Eu entendo Paulo Miranda e Val falarem as asneiras que disseram, cada um numa entrevista. Óbvio que não concordo, mas entendo esse fato acontecer. Culpa do próprio Bahia, que perdeu quase uma década inteira, de suas oito de vida, patinando em divisões de acesso e com times horrorosos. E culpa dos dois jogadores em questão, que retratam bem a cultura do boleiro brasileiro de ignorar qualquer história que o próprio não consiga se lembrar em vida.
Em resumo, ambos chamaram o Bahia de “pequeno”. Paulo Miranda colocou o Bahia no mesmo bolo do Oeste de Itápolis, numa frase desastrada que disse que quando jogava em times pequenos, Oeste, Bahia, não fez bobagens em partidas. Tá, a gente sabe que é mentira dupla essa frase. Val foi ainda pior, primeiro dia no novo clube, vindo do Mogi Mirim, e me solta a pérola que está no Bahia pra tentar ser visto por clubes grandes e garantir “um algo a mais”.
Eu entendo eles acharem que o Bahia é time pequeno. Não aceito, mas entendo. A ignorância futebolística assola os nossos boleiros. É muito raro um jogador buscar se informar o mínimo que seja sobre o time em que está indo jogar. Por isso que é especial, mesmo que seja uma jogada de marketing travestida, ver Neymar, por exemplo, comemorar gols com homenagens a ídolos do passado do Santos, como Serginho Chulapa e João Paulo, por exemplo. Ou ver Gabriel, nossa jóia, citar craques tricolores como Beijoca em algumas entrevistas.
Mas isso é raro.
Então, um cidadão de 20 e poucos anos, como Paulo Miranda, que de fato não tem como ter visto ou se lembrar do Bahia outrora campeão, comete umas bobagens como essa. A sua ignorância futebolística certamente não o impede de conhecer Pelé. Mas ela permite que ele desconheça qual foi o time campeão brasileiro em cima do poderoso Santos do Rei, em 1959. Ele também sabe qual é o maior campeonato de clubes da América do Sul, e sabe que a vaga para esse campeonato vale como um título. Mas sua ignorância o faz desconhecer qual foi o primeiro time brasileiro a jogar uma Libertadores da América.
Sua ignorância da história do futebol não lhe permite saber que, em 1988, as mesmas três cores que ele profissionalmente envergou subiram no lugar mais alto do pódio do Campeonato Brasileiro pela segunda vez. Ele já deve ter ouvido falar do Clube dos 13, mas sua ignorância não deve lhe permitir saber que o time que hoje ele descasca é um dos fundadores da instituição que reunia, então, apenas os campeões brasileiros. Que rivalizando com clubes centenários, uma jovem agremiação de pouco mais de 80 anos passou mais da metade deles erguendo troféus de campeão estadual.
Eu até coloco em segundo plano o fato de Paulo Miranda falar uma asneira dessas, quando vejo nossas redes de televisão, dentro do Estado, passarem jogos de Corinthians, São Paulo, Flamengo, mas não do Bahia. Prova disso foi a transmissão de Atlético-MG x Corinthians no último domingo, quando, no mesmo horário, o Bahia encarava o São Paulo no Morumbi. A maior emissora da Bahia, mesmo após o sucesso de audiência que foi a transmissão do Campeonato Baiano (com ibope maior, inclusive, que as transmissões das finais do Paulista e do Carioca), não transmitiu o jogo do Bahia pelo principal campeonato do país. Isso, pra mim, é inadmissível. Fora as infelizes brincadeiras correntes de Jair e Vicentino, mas isso é outra querela.
É uma merda ouvir de gente ignorante que o Bahia é um time pequeno. Um time com esta tradição, com esta sala de troféus e com esta torcida, não é pequeno em país nenhum. Mas pior ainda é perceber que essas frases não são provocações gratuitas. São fruto de uma ignorância perpetuada pelo próprio clube num passado recente, um passado que foi muito perigoso para a própria sobrevivência da instituição Esporte Clube Bahia. E, se agora essa imagem nacional vem sendo resgatada, também se faz necessário não cometer os mesmos erros de outrora, no gramado e na administração, mas também no entorno do clube de futebol.
E a mídia e a imprensa baiana, notas de repúdio à parte, tem o dever de valorizar o que temos em nossos domínios. Não é tapar o sol com a peneira nem fazer vista grossa pra nada. Mas é colocar os nossos como prioridade, simplesmente pelo fato de serem nossos. É valorizar o que temos de melhor. E o que temos de melhor hoje na Bahia, futebolisticamente falando, chama-se Esporte Clube Bahia, doa a quem doer.
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