Como esta se trata da minha primeira manifestação neste espaço, acredito ser justo iniciar com algumas considerações sobre esta coluna, que serão expostas logo abaixo.
Após algum tempo de ativa militância em prol do Esporte Clube Bahia e intensa participação nos espaços virtuais que tratam dessa grande paixão – onde fiz muitas amizades, participei de muitas lutas pela democratização do clube e sempre busquei contribuir para que os anseios de nossa nação fossem tornados realidade -, fui convidado a contribuir com esta coluna no site mais tradicional, democrático e querido da torcida tricolor, o ecbahia.com.
Antes do convite – que vem atender à solicitação dos companheiros foreiros deste espaço democrático -, já ansiava por esta oportunidade e espero estar à altura do desafio de trazer à vocês meus pontos de vista sobre os temas relevantes ao assunto Esporte Clube Bahia.
Tenho a convicção de que utilizarei este espaço para iniciar reflexões que espero ecoarem no seio da torcida. Também desejo que minha voz ressoe, verbalize e repercuta os anseios e ansiedades, alegrias e tristezas, vontades e desejos desta imensa nação de fanáticos.
Ainda antes de tratar do assunto desta primeira coluna, e para que se tenha condições de antecipar a tônica deste espaço em suas próximas edições, gostaria de citar um grande tricolor, membro da ABL, Alexandre Teixeira, que afirma com orgulho: Detesto futebol, eu gosto mesmo é do Bahia!.
Agora, vamos ao que interessa:
Nesta semana fomos brindados por uma excelente reportagem do competente Nelson Barros, no jornal A Tarde, que trata do projeto do Governo do Estado para construção da nova Fonte Nova. O artigo, que repercutiu nacionalmente, trouxe à pauta a polêmica conclusão do estudo de viabilidade econômica do projeto, de que para que haja retorno dos investimentos efetuados após a Copa do Mundo de 2014, Bahia e vice (acostumem-se, pois neste espaço não será de outra forma que tratarei a agremiação que não sabe se é, não sabe se não é, quando por força maior for obrigado a citá-lo) deverão obrigatoriamente mandar seus jogos na nova Fonte Nova, pelo menos 28 e vezes por ano, cada.
Dentre as reações à polêmica, surpreendente para mim e, com certeza, para maioria dos tricolores, foi a declaração de nosso presidente (também para irem se acostumando, pois é sem personalismo que tratarei o presidente do Esporte Clube Bahia), de que não acredita na competência deste governo para a reconstrução da Fonte Nova. Sem partidarismo (humano que sou, apesar de indivíduo político, não considero o espaço adequado para isso), considerei totalmente descabida esta afirmação, pois trata-se de uma aposta arriscada, em nome de um projeto político do deputado e seu grupo, com vistas às eleições de 2010, que pode prejudicar o trabalho do presidente do clube, além do próprio clube, obviamente.
Este é o problema (para o clube) de um único homem vestir vários chapéus: o do presidente, o do deputado, o do político, o do herdeiro do continuísmo, o do arauto das mudanças, etc.
Inadequação da resposta do presidente à parte, antes de tecer comentários sobre a polêmica conclusão do estudo, gostaria de analisar alguns fatos sobre a Copa do Mundo e o negócio Futebol. Para os devidos esclarecimentos, não pretendo esgotar o assunto, nem ousaria insinuar ser capaz de tal feito.
Apenas, como sempre, gostaria de incentivar o debate e ao final deste texto expor o meu ponto de vista de forma racional. Pois, em que pese louvar o profissionalismo de iniciar planejamento e estudos complexos sobre projeto tão importante e, diga-se de passagem, seja digna de menção a preocupação em otimizar o investimento a ser efetuado, me intriga a seguinte questão: esta conclusão é a melhor para a sociedade, para o povo e, especificamente, para a imensa Nação Tricolor?
Como é do conhecimento até do mundo mineral, 12 cidades irão sediar a Copa do Mundo de 2014. Dentre elas, interessam ao meu raciocínio: Salvador (é óbvio), Recife, Cuiabá, Manaus, Natal, Curitiba e São Paulo.
Então, passemos a analisar a situação de cada cidade sede:
* Estima-se que Recife encontre sua solução na construção da assim chamada Cidade da Copa, com uma PPP (participação público-privada) em uma cidade de sua região metropolitana, a 25km da capital e custo total de R$ 1,6 bilhão. Recife possui 3 clubes grandes, cada um com seu estádio particular.
* Cuiabá, Manaus e Natal não possuem grandes clubes no cenário nacional.
* O projeto cuiabano, modificado após a escolha da cidade pela FIFA, prevê um estádio com capacidade reduzida às dimensões do mercado local após a Copa do Mundo.
* As autoridades políticas amazonenses prometem que o estádio de Manaus será construído com dinheiro 100% proveniente da iniciativa privada.
* Natal construirá, no local do Machadão, sua Arena das Dunas em local privilegiado com capacidade para 45 mil pessoas e cuja capacidade de captação de recursos é avaliada, segundo a Lusoarenas ( aquela mesma da arena multi-uso em parceria do Bahia com o vice), é de R$ 5,4 bilhões a longo prazo. Esta informação pode ser checada no site da empresa, no seguinte endereço: http://www.lusoarenas.com/pages/noticias_18_02_2009.asp
* Curitiba, cidade em que o Bahia estará pelejando contra o Paraná (tomando como referência o momento em que escrevo estas linhas), planeja utilizar a Arena da Baixada como estádio e orçou o projeto em 158 milhões de reais, quantia que o Atlético-PR já sinalizou não ser capaz de arcar sozinho.
* São Paulo, forte candidata a abrir a Copa de 2014, parece inclinada a aplicar dinheiro público no estádio particular do São Paulo, o Morumbi. Uma situação que não tem deixado felizes os torcedores de Corinthians e Palmeiras, que desejariam a construção de um novo estádio nesta capital.
* Salvador, como sabemos, planeja reconstruir a Fonte Nova, com um projeto, orçado em R$ 550 milhões, que atenda às exigências da FIFA, com capacidade para 50 mil pessoas e que vai substituir a piscina olímpica e o ginásio Balbininho por áreas para estacionamento. Além disso, se planeja que o preço do ingresso seja elevado, para viabilizar economicamente o investimento.
Após analisar a situação de algumas cidades sede, podemos verificar alguns fatos sobre o tão famoso negócio do Futebol.
* O maior clube do Brasil em faturamento e exposição na mídia, o São Paulo, tem uma receita anual de R$158 milhões, cuja composição é efetuada por 50% advindos de venda de jogadores, direitos de televisão e patrocínio, e os 50% restantes formados por bilheteria, sócios, premiações e uma diversidade de outras fontes de receitas.
* Se fosse uma empresa, o São Paulo seria apenas a 1.195º maior empresa do Brasil em termos de faturamento anual.
* Com média de público de 40 mil pessoas por jogo, o Bahia foi líder de público em 2007, apesar de ter disputado a série C.
* O presidente do vice, em desespero, foi à mídia suplicar o comparecimento de sua torcida ao seu lixão, pois sua receita com bilheteria tem sido insuficiente, para não dizer vergonhosa.
Agora, umas verdades sobre o calendário do futebol:
* Um ano tem aproximadamente 52 semanas e o calendário do futebol brasileiro prevê férias no mês de janeiro e no final de dezembro. Logo, temos apenas 46 semanas, aproximadamente, disponíveis para o futebol.
* Levando-se em conta que os campeonatos de futebol são disputados em jogos de ida e volta, e que a freqüência ideal para que um clube profissional se apresente em campo é de um jogo por semana, pode-se supor que há 23 datas disponíveis, num mundo ideal e profissional, para que um clube atue em seus próprios domínios.
Pronto! Apresentados os fatos, vamos aos argumentos:
Uma empresa privada (Lusoarenas) prevê que o retorno em longo prazo (R$ 5,4 bilhões), de uma cidade muito menor que Salvador (Natal), sem um clube da expressão do Bahia, seja de 10 vezes o valor do investimento a ser efetuado no projeto da nova Fonte Nova (R$550 milhões). Disto, depreende-se que, ou o projeto de soteropolitano está subestimando a capacidade de nosso mercado, ou próprio projeto não é bom o suficiente. Há a possibilidade da Lusoarenas estar hiper-dimensionando o retorno do investimento, mas o que ela ganharia com isso?
Enquanto isso, cidades que não têm nossa tradição no futebol, como Cuiabá, já buscaram soluções para seus problemas, ao adaptar seu projeto ao pós-copa, sem fazer feio na própria copa. Por que Salvador não pode fazer o mesmo?
Com uma receita média de bilheteria de R$ 400 mil, com um ingresso médio de R$ 20, para uma média de 20 mil pagantes, em 26 jogos, o Bahia captaria cerca de R$ 10,4 milhões anualmente, somente com bilheteria. Portanto, em torno de 10 anos – levando-se em conta a capitalização desta série anual de receitas -, somente com receita de bilheteria, o Bahia arrecadaria o que foi orçado para o projeto da Arena da Baixada.
Tudo bem, o projeto baiano tem um custo maior que o da Arena, podem questionar. Mas, eu argumento: seu custo maior advém do fato de que é um projeto que vai construir mais que um estádio e logicamente por isso não pode esperar receita vinda apenas do clube, ou clubes, que mandarão seus jogos lá. O retorno deve vir de todos os negócios gerados pelo projeto, não apenas dos jogos de futebol.
O clube que mais arrecada no Brasil, e que vai receber investimento público em seu estádio para a copa do mundo, provavelmente obtém uma receita em torno da que estimo que o Bahia obteria (GOLLL!!!!!!! O Bahia acaba de virar em Curitiba! A coluna é pé-quente!). Esta receita não é suficiente para manutenção do clube em níveis de alta competição, como demonstrado acima pela composição de suas receitas.
O Bahia busca ter sua casa própria e o vice faz questão de manter seu lixão. Compartilhar o estádio parece não ser uma boa opção para os dois clubes. Então, por que o governo não pode realizar o que é mais lógico e o Bahia assumir em parceria apenas com uma empresa privada a administração da nova Fonte Nova? (Acabou, o Bahia ganhou e tomara Deus subirá esse ano!)
Dessa argumentação, posso concluir que a exigência de 56 jogos durante o ano para a viabilização do estádio não parece ser adequada e que na Bahia há um, e apenas um, clube com apelo econômico suficiente para a viabilização de um estádio como a nova Fonte Nova e esse clube se chama Esporte Clube Bahia, fato este que casa perfeitamente com as necessidades do clube. Qualquer outra solução não é a mais lógica e racional e está fadada ao fracasso.
xxx
Aproveito o espaço para pedir que a nação ajude a salvar vidas tricolorindo corações com nosso sangue azul, vermelho e branco doando sangue e medula óssea no Hemoba.
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