O ano de 2017 iniciou cercado de dúvidas, inquietações e perguntas sem respostas para todos os torcedores do Bahia. Vindo de uma Série B com traumas e cheia de emoções, havia pouca perspectiva de dias melhores. A pressão era grande em cima da Diretoria que pregou o foco no futebol e que, até então, trazia apenas um título de campeão baiano durante sua gestão, conquistado em 2015.
A única certeza era a manutenção da base do ano anterior. Pouco para as pretensões do torcedor considerando que, como muitos afirmam por comodidade, subimos graças ao Oeste na última rodada. O elenco carecia de reforços e contratações.
A questão principal era o investimento a ser feito na formação, já que havia também o imbróglio da aquisição em definitivo do Fazendão e da Cidade Tricolor, e em paralelo a manutenção do orçamento. Equilibrar essa balança entre custos e investimentos era o desafio.
Aos poucos nomes como Edson, Zé Rafael, Rafael Santos, Matheus Sales, Wellington Silva, Matheus Reis, Allione, Armero, Gustagol e Maikon Leite se juntaram aos remanescentes Jean, Anderson, Eduardo, Tiago, Jackson, Lucas Fonseca, Juninho, Renê Jr, Edigar Junio, Régis, Renato Cajá e Hernane. Mais algumas peças da divisão de base e tivemos o grupo fechado para o resto do ano.
A torcida ficou receosa, esperava ouvir os tradicionais nomes de impacto. E se analisarmos que os contratados eram todos reservas, sendo que alguns ainda tinham o peso de estarem voltando de contusão, a expectativa tinha que ser baixa mesmo.
Vejam o caso de Armero. Nome conhecido, experiente, jogador rodado e de Copa do Mundo, nunca foi sumidade mas dava conta. Foi contratado junto a Udinese mesmo estando sem jogar a muitos meses. Toda contratação é um risco, a de Armero foi potencializada.
Marcelo Sant’Anna se notabilizou no seu mandato por declarações polêmicas, algumas bem dispensáveis. Acredito que a inexperiência contribuiu muito nesse aspecto. Um das que causaram revolta na imprensa e na torcida, foi a de que o Bahia estava se preparando para ficar entre a 10ª e a 15ª colocação, e que tínhamos tudo para fazermos uma campanha sem sustos.
Olhando friamente o elenco formado foi uma previsão sensata, talvez fria diante de uma massa apaixonada, totalmente passional.
O resultado do Baianão passou despercebido porque vencemos o Nordestão, de forma incontestável, depois de 15 anos. Fizemos campanhas seguras em ambas competições. Não tivemos a vantagem no certame Estadual porque alternamos entre titulares e reservas em algumas partidas. Já no Regional fomos soberanos e vencemos com propriedade. O vexame, novamente, foi a Copa do Brasil.
Alguns ajustes se faziam necessários para o início do Brasileirão. Jackson e Wellington Silva eram presenças constantes no DM, Hernane também machucado por alguns meses, Maikon Leite sem render. Vieram Ferrareis, Vinícius e Mendoza, um pouco mais para frente Thiago Martins. Becão, Eder, Everson, Juninho Capixaba, João Paulo e Junior Brumado nos ajudaram representando a base.
Nosso começo foi enganador, bom para torcedor que se empolga ou se ilude facilmente. Aquele início brilhante nos permitiu acreditar que aconteceu o encaixe, já desde as finais de Baianão e do Nordestão. O time tinha uma forma de jogar e sabia o que fazer, fruto do trabalho e da insistência de Guto Ferreira em manter o esquema tático até encontrar a melhor formação. Aos poucos, com o desenrolar da competição, fomos voltando à nossa realidade.
A saída de GF foi determinante para nossa oscilação. Aliado a isso, algumas peças caíram muito de produção, contribuindo decisivamente para o decréscimo técnico do time. As tentativas com Jorginho e Pretto Casagrande não funcionaram e ficamos muito tempo patinando, tentando e errando.
Falando um pouco sobre Jorginho e Pretto são situações distintas e complicadas. O primeiro veio como uma aposta, arrisco-me a dizer que foi a opção que tinha mais disponível para o momento. Até que começou bem, chegou a conseguir dois resultados difíceis fora de casa, batendo Ponte Preta e Atlético MG.
Aos poucos algo aconteceu e ele se perdeu, o time passou a não responder e, visivelmente, não parecia haver entendimento com alguns jogadores. Já o segundo foi um risco calculado assumido por MS. Ao ouvir o clamor dos atletas por Pretto, ele achou que seria a melhor opção. Com o passar do tempo, vimos que não.
A chegada de Carpegiani deu outros rumos ao time. O ambiente mudou, jogadores passaram a dar outra resposta e os resultados apareceram. É difícil atribuir apenas a PCC os méritos, já que o time manteve praticamente os mesmos jogadores e esquema tático.
O fato é que conseguimos chegar até a última rodada com reais possibilidades de disputar a fase pré-Libertadores, livres de rebaixamento e com vaga garantida na Sul Americana. Cenário não esperado pela imprensa especializada e por muitos torcedores.
Marcelo Sant’Anna acertou sua previsão. Terminamos em 12º, numa pontuação que ficou prestes a obtermos uma vaga na Libertadores. Não tenho o levantamento preciso, mas não devemos ter ficado mais que cinco rodadas na zona de rebaixamento durante todo o campeonato. Fizemos uma campanha relativamente segura, com alguns sustos, mas nada que saísse do normal numa competição de 38 rodadas, onde altos e baixos é algo normal.
E o elenco montado? Alguns nomes não deram certo e foram embora antes: Gustagol, Renato Cajá, Maikon Leite e Régis Souza. Hernane, Jackson, Wellington Silva e Armero andaram muito no DM, fazendo com que a base fosse requisitada para essas posições. Agora, quem imaginaria que teríamos Jean, Juninho Capixaba, Renê Jr, Zé Rafael, Allione, Mendonza e Edigar Jr como destaques da competição, a ponto de serem considerados para negociações? Aliado a isso, tivemos a defesa e o ataque do time entre os melhores do campeonato.
O saldo final foi positivo. Há outros aspectos que comprovam que aos poucos estamos voltando a ser respeitados. Desde que houve a intervenção e o clube passou a ser gerido de forma responsável, jogadores e profissionais passaram a enxergar o Bahia como emergente, e isso ajuda bastante.
A credibilidade administrativa com os resultados acontecendo em campo facilita a continuidade, aproxima o torcedor aumentando o número de sócios e nos coloca no caminho onde, dentro de mais alguns anos, passaremos a ser candidatos a títulos na maioria das competições que disputarmos.
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Não daria para fazer um balanço do ano sem analisar os erros e acertos da DE. Ainda que seja algo muito subjetivo e também mais fácil de falar hoje porque a temporada finalizou, vale a pena a reflexão.
A manutenção da base de um ano para o outro será a tônica daqui pra frente. É algo que parece estar sacramentado e que deverá se tornar política do clube. Além disso, passamos a investir comprando atletas e fazendo contratos mais longos.
Alguns entram no grupo dos mais experientes e que são necessários em qualquer elenco, outros são apostas com potencial de retorno no futuro, caso de Zé Rafael, por exemplo.
As aquisições em definitivo do Fazendão e da Cidade Tricolor foram mais do que necessárias. Um clube precisa ter uma infraestrutura que dê condições de revelar jogadores e, principalmente, consiga servir com qualidade os profissionais.
Ainda não temos um centro de excelência para base, nossos campos sofrem em dias de chuva chegando ao ponto de cancelar treinos. A evolução é imperiosa e está atrasada para quem quer crescer. Esses são fatores que seduzem até na hora de contratar.
A consolidação de Jean como goleiro número um do Bahia passa pela persistência de Marcelo Sant’Anna e Pedro Henriques. Ambos bancaram e acreditaram no talento dele, que provou ao longo do ano para imprensa local e para maioria dos torcedores que tinha potencial e condições de ser o titular.
Foi decisivo em várias partidas, terminou sendo destaque no Brasileirão e o mais regular jogador em 2017, na minha opinião. Ficou fora poucos jogos, manteve o padrão de atuação desde o início da temporada, algumas memoráveis, como contra o Atlético MG e o nosso rival.
O aproveitamento da base, ao contrário do que muitos falam, para mim, foi satisfatório. Becão, Everson e Eder deram conta sempre que chamados, óbvio que em algum momento cometeram falhas, mas nada que justificasse a execução sumária que tentaram. São jogadores jovens, em formação, é necessária uma dose a mais de paciência.
Acho que o exemplo de Jean vai ajudar nessa reflexão daqui para frente. João Paulo fez gol e até chegou a ser cogitado para virar titular com a ausência de Hernane. Brumado entrou em alguns jogos e Juninho Capixaba tornou-se dono da lateral-esquerda.
Para fechar com chave de ouro esse ponto sobre a base, Jean foi vendido ao São Paulo, naquela que é considerada a maior venda da história do Bahia e uma das maiores entre os clubes do NE. Juninho Capixaba também está prestes a ser negociado junto ao Corinthians. São duas transações que trarão mais de R$10mi aos nossos cofres, além da aquisição em definitivo de outros jogadores.
Entre os erros de MS e PH, não poderia deixar de citar a contratação de Gustagol. Ainda que tenha vindo em condições favoráveis, não era o substituto de Hernane que precisávamos. Não sei se o Departamento Médico foi decisivo, mas Maikon Leite também foi outro equívoco.
É o tipo de jogador que mesmo o DM liberando devemos temer em contratar. Armero, por estar muito tempo sem jogar está nesse rol de riscos. Já Wellington Silva, por ter jogado muito em 2016, acho que foi azar nosso mesmo.
O que considero errado foi não termos buscado outro lateral-direito, terminamos com Eduardo completamente desgastado. No momento em que Régis Souza deu sinais de que não nos ajudaria, poderíamos ter trazido alguém. Falando de fora é mais fácil, talvez até essa busca tenha ocorrido e não se concretizou por falta de opção mesmo. Enfim, sofremos muito nessa posição.
Há quem diga que as aquisições em definitivo do Fazendão e da Cidade Tricolor tenham sido erros. O torcedor mais passional não consegue enxergar a longo prazo, e ter utilizado parte das luvas do EI para essa compra não soou bem, principalmente porque o slogan da campanha de MS e PH era A Vez do Futebol.
Não sei sobre as finanças do clube para saber se é possível manter os dois equipamentos, mas a seguir os exemplos dos grandes times do Brasil e do mundo, seria o ideal. Um poderia se transformar num centro de excelência para a base e outro suportaria apenas os profissionais.
Acredito que o maior dos erros tenha sido a manutenção de Pretto. Entendo que era uma decisão difícil, já que foi um pedido dos jogadores, e ir contra eles poderia representar desagrados e chateações. Sabendo disso, ele optou em efetivá-lo e o tempo mostrou que ainda não era o momento.
Não sei se a falta de opção no mercado, para as condições financeiras do clube, o fez segurá-lo no cargo um pouco mais. O fato é que se a chegada de Carpegiani tivesse ocorrido um pouco mais cedo, talvez nosso destino no campeonato fosse outro.
No geral, entendo que houve mais acertos do que erros. Muito do que foi dito repetidas vezes pela crônica esportiva e reverberada pelos torcedores se desfez ao longo e agora no final do ano. O time não era tão ruim quanto parecia, Jean, Tiago, Capixaba, Renê Jr, Zé Rafael, Régis, Allione, Mendonza e Edigar Jr se destacaram, apesar do elenco carecer um pouco mais de reposição.
Talvez a campanha não tenha sido tão sem sustos, ainda assim já é a melhor do clube nos pontos corridos, o que não significa títulos, mas é um fato, uma percepção de que estamos evoluindo.
Agora é a vez da continuidade. Nada do que se construiu até aqui pode se perder, nem em termos políticos nem administrativos, porque tudo isso reflete no campo, que é o que no fundo resolve todos os problemas de um clube de futebol. A bola tem que entrar, regra básica e universal. Mas se as bases que suportam toda a engrenagem não estiverem sólidas, a estrutura não se mantém em pé.
Feliz 2018 e BBMP!
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