O texto abaixo está na edição deste sábado do jornal Tribuna da Bahia e tem a assinatura do editor-chefe Paulo Roberto Sampaio. Confira:
“O que pode explicar uma paixão tão grande de um povo por um time? O que pode explicar tamanho fanatismo? Talvez nem mesmo aqueles 11 jovens – alguns nem tanto assim – que vestiram a camisa do Bahia ontem à noite saibam. Ou consigam avaliar. Era uma noite fria e chuvosa, típica de inverno, mas lá estavam 38 mil torcedores. Nada de meia dúzia de sonolentas e entediadas criaturas deitadas no cimento frio de uma arquibancada qualquer a bocejar, indiferentes ao que se passava lá dentro daquelas quatro linhas. Quem foi ontem à Fonte Nova sabia que tinha um dever a cumprir. Foi por amor, por paixão. Foi para levar o seu grito, empurrar o Bahia para cima do Joinville, mesmo quando nada estivesse dando certo em campo.
Foi assim do primeiro ao último minuto. Foi assim para quem quase madrugou na Fonte, chegando antes que os portões se abrissem e para quem só conseguiu entrar com a bola rolando e o Bahia já vencendo por 1 a 0, num lindo gol de Neto. Sim, porque o primeiro gol saiu logo, como se para premiar tanto esforço, acalmar tantos corações, aliviar tantas almas. Verdade que o Joinville assustou, fez o seu gol e empatou o jogo, logo aos 15 minutos. Fez-se um silêncio sepulcral, mas por exatos 15 segundos. Nada que pudesse calar aquela gente, esmorecer ou desanimar. A bola ainda não estava no meio campo para o Bahia dar a nova saída e aquela massa apaixonada sabia que mais do que nunca o time precisava do seu grito. Grito que ecoou por todo o estádio e pareceu contagiar cada um dos 11 jogadores que vestiam aquela camisa branca e tinham no peito duas estrelas de campeão do Brasil. Grito que foi maior ainda quando Leonardo fez 2 a 1 e Neto, de novo ele, arrematou para fazer 3 a 1.
Já estava bom. O triunfo parecia assegurado, mas aquelas quase 40 mil vozes que se esgoelavam empurrando o Bahia em cada ataque ou vaiando o pobre do Joinville a cada risco de gol do adversário mereciam um prêmio. Um gol mais, o quarto, para fechar a goleada. E ele veio no final. A festa estava completa. Bahia 4 a 1. Líder, invicto há sete jogos. Imbatível para os mais fanáticos. No caminho para ser campeão. O transe de 90 minutos chegara ao fim. A paixão, não. Ela só crescera. Contagiara mais corações.
Assim se escreve a história desse jogo, mesmo que tenha sido só mais um triunfo, uma liderança talvez momentânea, mas conquistada com luta, como todas as grandes conquistas do Bahia. A história desse triunfo se encerra aqui, mas quem sabe daqui a 40, 50 anos, quando o futebol já não despertar tanta paixão e muitos dos que encheram a Fonte Nova ontem já não tiverem mais por aqui, ela possa ser lida e analisada por um estudioso, um pesquisador ou apenas um curioso e decifrada como um momento raro e mágico numa fria sexta-feira, 30 de julho de 2004, que encheu de alegria tantos e tão sofridos – mas hoje felizes – corações tricolores.”
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