O ex-diretor de futebol, e grande ídolo da história do Esporte Clube Bahia, Raimundo Nonato, mais conhecido como Bobô, deu uma entrevista para a equipe do site Gazeta Esportiva onde deixa de lado a sua declamada “elegância sutil” para detonar a estrutura do Tricolor, além de fazer duras críticas a alguns jogadores como Uéslei, Dill e Viola.
Confira na íntegra a entrevista do ex-diretor de futebol do Bahia:
“Gazeta Esportiva – Como você recebeu a notícia do rebaixamento à Terceira Divisão?
Bobô – Nós acompanhamos a queda do Bahia e do Vitória. Mais atentamente a do Bahia, é claro, por causa da paixão. Foi muito triste, tem sido muito doloroso. Um drama como esse não é para um clube como o Bahia. Só espero que o time se reestruture a partir de agora.
GE – A disputa política está acirrada no Bahia e isso, às vezes, atrapalha o clube. Como resolver essa questão?
Bobô – Tem que parar com esse negócio de interesse próprio acima do interesse do clube, tudo em nome do poder. O Bahia precisa entender que o futebol atual não é assim. Não pode ser assim. A verdade é que o Bahia ficou muito atrás dos outros clubes.
GE – Por que o Bahia S/A não deu certo? O clube prometia um projeto de modernização e, agora, amarga a queda à Série C…
Bobô – O clube se estruturou em seu patrimônio, mas o futebol ficou concentrado na diretoria de futebol do Bahia. O S/A não pegou o futebol. Além disso, o Bahia errou muito nessa questão de política de contratações.
GE – As contratações foram erradas para a Série B?
Bobô – Eles contrataram muitos jogadores veteranos. Gastaram muito dinheiro nessas contratações. O Viola, por exemplo, só jogou 11 partidas em 25 (na verdade, o Bahia fez 21 jogos na Segunda Divisão desta temporada). E, quando trouxeram o Viola, eu avisei o pessoal: Gente, o Viola já caiu com o Guarani no ano passado. O Viola já tem 36 anos e não suporta mais três jogos seguidos. Está em final de carreira. Ele joga alguns jogos, faz um gol bonito e fica várias partidas sem jogar. Faz muito marketing.
GE – A montagem do time, então, foi um dos principais erros do Bahia?
Bobô – A montagem da equipe para este ano foi o grande erro do Bahia. Além disso, teve o Uéslei (recentemente negociado com o Atlético/MG, pouco antes do rebaixamento). Ele foi o estopim da crise do Bahia. Chegou ganhando muito mais que os outros jogadores. E os outros não recebiam em dia, enquanto ele ganhava muito. Teve um grande racha por causa disso. O Uéslei foi uma contratação política que não deu certo. Além dele, teve também o Dill, que já não disse a que veio no São Paulo e no Botafogo…Mesmo assim, eles quiseram contratar.
GE – O que o levou a deixar a diretoria de futebol do clube?
Bobô – Eu queria fazer uma limpa quando assumi a diretoria de futebol. Mas fui impedido de fazer isso. Então, não teve jeito. Depois de dois meses, saí.
GE – O presidente interino Petrônio Barradas tem até 31 de dezembro para convocar eleições no clube. Passa pela sua cabeça se lançar à presidência?
Bobô – Não tem chance. Meu negócio é campo. Vou voltar à atividade de treinador. É muito difícil fazer política, ainda mais no futebol, e ainda mais aqui no Bahia. Eles não querem uma pessoa querida, com representatividade junto à torcida, na direção. Não acredito nisso. Eu penso até em voltar ao Bahia, mas quero, primeiro, dar uma volta, quem sabe pelo interior de São Paulo, para aperfeiçoar o meu trabalho. Depois, posso até voltar. Fui bem como técnico do Bahia em 2002, mas quero voltar melhor.
GE – O Bahia pode sair dessa situação em curto período?
Bobô – Acho que pode sair, sim. Bahia e Vitória são dois clubes diferenciados na Série C, principalmente por causa da força da torcida. É claro que é um campeonato muito disputado, com times fortes também. Mas a torcida pode levar os dois de volta à Série B e, depois, à Primeira Divisão. Mas uma coisa precisa ser dita: espero que a CBF olhe com mais carinho para o futebol do Nordeste. O Bahia é a maior média de público do Brasil nos últimos seis anos. Isso precisa ser respeitado. O futebol do Nordeste está abandonado.
GE – Como está a torcida do Tricolor após o rebaixamento? Qual o sentimento predominante?
Bobô – Houve uma comoção. As pessoas, é claro, ainda estão abaladas. E o mais absurdo é que continua essa guerra política que não leva a nada. Não pode acontecer isso. Bahia e Vitória têm que juntar os cacos. Têm que trabalhar com pessoas que realmente gostam do clube.
GE – Como você encara o momento turbulento do rival Vitória, principalmente após a renúncia de Paulo Carneiro à presidência do Vitória S/A?
Bobô – Os caras que estão falando mal do Carneiro agora são os mesmos que estavam com ele até bem pouco tempo atrás. São oportunistas. Por que não peitaram o Carneiro antes?
GE – O futebol da Bahia tem salvação?
Bobô – Tem salvação, mas a situação é complicada, muito complicada. Nós nos igualamos ao futebol sergipano. E isso não pode acontecer, com todo o respeito ao futebol de Sergipe. O Bahia é campeão brasileiro, o Vitória já foi vice-campeão brasileiro e tem uma série de conquistas também. Isso não pode continuar assim. O futebol da Bahia está pedindo socorro.”
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