A edição desta segunda-feira do jornal Correio da Bahia traz um interessante “pingue-pongue” com o técnico tricolor, Procópio Cardoso, que fala sobre o trágico momento vivido pelo clube. Confira:
O Bahia vive uma situação complicada nessa reta final de Campeonato Brasileiro. O que ainda pode ser feito nesses dois últimos jogos?
Temos que fazer tudo aquilo que o Bahia sempre se propôs a fazer. Ainda há tempo. Nós estamos imbuídos junto com os jogadores. Contamos com o apoio da torcida, da diretoria, dos funcionários, que estão com esse espírito de vitória.
Pensando a médio prazo. O que é que o Bahia tem que fazer para não repetir em 2006 os erros de 2005?
Sinceramente, eu até entendo sua pergunta, mas nós temos que pensar agora muito positivamente nesses dois jogos. Primeiro, temos que tirar o Bahia dessa situação. Aí, eu prometo. Assim que isso acontecer, nós vamos conversar sobre o que tem a ser feito. Vamos deixar para tornar isso público no momento certo.
O senhor já chegou ao clube sabendo que a situação era ruim. Mesmo assim, alguma coisa ainda o surpreendeu?
A situação era muito pior do que me informaram. A situação do Bahia, num todo, era ruim. Era problema de motivação, orientação, enfim, um time na terceira divisão. Estávamos em 20º lugar. O moral dos jogadores e funcionários estava lá embaixo. E me assustou, porque eu conheci o Bahia em outra época. Assustou a forma como eu vi o clube de um modo geral.
Como é administrar o psicológico dos jogadores num momento como esse? Foram dois momentos emblemáticos nessa sua terceira passagem pelo clube, que foram as derrotas para Náutico e Sport. Como fica a cabeça do jogador?
A derrota para o Náutico, realmente, você tem razão. Eu até usei uma expressão que muita gente se assustou aqui. Eu disse que a gente tinha que juntar caquinho por caquinho. Era preciso que as pessoas entendessem. Aquela foi uma derrota que implodiu. Não aconteceu nada do que estava nos nossos planos. O time não jogou nada, foi uma caricatura daquilo que nós sabemos que pode ser. O time não é esse primor todo, mas naquele dia, nós tomamos dois gols nos primeiros minutos e tivemos um jogador expulso. Quer dizer, tudo isso soma para o resultado final. Agora, o jogo contra o Sport foi diferente. Nós tivemos durante uma hora e 16 minutos um time bem forte, aguerrido, fez 2×0, mas que quando tomou o primeiro gol se apagou. Foi um apagão e veio a derrota. Mas essa é a derrota da qual se tira proveito, se tira lição. Eu espero que no próximo jogo o Bahia possa melhorar e conseguir uma vitória importante.
Já deu para perceber que o senhor conta com alguns líderes dentro do grupo, como Reginaldo, Emerson, Viola e Uéslei, que são jogadores mais experientes e que podem passar uma tranqüilidade aos mais jovens. Qual a importância, nesse momento, desses líderes?
É óbvio que o que esses jogadores adquiriram ao longo dos anos é importante para passar para os mais jovens. O que faltou realmente para o Bahia, no jogo contra o Sport, foi essa liderança dentro do campo. Para conversar, esfriar o jogo. Por que a gente está ali fora, fala, mas ninguém escuta. O barulho da torcida do Sport, antes do primeiro gol, já era ensurdecedor. E depois do primeiro gols deles, veio o incentivo. Então, é preciso que os mais velhos realmente orientem para que o time não se abata como se abateu.
Faltou então essa malandragem, tarimba, enfim, uma bagagem aos mais jovens?
Sim. Até pelo momento que o Bahia vive, que é muito difícil. Nesse momento, qualquer coisa abate.
Quando o senhor chegou disse que teria que conhecer alguns jogadores. Quem são os atletas que o estão surpreendendo positivamente nesse elenco?
Tem vários jogadores, mas eu acho que não é de bom tom eu revelar isso aqui agora. Mas eu posso lhe dizer que existem vários jogadores feitos no Bahia, que não eram aproveitados, porque as pessoas falavam erradamente sobre eles. São atletas que com trabalho, conversa e orientação serão de grande utilidade para o Bahia.
Curiosamente nessas cinco partidas o senhor não conseguiu repetir a mesma escalação em duas partidas. Foram problemas com lesões, desfalques…
Verdade. Quando nós chegamos ao Bahia, o time estava rebaixado. Faltavam sete jogos, sendo quatro fora e três em casa, e com adversários difíceis. Então, a situação em que eu encontrei o Bahia me preocupou muito. Mas eu acho que ainda há tempo. Os jogadores estão entendendo, peço a Deus que nós possamos, nesse jogo, fazer uma boa exibição, assim como o segundo tempo contra o São Raimundo. Com o espírito de time lá de Itu, com o espírito do jogo contra o Grêmio, com o espírito do jogo contra o Sport, pelo menos até aquele momento. É isso que eu espero do Bahia.
O meio-de-campo é um dos que têm sido muito mexido. O senhor começou escalando Neto, Jair, Fernando Miguel e Guaru, e depois, por motivos de lesões, suspensões e baixo rendimento, esses quatro jogadores acabaram sendo trocados. Isso é um problema num setor que é tão importante para a equipe?
Acho que você está me fazendo essa pergunta porque eu não respondi a anterior direito. Realmente é um setor que mudamos muito. Você vê que nos três primeiros jogos do Bahia, foram quatro jogadores expulsos. Isso reflete o ambiente, reflete a cabeça dos jogadores. É um dado que você tem para analisar a situação do Bahia. Então, fui obrigado a mexer bastante. Ainda para esse jogo eu tenho muitas dúvidas. Para mim, o Jair é o jogador mais técnico que o Bahia tem. Mas ele tem um problema de recuperação que não foi feitoa dentro daquilo que se espera para um atleta de futebol. O Guaru foi expulso contra o Náutico pela segunda vez. É um jogador de meio-campo, que não dá porrada em ninguém…Aí nós passamos a testar muitos jogadores que não vinham nem concentrando. E são esses jogadores, realmente, que o Bahia vai contar no futuro.
O senhor tem inclusive relançado alguns jogadores como Cícero e Luís Alberto…
Sim. O problema é que quando eu cheguei aqui, a informação que eu tinha era de que um era maluco, o outro era lento, que não jogavam nada. E não é por aí, o jogador precisa ser orientado, saber das suas limitações, para melhorar.
O que a comissão técnica tem feito de efetivo para melhorar o rendimento da equipe do Bahia?
Olha, é o que eu tenho dito. Não se monta uma grande equipe do dia para a noite. Eu tenho cinco jogos aqui no Bahia. Tem um mês que eu estou aqui. Quer dizer, você sabe quanto tempo tem o técnico do Manchester United (Alex Fergunson)? 18 anos à frente do clube. O do Arsenal (Arsene Wenger) tem quase dez anos. Isso cria uma identidade, os jogadores entendem a forma de trabalhar. Ele perde uma peça e já tem outra em vista para colocar no lugar. Aqui no Bahia, eu sou o quinto treinador e setembro nem chegou ainda. Não dá nem um treinador a cada dois meses. Então, você vê a dificuldade que os jogadores têm. Muda a filosofia de trabalho, muda a filosofia de preparação física, de disciplina. Muita gente questionou, por que estão mal-acostumados, não gostam da verdade, não gostam das coisas sérias. Aliás, aqui no Brasil, quem gosta das coisas certas é idiota, careta, é maltratado. Eu não reclamo de críticas. Eu reclamo das pessoas que defendem as coisas erradas.
Na última partida deu para perceber que o senhor teve um cuidado defensivo, muito pelas ausências do Reginaldo e do Neto. Para a partida contra o Santo André, com a volta desses dois, o 3-5-2 está descartado?
Olha, o Neto eu não sei se volta. O Reginaldo sim. O Neto ainda sente dor quando bate na bola. Então, como o jogo é sábado, e nós ainda temos tempo, eu não posso dizer a você que está descartado. Mas me preocupa, por que o Neto tem muito tempo que não treina também. Se ele não fizer coletivo, não fizer trabalho com bola, fica difícil. Agora, me preocupa muito mais esse jogo contra o Santo André. E como nós jogamos em casa, precisando da vitória, não faz sentido jogarmos com três zagueiros. Até por que os jogadores do Bahia não tem aquelas características compatíveis com o 3-5-2.
Viola também está voltando. É um jogador que tem sido importante. Como fica a situação dele?
Depende também. Hoje (sábado), ele começou a andar, trotar. Como temos uma semana pela frente, se ele treinar com bola quarta-feira e não sentir nada, é um jogador que poderá ser utilizado.
O senhor tem escalado um meio-campo mais combativo nos últimos jogos, aliando a força aos contra-ataques, a tendência do Bahia é essa?
A nossa característica é essa. Marcação forte e saída rápida nos contra-ataques. Futebol não tem mistério. A essência do futebol foi, é e será sempre a mesma: com a bola joga, sem a bola marca.
Então, para essa reta final, é jogar de acordo com as características dos jogadores que tem a disposição no elenco?
Sim, é usar o que cada um tem de melhor. Mas também explorar o potencial não na parte técnica, física, mas na psicológica. Tem que aumentar o moral, incentivar, ajudar, o que muita gente aqui faz o contrário.
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