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Hélio dos Anjos abre o jogo em entrevista. Leia!

Notícia
Historico
Publicada em 27 de dezembro de 2004 às 03:00 por Da Redação

Confira abaixo o “Pingue-Pongue” feito pelo repórter Luiz Teles com o técnico Hélio César Pinto dos Anjos. O novo treinador tricolor, 46 anos, fala ao jornal Correio da Bahia sobre suas expectativas em comandar o Esquadrão após quatro passagens pelo arqui-rival (1992, 96, 98 e 2004). Veja:

Em sua apresentação, você disse que teve outras propostas para 2005, dentre elas do Fortaleza, clube que disputará a primeira divisão. Por que escolheu o Bahia?
O que mais pesou foi que este foi o quarto convite que o Marcelo Guimarães me fez desde que assumiu a presidência do clube. Sempre tive o desejo de trabalhar aqui, mas nas outras ocasiões, estava empregado em outros times, o que sempre me impedia de vir a Salvador. Agora estava livre e mantive contato direto com a direção, sem intermediários. Foi passada toda situação para mim, e eu já conheço um pouco as mudanças que o Bahia sofreu nos últimos dois anos. Terei excelentes condições de trabalho e um ótimo grupo para treinar.

Mas a questão salarial também não influiu?
Todas as propostas que recebi desde que deixei o Santo André estão dentro do meu valor de mercado. Eu acredito muito em bons fluídos, em bom ambiente, e foi o que eu senti com este convite do Bahia, algo que estou comprovando agora ao conhecer melhor o Fazendão e as pessoas que trabalham no clube. Hoje posso dizer que há uma consistência de trabalho aqui no Bahia, e esse é o tipo de atitude com a qual gosto de trabalhar.

Você falou do Santo André. O que aconteceu por lá para você pedir demissão após apenas 15 dias de clube? Por que você abdicou da chance de jogar a Libertadores?
O Santo André é um time forte e há ótimos profissionais trabalhando lá, mas a estrutura do clube não oferece condições para manter a equipe num padrão bom de qualidade. Não haveria investimentos nesta área, por isso eu saí, porque sei que a presença na Libertadores seria algo apenas passageiro. Não posso cobrar o máximo de um atleta, se não ofereço boas condições de trabalho para isso. Não quero trabalhar assim. Hoje posso me dar ao luxo de negar esses tipos de propostas para aceitar outras, que aparentemente são de menor nível, mas que possuem muito mais consistência para um trabalho adequado.

Trabalhar no Bahia será diferente de trabalhar no Vitória? Há uma diferença por causa da cultura existente na torcida e na administração das duas equipes?
Claro que há, não tenho dúvidas disso. Nos dois clubes você é cobrado pela torcida, mas de maneira diferente. A mesma coisa acontece na hora dos incentivos. Eu defendo a tese de que o time tem que ter a cara de sua torcida, e aqui no Bahia sei que meu perfil se encaixa melhor do que no Vitória. Time de massa tem que jogar no clamor do torcedor. Tem que ter volume de jogo. Tem que atuar com vibração do início ao fim.

Mas apesar desse perfil, você chega ao Bahia com um alto índice de desconfiança por parte da torcida. Por que você acha que isso acontece e como reverter esta situação?
Certamente não tive no Vitória um sucesso marcante, apesar de não considerar minhas passagens por lá como ruins. Então a impressão do torcedor é um pouco essa, mas fiz grandes trabalhos e sou reconhecido pelo que realizei em outros grandes clubes, como o Sport e o Goiás. A resposta, apesar de ser um clichê, terá que ser dada em campo, com resultados e títulos. Não há outro meio. Treinaremos muito para ganhar a confiança do torcedor, porque como eu disse, o Bahia terá que jogar no clamor da torcida.

Como será seu trabalho em 2005? É raro um treinador chegar em um clube logo depois de um técnico que ficou por um ano no cargo. Você vai se adaptar ao Bahia ou é o time que vai se adaptar a você?
Bem, no início, como é em qualquer clube, terei que me adaptar. Só que não é assim por etapas exatamente. Na minha interação ao elenco e ao estilo da equipe haverá uma reciprocidade. Aos poucos os jogadores e todos que trabalharão comigo vão ter um pouco da minha personalidade e do meu trabalho também.

Você considera que terá um trabalho mais fácil do que teve o Vadão, por pegar um clube que agora está melhor estruturado?
Sinceramente, acho que não. O Bahia vai disputar uma Série B bem mais forte, com muito mais pressão. O dinheiro também será menor. Foi realmente incrível o que o Vadão, que é meu amigo, fez aqui no Bahia, mas acho que a dificuldade será proporcionalmente a mesma, por causa do contexto.

Jogar “no clamor da torcida” não pode ser uma faca de dois gumes, já que o torcedor é paixão pura e perde o controle facilmente?
Aí é que está o trabalho da gente, em saber fazer o jogador aproveitar toda essa energia da maneira mais positiva possível. A coisa que mais admiro no atleta é a capacidade de quando estar sob pressão, tirar o máximo de si para superar. Os grandes recordes são quebrados nas Olimpíadas, porque é lá que há a maior visibilidade, maior atenção e pressão por parte de todos. Saber fazer disso uma rama para você é dos grandes segredos para o sucesso no esporte.

Qual a sua metodologia de trabalho? Você é centralizador?
Não, não sou. As decisões são sempre minhas, mas o treinador de futebol tem que saber trabalhar em grupo, saber ouvir seus assistentes e os profissionais que o cercam. Não entendo de medicina, nem de psicologia como um profissional da área. Não posso tomar atitudes que atropelem isso. Só que também não posso trair o meu pensamento. Se tenho uma idéia, não é por que meus assistentes pensam diferentes, e se tornam maioria, que eu vou mudá-la. Terão que me convencer disso, e não votar contra apenas.

A fama de “linha-dura” corresponde?
De jeito nenhum. Sou organizado em meu trabalho e exijo organização. Uma estrada sem sinais torna-se perigosa. Não tenho medo de chamar a atenção. Cobro, mas também sei reconhecer o esforço. Não sou intolerante. Exijo respeito e disciplina no trabalho como qualquer outro chefe ou responsável por um setor exigiria.

Por falar nisso, especula-se que Edílson poderia jogar no Bahia. Houve algum problema entre vocês no Vitória no ano passado? Como você veria a vinda dele para o Fazendão?
Quero deixar claro aqui que nunca tive qualquer problema com o Edílson, muito pelo contrário, ele cumpriu sempre com seu dever de profissional enquanto esteve sobre meu comando. Ele seria um grande nome para o time, mas seria mais um atleta do grupo. Teria que mostrar em campo que tem condições de ser titular.

Você falou em organização e de não ser intolerante. Algum jogador poderá ter privilégios na sua equipe?
Vou dizer uma coisa para você. No Vitória, havia um jogador com privilégios, que era o Felipe Saad, que fazia faculdade e por isso, eu o liberava para freqüentar as aulas, até em dias de concentração. É preciso observar o lado do atleta.

E no caso de um jogador que já passou a barreira dos 33 anos, e que começa a cuidar da aposentadoria, com seus negócios. Você também poderia ser tolerante com faltas para que ele freqüentasse reuniões ou coisas do tipo?
Claro, por que não. Quando jogador, tive que encerrar minha carreira com 23 anos, e sei como é difícil para um atleta mudar de vida quando encerra a carreira. É claro que esse tipo de coisa não pode atropelar os interesses do grupo, mas dou abertura a todos que precisarem disso.

Além dos jogadores com contrato longo com o clube, o Bahia tem interesse na permanência de quatro atletas da temporada passada: Reginaldo, Igor, Rodriguinho e Renna. Você concordou com a avaliação da diretoria? Quantos outros serão contratados e para que posições?
Tenho que confiar nos profissionais que estiveram aqui por um ano avaliando estes atletas. Eles têm muito mais propriedade para dizer quem aprovou e quem não aprovou. Estamos trazendo jogadores para todos os setores e esperamos que isso aconteça ainda antes da apresentação do grupo, no dia 3 de janeiro.

Vai haver pré-temporada intensiva, como você fez no Vitória no passado?
Hoje praticamente não existe um clube grande no Brasil que não faça isso, e inclusive a maioria deles procura até sair de suas cidades para realizar esse tipo de trabalho. É importante para que os atletas sejam avaliados fisicamente, entrem em forma mais rápido, mas principalmente pela convivência, pela formação de laços importantes que vão durar o ano todo. Aqui na Bahia, não há fora de Salvador um lugar que a gente possa fazer isso, mas se houvesse, seria uma ótima opção para iniciar o nosso trabalho.

E ao longo da carreira de treinador, quais seus principais pontos de amadurecimento?
Aprender a conviver com as críticas e a exercitar a tolerância. Isso eu falo tanto dentro do ambiente do clube, quanto de fora, como no convívio com a imprensa e com os torcedores. Se você não aprender a fazer isso logo, não tem futuro como treinador de futebol.

Quem você colocaria hoje como principais adversários do Bahia na Série B? A segunda divisão é a meta principal do seu trabalho?
Não exatamente, já que no primeiro semestre teremos o Campeonato Baiano e a Copa do Brasil. O Bahia não pode entrar nessas competições com outro pensamento senão o de buscar o título. Na Série B, entendo que os três de o Recife serão sempre fortes, assim como o Vitória, o Grêmio e o Guarani. O Marília também virá novamente com força. Com menos clubes, será um campeonato muito disputado, e imprevisível. Espero que tenhamos sucesso em nosso trabalho e que a torcida ganhe um grande presente de Natal em 2005, porque, sobretudo, ela merece.

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