Como o louco calendário do futebol brasileiro impõe, o Bahia está prestes a ter seu primeiro grande jogo decisivo apenas no segundo mês da temporada 2021. Neste sábado, dia 24/04, menos de 02 meses depois da abertura da competição, o Bahia enfrentará o Fortaleza, no Castelão. E isso acontecerá apenas 03 dias depois da estreia do clube na Copa Sul-Americana contra os uruguaios do Grupo City. Além disso, após 02 jogos, o time está garantido na 3ª fase da Copa do Brasil, quando o torneio de fato “começa”, já que terá os times da Libertadores e passará a ter jogos em ida e volta.
Nestes pouco menos de 02 meses, Dado deu sequência ao seu trabalho, iniciado no fim do Brasileirão do ano passado, mais especificamente em 21/12/2020, quando foi anunciado em substituição a Mano Menezes. De lá pra cá conseguiu salvar o time do rebaixamento e, sem intervalo, iniciou a temporada 2021 praticamente com o time que usou na Brasileirão de 2020. Depois da Diretoria de Futebol ser modificada, iniciou-se, ainda que um tanto quanto tardiamente, a reformulação do elenco, com saídas e chegadas.
Se foram jogadores importantes, como Gregore, outros promissores, como Thiago (ambos em boas vendas, diga-se), e alguns vários que não renderam, como Clayson. Até agora vieram 10 jogadores (o goleiro Junior, os zagueiros Conti e Luiz Otavio, os meio-campistas Lucas Araujo, Jonas, Galdezani, Pablo, Thaciano e Thonny Anderson, e o atacante Oscar Ruiz), sendo que aparentemente temos mais um atacante de beirada que pode ser confirmado enquanto escrevo este texto, Maycon Douglas, vindo do ABC.
Destes, 03 jogadors já parecem estar bem incorporados ao time titular de Dado Cavalcanti para este início de temporada (Conti, Otávio e Thaciano. Além disso, começamos a ver outros entrando aos poucos no time, mas sem muitos minutos para avaliar (Lucas Araujo, Galdezani e Oscar Ruiz). Outros ainda não foram aproveitados no time de cima (Junior, Pablo e Thonny Anderson) e um já se lesionou, até por estar muito tempo parado (Jonas). É lógico que é inicio de temporada e é muito cedo para avaliar os jogadores, para o bem ou para o mal. O que fiz aqui foi apresentar um panorama do time, que ainda tem muito da equipe da temporada 2020, até porque, como já disse, não chegamos sequer a ¼ da temporada 2021.
Ainda assim, acho que houve uma falta de equilíbrio no ataque às carências. Houve uma dificuldade em identificar as necessidades por mais reforços ofensivos, o que trouxe um atraso na busca por jogadores nesse setor. E, de atacantes mesmo, só um tem uma carreira consistente (Oscar Ruiz). O outro que parece vir é Maycon Douglas e se mostra uma aposta. Thonny Anderson pode jogar adiantado, mas é mais um meia, ainda que pareça ser uma adição interessante ao elenco. Ainda acho que precisamos de mais um atacante de beirada com capacidade pra ser titular. A sombra de Gilberto, como o próprio Belintani disse, deve vir pro Brasileiro.
O que dá pra dizer hoje é que, para este momento da temporada, Dado parece ter encontrado um time base, utilizado desde o jogo contra o Manaus e que só não foi repetido contra a equipe uruguaia ontem porque Rossi estava suspenso, sendo substituído por Oscar Ruiz: Douglas, Nino, Conti, Luiz Otávio e Matheus Bahia; Patrick, Daniel e Thaciano; Rodriguinho, Rossi e Gilberto.
Contra times mais fracos, o time foi bem, conseguindo criar chances, em vários momentos tendo capacidade de fazer volume de jogo, de trocar passes, de ter saída de bola. Isso aconteceu contra Manaus, ABC e CRB. Contra os potiguares o placar apertado (2×1) não refletiu, pra mim, o que foi o jogo, já que o time criou muito e tomou um gol circunstancial. Poderia facilmente ter sido 4, como foi contra os alagoanos. Contra os uruguaios, o time teve um volume de chances muito grande no início do jogo e, ao invés de abrir apenas 1×0, poderia ter virado o primeiro tempo com 3×0 no placar. Facilmente. Não fez isso e o segundo tempo ruim redundou num empate que, pra mim, foi ruim, pelo que poderia ter sido o jogo.
Eu não acho esse um time ruim. Mas também não consigo achar um time forte. Como comentei com um grande amigo tricolor, achei um 11 interessante para enfrentar times fechados, times mais fracos. Mas o jogo contra o Montevideu City Torque mostrou alguns problemas, quando a pressão não encaixa. Além disso, fiquei preocupado que, neste jogo, o time não conseguiu ter controle da partida, o que esta escalação deveria proporcionar. Nâo sei se foi atitude ou orientação da comissão técnica ou alguma indicação de cansaço pela primeira grande viagem do time na temporada, mas fiquei com uma pulga atrás da orelha. O próprio comentarista do jogo falou que o time estava afobado, que não retinha a bola e a devolvia muito facilmente ao adversário, inferior tecnicamente.
Estou bem curioso sobre o time que irá a campo contra o Fortaleza e, caso seja esta escalação, como ela irá se portar. Penso que este será um jogo importante para entender as ideias de Dado Cavalcanti para o Bahia de 2021.
A grande incógnita que vejo diz respeito à manutenção de Daniel ou à opção por um volante mais marcador, como um Galdezani, por exemplo. Ao contrário de muitos, não acho Daniel imprestável, ainda que reconheça a falta de intensidade e de força física do jogador. Mas penso que em certas circunstâncias, contra times inferiores ou que joguem muito fechados, ele pode ser uma boa opção. Mas, para ele ser uma boa opção, o time precisa de um futebol mais construtivo, pq com ele, Thaciano, Rodriguinho e Rossi fazendo um quarteto à frente de Patrick, o time perde agressividade na marcação. Pode funcionar num perde pressiona, mas como o jogo contra o City mostrou, fica complicado de marcar mais fechado com um meio como este. Este me parece um time para jogar com a bola, não pra ficar em transição rápida o tempo todo.
O ponto é que ainda não sei se o grupo de volantes que foi formado traz grandes seguranças. E é uma dúvida mesmo, sem má vontade ou em tom crítico. Galdezani é esse jogador para ocupar a função de 2º homem de meio de campo? Patrick conseguiria jogar ali? Se sim, quem seria o 1º volante? Lucas Araújo, Jonas ou até Raniele? Pablo poderia fazer essa função?
Infelizmente me parecem que serão questões que só poderão ser resolvida ao longo das competições. E elas devem começar a ser respondidas em Fortaleza, no sábado.
Uma coisa que me parece bem clara é a falta de opções ofensivas aos titulares, principalmente para as beiradas. Hoje, de forma bastante clara, só temos Rossi e Oscar Ruiz como opções minimamente confiáveis para os lados do campo. A prova clara disso é o fato de Alesson ter entrado de novo contra o Montevideu e de termos ido pro jogo com Penha e Marcelo no banco. Aí não dá.
A falta de mais opções ofensivas de lado de campo me parece que se reflete até no esquema de Dado. No esquema atual, temos um desenho meio assimétrico. Na fase defensiva é comum ver Rodriguinho fechando o corredor esquerdo, com Thaciano e Daniel a frente de Patrick e Rossi fechando o corredor direito, numa espécie de 4141. Na fase ofensiva, Matheus Bahia é (ou deveria ser) a opção pelo corredor esquerdo e Nino faz uma dupla com Rossi no corredor direito. Hoje, por exemplo, não temos uma dupla equivalente na esquerda, o que demandaria, penso eu, um lateral esquerdo mais qualificado no apoio. Ele “deveria” ser Capixaba, mas o custo defensivo dele foi alto na última temporada. Eu tenho a (contestada) opinião que Capixaba é melhor do que Matheus Bahia, porque entrega mais na fase ofensiva (já vejo as pedras vindo em minha direção), ainda que consiga entender a escalação de Matheus. Mas penso que nenhum deles deveria ser o lateral esquerdo pra Série A.
O fato é que o time, ofensivamente, parece jogar num 343, com Patrick recuando na saída de 3, os laterais dando amplitude, com Daniel e Thaciano fechando essa linha pelo meio, com este último pisando muito na área e o primeiro armando, e com Rossi, Rodrguinho e Gilberto se mexendo a frente. Tem sido comum ver Gilberto cair na esquerda ou voltar e abrir espaços pro camisa 10 entrar na área. Independente de desenho tático, ainda parece que temos um time torto, que usa e abusa do lado direito sem a mesma força do lado esquerdo.
Contra o Fortaleza, caso não haja nenhuma questão física, iria com o time que vem jogando, até por coerência. Mas Dado teria que colocar na cabeça dos jogadores que pra funcionar eles tem que jogar, que conseguir manter a bola quando precisar e de ser verticais no momento certo. Senão vamos ter os problemas que tivemos no segundo tempo no Uruguai. Para o futuro, penso que ele deve achar soluções para equilibrar as ações ofensivas do time.
Agora só nos resta observar e, pincipalmente, torcer muito.
Twitter: @c_patrocinio
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