é goleada tricolor na internet
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Publicada em 19 de agosto de 2013 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

A crônica de um anacronismo

Antes que me acusem de plágio, vou logo dizendo que o título aí foi tomado de empréstimo a um filme italiano que vi recentemente (Basilicata Coast to Coast), mas não achei nada mais apropriado para introduzir (lá nele) o assunto que me traz de volta da minha hibernação literária e escrevinhadora.

Gostaria muito que os 18 meses nos quais me mantive afastado das colunas aqui no ecbahia.com tivessem sido de ócio criativo, mas foram mesmo é de desalento paralítico e involutivo. Não havia nada de novo sob o Sol obscurecido e tudo continuava apodrecendo no reino da Dinamarca.

Mas eis que, se não quando, de túneis no final da luz, começaram a aparecer luzes nos finais dos túneis! E foi a Justiça que acionou o chuíte (switch) para acender essas luzes. E a Justiça Baiana!

Costuma-se dizer anedótica e maldosamente que no Brasil existem 03 tipos de Justiça: a boa, a má e a da Bahia. Pois não é que foi justamente a nossa Justiça local tão achincalhada que veio colocar ordem no caos e visibilidade na mutretagem?

O Bahia agonizava há tempos. Sucediam-se capitanias hereditárias, transações opacas, gestões temerárias e/ou fraudulentas e/ou perdulárias. Eram tantos e tão longos esses tempos que os seus torcedores já consideravam o estado agônico como sendo de uma normalidade irreversível. Para se estar em dia com a moda imposta, inserido na atualidade, era necessário absorver esse status das coisas e seguir a corrente predominante com a necessária subserviência, sem questionamentos, sem racionalismos, sem legalismos e sem caça às bruxas. O contrário seria retrocesso, inconseqüência, contrapondo-se à decantada dinâmica futurista da administração do clube.

Mas de tão evidentes e intoleráveis, as arbitrariedades acabaram por ser alvo de um quixotesco conselheiro solitário. O calejado e destemido lobo Jorge Maia decidiu fazer uma contestaçãozinha judicial para ver preservados os seus direitos. Surpreendentemente bem sucedido em sua postulação de ilegalidade na formação do Conselho Deliberativo e na sua destituição do mesmo, obteve um parecer que implicava em intervenção nas hostes do clube.

Só que a coisa não foi logo para os finalmentes porque as manobras e os recursos jurídicos da tropa de choque, que atua nas horas pardas das madrugadas, trataram de conseguir todas as procrastinações possíveis e até as improváveis. Sem falar no sumiço das CPUs que deveriam estar à disposição do interventor, com direito a um post debochado e indigno do ex-presidente em rede social, quando conseguiu sucesso em mais uma manobra para barrar a intervenção. Era o retorno à “normalidade”, ao anacronismo de vanguarda.

Mas, encurtando a história, em nove de julho de 2013 o Sol voltou a brilhar tanto quanto no dois de julho de 1823. A intervenção no Bahia finalmente se materializou. Pode parecer meio exagerado comparar essas duas datas, porque, para conquistar a alegria da independência da Bahia, o sangue literal dos heróis caboclos foi derramado profusamente no solo de massapê do nosso Recôncavo. Entretanto, a libertação do Bahia dos seus algozes fez jorrar lágrimas de felicidade tantas quantas na nação tricolor e não ficaram restritas ao solo baiano.

E eis que assume o comando da intervenção a figura de um advogado e professor de Direito, cuja menção no currículo mais destacada pela imprensa era a de ser torcedor do Galo Mineiro. Eu confesso que achei até interessante esse pormenor, porque significava certa isenção. Mas fiquei preocupado quando os inevitáveis boatos davam conta que depoimentos de seus alunos asseguravam que o mesmo seria torcedor do… daquele time lá que chamamos de carniça. Preocupação reforçada pelo fato de que os torcedores desse time inominado já estavam levando faixas e cartazes para o estádio com os dizeres: “Fica MGF!”

Dei pouca relevância para a boataria e passei a acompanhar o noticiário para me inteirar das ações que estavam sendo tomadas pelo interventor e pelo seu grupo de assessores, nomeados pelo Desembargador Paulo Albiani, além dos contra-ataques jurídicos desesperadamente efetivados pelo pessoal destituído com advogado nababescamente constituído, pelo que se veiculou.

Aí começou uma sucessão ágil de medidas emergenciais saneadoras tomadas pelo interventor e sua equipe, que iam ao encontro dos mais profundos anseios e impensáveis devaneios de nosotros torcedores alijados da participação na vida do nosso clube do coração: foi instaurada uma auditoria independente; a polícia civil foi chamada para arrombar armários cujos acessos tinham sido impossibilitados pela ausência dos funcionários, ligados à diretoria, que deixaram de comparecer ao trabalho; as contas bancárias do clube começaram a ser rastreadas; a relação dos funcionários do clube foi divulgada e se descobriu que o presidente do Conselho Deliberativo fazia parte da folha de pagamento, numa clara afronta ao Estatuto, entre outras constatações de moralidade, no mínimo, questionável; o interventor, obstinada e heroicamente, passou a buscar meios de saldar as dívidas mais prementes para a sobrevivência do clube; começou a fazer o indispensável recadastramento dos sócios.

E não parou por aí: numa surpreendente, destemida e acertadíssima decisão, abriu o clube para novos associados reduzindo os valores exorbitantes da jóia fixados pela diretoria destituída, que não tinha o menor interesse em aumentar o quadro de sócios, numa deslavada atitude para se manter no poder com o mínimo de opositores. O resultado foi acachapante: mesmo ainda guardando uma certa desconfiança relativa à efetividade de mais um processo de associação, os torcedores respondemos em massa ao chamado. Os números ainda não estão definidos com precisão, mas já ultrapassam todo o universo de torcedores que se associaram desde a fundação do clube em 1931.

E, por fim, mas não menos importante, foi convocada uma Assembléia Geral dos sócios para mudar o Estatuto e permitir, entre outras coisas, a tão sonhada eleição direta sem filtros para a presidência do Bahia.

Eu estive lá na Fonte Nova no dia 17 de agosto de 2013. Fui para votar e para me beliscar e crer. Nesse último momento ainda tive que presenciar mais um instante de suspense ao aguardar que o interventor saísse para mais um embate jurídico que assegurasse a realização da Assembléia para reformar o Estatuto, porque o pessoal que gosta de osso não estava disposto a largá-lo sem as últimas rosnadas.

E eis que ele voltou, pelo túnel de acesso ao campo, erguendo os braços em sinal de triunfo e nos comunicou com a sua voz calma e firme sobre mais uma decisão favorável aos torcedores do Bahia tomada pela Justiça Baiana.

E fomos às urnas. Os antigos de um lado e os mais novos de outro – imposição de uma liminar que ainda não houvera sido cassada, creio que, estrategicamente. O resultado? A zorra mudou, meu irmão! O absolutismo acabou! A Bastilha caiu! O povo cantou!

Dr. Carlos Rátis (permita-me declinar, humildemente, o seu nome pela primeira vez nesse texto), o senhor subverteu a ordem desordenada. Revogou a moda escravizante. O senhor é um homem dos velhos tempos em que vergonha na cara e honestidade não eram coisas anacrônicas. O senhor e a sua equipe são os verdadeiros sócios refundadores do Esporte Clube Bahia.

Peço-lhe desculpas, entretanto, porque no momento em que o senhor usou o microfone com a voz emocionada e tímida para puxar o coro “Bahia, Bahia minha vida; Bahia meu orgulho; Bahia meu amor!”, eu, da arquibancada, só consegui acompanhá-lo com lágrimas do mais profundo sentimento de humildade, admiração e irmandade. Que viva para sempre nas próximas gerações o mais tricolor dos mineiros! Um homem dos velhos e dos novos e duradouros tempos – Dr. Carlos Rátis!

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