O Bahia nasceu em 1º de Janeiro de 1931. Mas a sua refundação aconteceu ontem: 24 de novembro de 2006.
Será uma data que irá ficar marcada na vida do clube e na própria história do futebol brasileiro. Em um feito inédito, uma torcida de clube vai às ruas protestar.
E foi arrepiante ver a massa gritar, a plenos pulmões, Bahia, Bahia, minha vida, Bahia meu orgulho, Bahia meu amor!.
E somente essa indomável e maravilhosa torcida tricolor, com a sua força descomunal, poderá tirar o Bahia da situação em que se encontra. Para levantar o gigante caído só uma força ainda mais gigantesca.
O jornalista Juca Kfouri foi, mais uma vez, esplendoroso: “a passeata simboliza o Diretas-Já do futebol”.
Aliás, três outros jornalistas, queridos amigos e companheiros tricolores, me fizeram engolir seco e marejar os olhos nesses últimos dias de extrema emoção: Samuel Celestino, João Carlos Teixeira Gomes e Paulo Roberto Sampaio.
Samuel, presidente da Associação Bahiana de Imprensa e um dos melhores jornalistas da terra, foi preciso: O velho Bahia de tradições e glórias, de Adroaldo Ribero Costa, que aqui fica como símbolo, para não citar outros nomes, foi saqueado na sua história e arrastado para um processo de decadência progressiva até chegar à situação do momento: ao nada ou ao quase nada. O que eu quero é mandar os malditos embora. É dissolver o Conselho. Auditar as contas do clube. Saber o quanto deve, a quem e por que deve. Diagnosticar a derrocada de uma tradição. Quero o resgate de uma paixão que não é minha nem de ninguém.
João Carlos, o nosso Joca, filho do primeiro goleiro da história do Bahia Teixeira Gomes escreveu, de forma brilhante, no jornal A Tarde o resumo da nossa tragédia tricolor e a dimensão que essa catástrofe representa para a Bahia. A destruição do Bahia não é apenas um fato esportivo, mas sobretudo um abalo social, pela imensidão da sua torcida, capaz, sozinha, de encher estádios. Isto é o fator que confere ao fenômeno uma dimensão de tragédia coletiva. Há um clima de abatimento na cidade. O Bahia é, visceralmente, uma metáfora da própria Bahia, da sua grandeza e dignidade. O Bahia era, em campo, o espírito heróico da resistência e da bravura, o vingador das nossas tradições, o famoso Esquadrão de Aço, imbatível em seu terreiro, mas hoje é apenas um aglomerado de jogadores sem fibra, dirigidos por um bando de coveiros, aferrados ao poder ilusório, mesmo na desmoralização.
E por último, Paulo Roberto Sampaio, competente editor do jornal Tribuna da Bahia, que me fez ir às lágrimas com o seu Um amor eterno uma verdadeira carta de amor, escrita com o coração, apaixonadíssima, em que ele fala do seu day after após a humilhante goleada por 7X2 sofrida para o Ferrim. Onde foi que falhei? Sei que nem lá estive, não entrei em campo e mal ouvi pelo rádio, mas é como se cada um daqueles sete gols a bola tivesse passado por debaixo das minhas pernas, escapado dos meus braços e tomado o caminho das redes. O exemplo de ontem me fez renovar minhas forças. Ver a Avenida Sete tomada de irmãos tricolores a cantar com orgulho esse hino que é quase uma oração, me fez ter a certeza de que o Bahia é maior que tudo e que todos.
Emoção em cima de emoção.
Ontem era um protesto e foi: fora Petrônio, fora Maracajá, fora Marcelo, fora Accioly, fora todos os coveiros, devolvam o meu Bahia. Mas foi, sobretudo, a festa de reencontro do Bahia com o seu povo.
Que sensação juvenil de voltar às ruas, quase 30 anos depois, para protestar, disse Fernando Passos, enquanto caminhava ao lado do maior presidente ainda vivo da história do Bahia, Fernando Schimidt.
Lá estava Fernando Jorge Carneiro, Jorge Maia, Reub Celestino, Cid Guerreiro, Lui Muritiba, Edmilson Gouveia, Ademir Ismerim, Ivan Carvalho, Marcos Verhine, Nelsinho Barros, Marcos Viana, André Barros, Paulo Coelho, Alberto Oliveira, Enock Ferreira, Nuno, Humberto Pitanga, Durval Mesquita, Luís Osório Villas Boas, Walter Telles, Lídice da Mata, Nelson Pelegrino, Sandro Régis, Walmir Assunção, Téo Senna, Ângelo Coronel, Elmar Nascimento e Marcos Medrado.
Lá estava Mário Kértesz – embora não fisicamente e a sua capacidade de auscultar a tristeza do povo e captar esse inexplicável sentimento de baianidade, que muitos falam, mas realmente poucos conhecem tão bem. Ao emprestar a sua emissora de rádio à campanha Devolva meu Bahia, Mário fez um tento de glória na sua história de vida e no destino do Esporte Clube Bahia.
Mas, sobretudo, lá estava o povo do Bahia, gente que a todos não conheço pelo nome, mas reconheço como irmão. Gente que me faz reconhecer a mim mesmo, na multidão, como apenas mais um, mais um Bahia!
Com certeza, essa fantástica torcida do Bahia é maior que tudo e que todos!
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