O personagem da crônica de hoje é Victor Hugo Soares dos Santos, 26, mais conhecido como Kanu, do Esporte Clube Bahia. Toda história tem 3 lados: o meu, o seu e o dos fatos. Eu não sei quem foi o autor desse ditado popular, mas serve de base para analisar a trajetória, o presente e o potencial futuro do atleta no Bahia. Precisamos analisar o atleta pela ótica do expectador, pela ótica do treinador e pela ótica do próprio jogador.
Torcer pelo Bahia é mais que escolher um clube para acompanhar e chamar de seu, o Bahia é uma identidade, um modo de vida. Não é qualquer pessoa que consegue labutar com o Bahia. Torcer pelo Bahia é para pessoas emocionais, quentes, salgadas, o Bahia não é time para gente morna. Isso é bom para o borderô dos nossos jogos, para os nossos jogadores quando estão num jogo tenso. A torcida do Bahia é visceral. Entretanto, quando a torcida do Bahia pega birra, calundu e raiva, qualquer besteirinha vira coisa grande. E todo ano, sendo bom ou ruim, essa torcida pega alguns jogadores e pega pra Cristo.
A imprensa da Bahia sabe disso e explora, gera conteúdo em cima dessa característica. A birra do momento para o torcedor é Kanu. O jogador desde o final do último campeonato brasileiro vem cometendo erros de posicionamento e, sobretudo de concentração que culminam em gols sofridos pelo Bahia. Como por exemplo, o gol sofrido contra o Athletico na Fonte Nova no final do último campeonato brasileiro. Às vezes, o erro é coletivo, como no caso do gol sofrido contra o River-PI pela Copa do Nordeste, mas Kanu leva a responsabilidade, pois, já foi instaurado o ranço. Se fosse fazer o guia do brasileirão no site do Globo Esporte, Kanu estaria cotado como ‘’sujeito a vaias’’. Até que ponto esta birra tem fundamento?
Fica complicado não associar a rejeição da torcida a um calundu quando vemos um recorte de um lance fortuito de um erro de tempo de bola no jogo contra o Moto Club viralizar em todas as redes sociais como se o jogador fosse um horroroso qualquer. Mas, a torcida tem a sua razão quando pensamos na escalação do Bahia e percebemos que temos um atleta em melhor momento aguardando a sua oportunidade de se firmar entre os titulares sendo preterido em nome de uma recuperação de confiança e qualidade de Kanu. Trata-se de Gabriel Xavier. Essa teimosia do treinador irrita a torcida e recai sob o jogador tornando-o um alvo cada vez mais lembrado. E para ele só restam críticas da imprensa, da mídia alternativa, das redes sociais e vaias nas arquibancadas.
Temos uma clara situação de ‘8 ou 80’. Por um lado, uma multidão quer ver o jogador pelas costas e por outro lado temos o nosso treinador que ignora tudo e insiste no atleta. O lado de Rogério Ceni parece muito claro: ele gosta do jogador. Não é que ele não goste do concorrente, mas com Kanu é diferente. Quando se gosta de alguém, seus erros são perdoados e seus acertos potencializados. Rogério enxerga o potencial técnico de Kanu e acredita que é capaz de extrair o seu melhor. Mais de uma vez o treinador declarou publicamente que precisa de jogadores comunicativos, que possuam inteligência emocional para lidar com pressão e que sejam líderes natos. E ele enxerga isso em Kanu acima do seu retorno técnico.
Para não faltar com a verdade, Ceni demonstrou não ter um amor cego pelo jogador quando retirou, sem titubear, a braçadeira de capitão do atleta e entregou para uma liderança técnica como Everton Ribeiro. Passou a mensagem para o grupo que para formar um time campeão, ele precisa de mais bola e menos garganta. Isso pode balançar ter balançado o ego do ex-capitão, mas, o aceno da sua continuidade no time titular ideal é uma demonstração de confiança. Quem conhece um pouco de gestão de grupo sabe que é preciso para um líder gerenciar as vaidades dos seus comandados. Se Ceni deu esse baque em Kanu, retirá-lo do time titular poderia significar o rompimento de relações com um jogador importante para o elenco. Usou a velha máxima: – ‘’nem tanto ao mar, nem tanto a terra’’.
Rogério carrega um estigma de ‘perder o vestiário’ nos times que ele já trabalhou, de pesar a mão para uns e passar pano para outros. E agora está sendo confrontado por esse dilema: protege o jogador tirando ele do time titular para que ele saia do foco da torcida, oportuniza outro jogador em melhor momento e correr o risco de Kanu se voltar contra ele e se tornar uma liderança negativa ou manter o status quo de Kanu como titular absoluto e expor ele a torcida e imprensa. Ele sabe que ser técnico do Bahia nesse momento é uma oportunidade espetacular e não vai arriscar que aconteça de novo isso com ele. Ele vai manter o jogador até não ter mais condições alguma de sustentar ou o próprio jogador pedir para ir para o banco (o que não vai ocorrer, porque Kanu não é um jogador de se esconder).
E tem o lado do jogador: ele não vai desistir, é uma liderança nata. Ele é um dos poucos que se expõe a opinião pública quando o Bahia sofre algum golpe duro. E, além disso: – Kanu é um bom jogador. Ele sabe disso, sabe que é só uma má fase. É o zagueiro que carrega a responsabilidade de ser o mais caro do elenco. Tem a responsabilidade de ser também o melhor, carrega a pressão de ser também uma liderança técnica. Por ser um líder, tem que dar exemplo aos colegas em termo de mentalidade, concentração e resiliência. Kanu é um jogador de boa saída de bola, que tem velocidade para controlar a profundidade de uma linha defensiva alta, tem bons números de desarmes e interceptações. Seu problema está na bola aérea, justamente o ponto mais forte do seu principal concorrente.
Essa confiança é o que faz de Kanu um potencial campeão, mas, ele precisa olhar um pouco mais para dentro. Parece ter certeza que é um jogador melhor do que realmente é e não mostra evolução em campo. Pelo contrário, ele tá diminuindo em relação a quando chegou ao Bahia. Seus erros estão sendo mais frequentes e sua qualidade cada vez menos crucial para o time. Se não der uma resposta logo, a insistência do técnico com ele e a insistência dele em não reconhecer seu mau momento acabará prejudicando o Bahia em campo em algum jogo fundamental e isso vai acabar com qualquer chance de recuperação do jogador em relação à opinião do torcedor.
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