Olá a todos! Estou de volta, para desagrado de alguns poucos (assim espero). A minha última aparição aqui neste espaço se deu em maio de 2010. À época eu era um sorumbático cronista de Série B. Convenhamos que isso não estava à altura da minha estatura.
Eu comecei a escrever aqui para o ecbahia.com em março de 2005 e, desde então, só tinha enfrentado a árdua missão de comentar a trajetória do glorioso tricolor, esquadrão de aço, meu Bahêa nessa porra, em competições nacionais da Série B e Cerei C e Série B de novo. Enchi o saco desse negócio.
E, não menos importante, achei que eu era o culpado pelo fato de o Bahia não estar ainda na Série A. Afinal, cinco anos escrevendo, dando pitacos, criticando, apontando equívocos, dando sugestões e nada! Só havia uma explicação: era eu quem estava pesando. Era preciso aliviar essa carga para o Bahia subir. Eu sou bastante modesto, como se pode ver, mas tinha que aceitar esse fato irrecorrível parei de escrever. Se eu já me constituía num conselheiro consultivo que não era consultado, então deveria ser também um escritor que não era escriturado.
E qual foi o resultado? Hein? Hein? O primeiro resultado prático foi a saída do técnico morubixaba, mantido no cargo mesmo depois de perder um Campeonato Baiano praticamente ganho! Renato Gaúcho foi tomar o seu mate nos pampas e por lá se tem dado muito bem, mas por aqui iria azedar nosso caruru com certeza. Ponto pra mim. Comemorei silenciosamente. Fãs de ambos os gêneros (mais de um do que outro) lamentaram. Em vão.
A notícia da contratação do desconhecido técnico Márcio Araújo me causou uma certa rejeição inicial, pois eu achei que era aquele Márcio Bittencourt, um meio gazo, que treinou o Ipatinga este ano nos 02 minutos protocolares para um técnico naquele time. Desfeita essa minha confusão, o descontentamento continuou quando ele manteve no primeiro jogo o mesmo time e postura que eram adotados por Renato Gaúcho. Tomamos um cacete feio do Coritiba, jogando em Joinville, e nem vimos a cor da bola. Aquilo me deixou abalado no que tange à eficácia da minha estratégia de silêncio.
Mas seria o Benedito? Sim, seria. Seria o benedito etimológico bendito! O Pastor Márcio Araújo entre uma renitente piscada de olho e outra, com sua fala mansa de lullaby budista, com a sua prática revolucionária de treinar tática e tecnicamente o elenco, em vez de fazer só baba, foi dando uma face reconhecível ao time. Os resultados começaram a aparecer. Mais pontos pra mim. Comecei a coçar os dedos para escrever umas observações, mas me contive muito relutantemente.
Resumindo a história: minha estratégia se revelou cientificamente verdadeira por comprovação inequívoca de sua eficácia. Descobri que, se no Jogo do Bicho vale o que está escrito, para erguer o Bahia vale não escrever.
Há alguns anos eu escrevi aqui uma crônica intitulada A Ciência da Superstição Parte 1 e nunca escrevi a parte 2, nem epílogo, nem zorra nenhuma. Pois aí está: depois de ter comprovado que minha bermuda da Mesbla, meu rádio sempre com as mesmas pilhas recarregadas no congelador e minha imobilidade na posição em que me encontrava no momento de um gol eram fatores decisivos para os triunfos do Bahia, cheguei à ultimate top infalível atitude para garantir o sucessivo sucesso do tricolor rumo à primeirona a mudez escrita ou, atualizando, estratégia Tiririca, o deputado. Foi só não escrever nada e pronto.
Em que outra circunstância vocês acham que o Bahia iria ganhar fora de casa da Ponte, da Lusa, do Sport (sem 15 dos nossos titulares)? Não acharam estranho? Pois é: fui eu. Quer dizer, não fui eu, foi o não-eu, foi minha omissão, minha abstinência, meu celibato literário.
Em minha franciscana humildade, não estou esperando nenhum reconhecimento público do meu gesto de renúncia, de auto-anulação. Já estou me sentindo bem demais com o acesso e não acho necessário que me chamem para entrevistas, bocas-livres, placas comemorativas ou quaisquer outras homenagens. Só espero da diretoria é que me avise se vai fazer um time meia-boca em 2011, pois aí, em vez de ficar sem escrever, eu vou ter que aprender umas palavras e palavrões novos.
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Interessante como o choro esteve presente nesse momento do acesso do Bahia à Série A. Na verdade, a trajetória do Bahia nesse longo calvário tem como marco inicial o choro convulsivo e sincero do goleiro William Andem, em 97, depois do jogo contra o Juventude, e espero que o tocante choro de Ávine no último sábado seja o marco final nessa história lacrimogênea.
Precisamos voltar a rir, a gritar, a uivar, sei lá. Negócio de chorar, rapaz… Seja homem! No primeiro gol de Adriano nesse jogo contra a Lusa eu, em vez de gritar gol, fui olhar pra cima, pro céu, pensei em meu pai… e chorei. Ele foi um pai Série A.
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