é goleada tricolor na internet
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Publicada em 22 de julho de 2024 às 10:26 por Victor Moreno

Victor Moreno

A atividade sumária

Caro leitor tricolor, você já trabalhou em uma empresa que era pequena quando você entrou e de repente começou a crescer? Aqueles empreendimentos familiares, que tinham um tempo no mercado vendendo o almoço para pagar a janta, com seus quinze funcionários, cada um com sete, oito e até dez anos de casa, batendo a mesma biela todo dia, com uma salinha climatizada onde os donos ficam o dia todo trabalhando de segunda a sábado, como qualquer outro peão. Essas firmas que o horário é das 08:00h às 17:00h, com uma horinha de almoço, que paga pouco, mas paga certinho, com todos os direitos adquiridos. Aquelas que assinantes do contrato social saem as 11:30h para comer churrasco e a turma aproveita o ensejo para ir para a fila da copa esquentar suas marmitas e usarem o horário de almoço para tirar cochilos.

Todo trabalhador deveria ter a chance de vivenciar um cenário desse. É deveras desafiador e um pouquinho enriquecedor para a formação de uma identidade profissional. Você vai lidar com aquelas pessoas por muitos anos, fará muitos amigos e terá a chance de executar todas as suas ideias de melhoria contínua. Fora que numa empresa como essa você tem a chance de aprender o que você quiser, pois, todos os setores estão muito agrupados num curto espaço havendo interação constante com os outros profissionais. Só que existe um problema crônico: quando a empresa começa a crescer, você vai ficar sobrecarregado. Como diria o camisa 19 do Esporte Clube Bahia: – Não tem jeito.

Se você entrou na empresa em 2017 com seis atividades sumárias e a empresa começou a crescer, pode ter certeza que em 2024 não haverá menos de doze atividades sumárias. E por atividade sumária entenda como a atividade que dá nome ou finalidade a um conjunto de pequenas atividades. Exemplo: Atividade – 1. Fazer gol; 1.1. Criar a jogada baseado em algum comportamento treinado; 1.2. Aproveitar-se de algum erro ou espaço deixado pelo adversário; 1.3. Finalizar a jogada criada ou aproveitada de modo a vencer o goleiro adversário. Ou seja, para você ter sucesso na atividade, você precisa concluir um conjunto de pequenas atividades que traçarão o caminho para o êxito.

O escriba deste texto atualmente vive essa realidade. Se você, caro leitor desta crônica, vive isso ou já viveu, sabe que a sobrecarga é real, principalmente se você for um funcionário desenrolado, que consegue reagir bem às mudanças. E o pior de tudo: – você não consegue concluir as atividades no tempo estipulado. Primeiro que durante o andamento de todas as suas atividades, sempre irá surgir algo mais urgente para ser feito, como por exemplo, alguma coisa pessoal para seu chefe. Segundo que são tantas atividades atrasadas que é quase impossível executar apenas uma durante o dia e finalizá-la. Com isso, vai se criando um amontoado de atividades acumuladas sem previsão de finalização. Na área de gestão de projetos, isso se chama backlog. E com tantos atrasos, logo vêm as acusações de incompetência.

Outro dia desabafei com meu colega de trabalho Isaquiel, obviamente conhecido como Kiel, sobre esse assunto. Kiel me deu um conselho magistral: – ‘’Sócio, sempre que começar a fazer algo, termine e vá dar seu nó, é melhor ser um atrasa-lado que um incompetente’’. Parece besteira, mas isso é um ótimo conselho que comecei a aplicar e atesto: – está dando certo. Esse conselho serviria também para um grande amigo meu: o Esporte Clube Bahia.

Já é o segundo jogo que perdemos tomando o mesmo gol: a bola no nosso domínio, no campo de ataque, com nossa equipe toda postada para atacar, amplitude dos dois lados, com os avançados atacando a última linha de marcação e os meias afunilando para tabelar. Eis que surge um espaço para finalizar durante a troca de passes e o que acontece? Nosso portador da bola prefere forçar mais um passe, perde a bola, tomamos um contra-ataque fulminante e sofremos um gol bizarro. Foi assim contra o Palmeiras e foi assim contra o Corinthians em 21 de Julho de 2024. Juninho Pernambucano sempre diz: – Sempre finalize as jogadas para não ter que correr para trás.

É o mesmo conselho que Kiel me deu. Não importa se a finalização vai ser calibrada, linda ou perfeita, não importa sequer se vai ser gol, é sempre melhor ser um atrasa-lado que um incompetente. Pegar a bola na meia lua da grande área, com espaço, ajeitar o corpo e não soltar um tauê para , ao invés disso, tentar trabalhar mais um pouco a jogada (que já está morta) não é excesso de preciosismo, é um disparate. E a bola é que nem um patrão de pequena empresa, ele sempre vai dar um esculacho no incompetente.

E o mais irritante disso tudo é saber que assim como Kiel e Juninho Pernambucano, o técnico Rogério Ceni também acredita que é melhor errar pra frente que ficar enfeitando jegue para lavagem, perder a bola e tomar o gol. Parece óbvio. Mas, talvez seja o que separa este bom elenco do Bahia, o Esquadrão de Aço-Inoxidável, do caminho das taças. Essas escolhas virginais que Jean Lucas tomou contra o Palmeiras e Everton Ribeiro (quem diria, até tu?!) contra o Corinthians é a barreira intransponível entre o tricolor e a glória. É o que gera a desconfiança no torcedor e dá razão aos jornalistas das regiões meridionais quando chamam a campanha do Bahia de elefante em cima da árvore. Dois gols sofridos por conta da rebeldia, com a bola e com o técnico. Dois tentos que tiraram o conforto do Bahia do jogo e resultaram em seis pontos perdidos.

Vai demorar para adquirirmos a maturidade e a malandragem de um time perfurador. É um processo que envolve a destruição de mais de trinta anos de história de indolência e moleza de glúteos e a construção de uma mentalidade coletiva de excelência e busca por título. E estamos apenas no primeiro ano de verdade deste projeto. Eu não atearei fogo às vestes e nem arrancarei os meus cabelos, mas, confesso que darei uma freada na expectativa para poder curtir melhor esse elenco, com todos os seus defeitos, incluindo a desobediência com a bola em nome da tentativa de marcar golaços improváveis.

BBMP !

                Em tempo, outro dia escrevi sobre a nudez do rei Bahia quando enfrenta retrancas. Pois é, aconteceu de novo.

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