta linha:

“Mesmo sendo um bom negócio, a diretoria não pensou no critério técnico. Se o orçamento estava apertado deveriam ter vendido Pará. Assim faziam caixa e seguravam o craque do time”.

Vale contextualizar que, quase concomitantemente, Pará tinha recebido uma proposta. Mas a diretoria (comandada por Schmidt) vetou a saída do lateral e optou pela transação mais lucrativa, que era a do meia.

Ao meu ver, esta pequena história, aliada a campanha que conduziu Marcelo à presidência, foram escanteadas no acordo que selou a comercialização de Bruno Paulista.

Por mais que a proposta por Bruno tenha sido financeiramente vantajosa — sim, pois realmente foi. Ainda mais com os 10% que seguem de posse do tricolor para futuras negociações internacionais –, ela representa uma ruptura no discurso apregoado por Sant’Ana.

Não dá para sustentar uma política de “valorização da base”, “formação de ídolos em casa” e nem mesmo “atração de novos sócios” quando se vende uma promessa antes mesmo de se completar um ano como profissional.

Todas as aspas acima são do próprio Sant’Ana em entrevistas recentes.

Vale lembrar que Bruno Paulista é o principal jogador desta nova safra recém-egressa da base. É de longe o mais técnico, o que tem melhor força física e com maior potencial entre todos que subiram entre o fim do ano passado e o decorrer desta temporada. Foi justamente ele que os gringos vieram buscar. Sabem das suas virtudes. Apostaram nele. O Bahia, não.

Ok, minha comadre.

Mas aí você vem toda faceira e pondera que ser uma promessa não significa que irá se tornar um grande jogador. Que mesmo com todas as suas qualidades, Bruno pode não vingar. E que neste caso o Bahia pode ter feito um bom negócio vendendo um atleta que ainda é uma incógnita.

Está bem.

Mas deixe de ficar espevitada e escute.

Quanto vale acreditar em um conceito?

Na vida e no futebol — o que dá rigorosamente no mesmo — não se tem garantia de nada. Ou se confia naquilo que faz ou cede-se à pressão do imediatismo.

Sant’Ana não confiou no próprio discurso de valorizar a base. Vendeu o melhor jogador. Desconfio muito que lembre-se da conversa no Dragão do Mar, quando sugeriu uma alternativa para manter o aspecto técnico incólume.

Vislumbre este cenário. O Bahia na Primeira Divisão em 2016 (oxalá, pé de pato, mangalô, três vezes). Bruno Paulista mais maduro e atuando contra grandes times do Sul do país. O quanto de ganho técnico ele poderia dar ao time?

Quanto valeria seu passe nestas condições?

Provavelmente muito mais que R$ 13 milhões.

E então.

Quanto vale acreditar em um conceito?

Mas aí você não desiste e vem de novo com seu punhado de argumentos, minha comadre.

Vem toda brejeira dizendo que Bruno Paulista era banco, que o Bahia é Série B. E, que por fim, o negócio vai salvar as contas do clube.

Quando Sant’Ana foi eleito, escrevi no twitter que o grande desafio desta gestão era viabilizar novas receitas para sustentar o plano de governo.

Se queria mesmo valorizar a base teria que achar alternativas bancárias para não se desfazer das joias prematuramente. É justamente o inverso do que está acontecendo. Este ano já foram duas vendas. Pará e Bruno Paulista.

O plano de sócios patina. As receitas publicitárias aumentam aos magotes, mas nenhuma parece ser a menina dos olhos verdes. Falha-se no comercial e a solução é se desfazer no aspecto técnico.

E, vá por mim, para quem se enxerga como “o novo” e propõe reformadas mentalidades para o futebol brasileiro este tipo de prática está desconectada do discurso. Vender jogador para saldar as contas do clube é conduta que toda a linha sucessória recente de ex-presidentes do Bahia fez.

Isso não é nova mentalidade. Nova mentalidade é encontrar novas receitas para salvaguardar o clube. O elenco. A divisão de base, prioritariamente.

Ah, sim. Vamos para a resposta da pergunta Guaramix.

Em fevereiro deste ano a Apple valia US$ 736,5 bilhões. Como esta é uma cifra inquantificável, vale dizer que correspondia a soma de todas as empresas brasileiras com ações na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo).

A Apple nasceu como uma empresa de fundo de garagem. Quando começou a fazer um relativo sucesso quiseram colocar um preço sobre ela inúmeras vezes. Mas até a empresa maturar o suficiente Steve Jobs recusou em nome de um conceito.

E então.

Quanto vale uma ideia?

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