Escrita pelos jornalistas Paulo Leandro e José Raimundo Silveira, a matéria abaixo foi publicada na edição desta sexta-feira do jornal A Tarde:
“O Ministério Público do Estado da Bahia recebeu, ontem à tarde, um pedido de apuração de denúncias de fraude no contrato de criação da sociedade entre o Esporte Clube Bahia e o Grupo Opportunity, há sete anos.
A petição foi entregue ao procurador-geral adjunto, Hermenegildo Virgílio de Queiroz, pelo microempresário no ramo de transportes, Edmilson Gouvêa, conhecido como O Pinto, autor da denúncia. Os procuradores Valmiro Macedo e Antonio Faustino também estavam presentes.
Segundo o advogado César Oliveira, que assina o documento, os conselheiros do Bahia foram enganados, pois a decisão do Conselho Deliberativo e Assembléia Geral teria sido contrariada por um aditivo ao texto original.
Para Oliveira, o pedido de abertura de inquérito civil para o Ministério Público visa apurar os indícios veementes da prática de diversos crimes perpetrados pelo grupo de Marcelo Guimarães e do Banco Opportunity.
Oliveira disse que a suposta fraude deu poderes para o então presidente Marcelo Guimarães mudar o rumo da negociação: Foi acrescentado um documento sem o conhecimento dos conselheiros.
O texto ao qual se refere o advogado foi registrado no cartório do 1º Ofício. (leia abaixo, na íntegra). É uma interpretação do que foi discutido pelos conselheiros, mas que termina deturpando tudo, defende Oliveira.
Na Assembléia Geral que decidiu a parceria, 82 conselheiros teriam aprovado a associação com o Opportunity, mediante a criação de uma sociedade anônima, desde que o Bahia mantivesse o controle, entre outros benefícios.
PRAZO Já no texto do Em Tempo registrado em cartório, o ex-presidente Marcelo Guimarães fica autorizado a negociar eventuais alterações de forma a assinar todos os contratos.
Na visão dos autores da petição, a suposta fraude teria permitido a Guimarães negociar o Bahia para o Grupo Opportunity, que desta forma, garantiu o controle da sociedade, com 51% do capital votante.
Outro indício de fraude, conforme a acusação, é a mudança da proposta original apresentada na assembléia pelo conselheiro Pedro Lino, membro do Tribunal de Contas do Estado: o conselho de administração teria quatro membros do Bahia e outros quatro do banco.
Em caso de empate, o fiel da balança seria o conselheiro Antonio Carlos Magalhães Júnior, filho do senador Antônio Carlos Magalhães. No aditivo apresentado como irregular, no entanto, a matemática fica a favor do banco.
O Em Tempo prevê um total de quatro conselheiros para o Bahia, entre nove, sendo o restante indicado pelo Opportunity. Nove menos quatro dá cinco, ou seja, este item C do aditivo dá ao banco o controle da sociedade.
Na petição, o advogado aponta também irregularidade no item letra e, pois segundo ele, a Assembléia Geral não havia deliberado sobre o tema da utilização dos símbolos e da marca do clube pelo Opportunity.
No texto do aditivo irregular, o Esporte Clube Bahia arrendou pelo prazo de 25 anos as marcas e o centro de treinamentos e ainda o estádio de Pituaçu, caso o governo do Estado tivesse cedido o equipamento para o tricolor.
A reportagem tentou contato com o ex-presidente Marcelo Guimarães e o conselheiro Pedro Lino, mas não obteve retorno, nem mesmo por celular. A assessoria do TCE informou que Lino compareceu à sessão plenária, mas não era mais possível localizá-lo. Já Guimarães, segundo funcionária de sua residência, estaria viajando.
Ameaça de suspensão das eleições
O advogado César Oliveira acredita que o processo eleitoral do Bahia, iniciado oficialmente ontem, está ameaçado. Ele considera que o Ministério Público Estadual deve abrir inquérito para investigar a venda do controle acionário tricolor para o Opportunnity, tornando inválido o pleito marcado para 7 de novembro.
Na opinião de Oliveira, o contrato celebrado entre o Bahia e o banco de investimentos é inválido. Um contrato à margem da lei é nulo. Tenho convicção jurídica disto. Caso o Ministério Público não paralise as eleições, vou entrar com uma ação cautelar.
César Oliveira, que já esteve envolvido com pendengas judiciais contra o ex-presidente Marcelo Guimarães, ressalta que o candidato da oposição, Fernando Jorge Carneiro, deveria se retirar do processo. Acho perigoso participar de uma eleição viciada, que pode ser anulada judicialmente.
EM TEMPO SOB SUSPEITA
Salvador, 9 de janeiro de 1998
Em tempo: fica esclarecido que os conselheiros, na realidade, aprovaram a associação com o Opportunity, autorizando ao presidente Marcelo Guimarães e a diretoria executiva a negociar eventuais alterações de forma a assinar todos os contratos e estabeleçam as condições necessárias à formalização dessa associação, cujas condições básicas, tal como expostos ao plenário, são as seguintes:
a) constituição de uma sociedade onde o E.C.Bahia terá 50% do capital sendo até que seja revogada a restrição contida na Lei Zico, 51% das ordinárias e 49% das ordinárias e 51% das preferenciais. O E.C. Bahia integralizará a sua participação com os atestados liberatórios de todos os seus atletas, profissionais ou não, avaliada em 6 milhões de reais. Enquanto não revogada a restrição, será facultada a prática de atos que facultem, pelo Opportunity, o exercício dos 51% dos votos.
b) O Opportunity subscreverá inicialmente na forma de bônus equivalente à contribuição do E.C. Bahia. Garantida pela liberação dos atestados liberatórios dos jogadores do plantel atual.
c) O E.C. Bahia terá a presidência do Conselho de Administração e a presidência da diretoria executiva.
d) o E.C. Bahia arrendará para o Oportunity pelo prazo de 25 anos as marcas e o centro de treinamentos e ainda o estádio de Pituaçu, caso as negociações com o estado cheguem a bom termo.
Salvador, 9 de janeiro de 1998
Cícero Bahia Dantas, presidente do Conselho Deliberativo
Claus Dieter Ahringsmann, conselheiro
Marcelo de Oliveira Guimarães, conselheiro e
presidente da diretoria executiva do E.C. Bahia.
ENTENDA O CASO
– Em 1998, o Conselho Deliberativo e a Assembléia Geral admitiram estado de insolvência que poderia extinguir o clube.
– A dívida de R$ 5.372.873,00, incluindo cerca de R$ 2,5 milhões da Previdência Social – INSS, seria quitada, com sobras, pelos R$ 6 milhões de aporte do Banco Opportunity.
– O Conselho do Bahia aprovou a formação de uma sociedade por ações com o Grupo Opportunity, que se chamaria Bahia Futebol S/A ou Bahia S/A, da qual o grupo e o Esporte Clube Bahia seriam acionistas.
– Mas Marcelo Guimarães, em vez de criar a empresa Bahia Futebol S/A, transformou o Esporte Clube Bahia em Sociedade Anônima: Esporte Clube Bahia S/A.
– O Opportunity é que criou uma S/A, a LigaFutebol, que mesmo sediada no Rio, passou a dominar o Esporte Clube Bahia S/A.
– Em apenas sete anos, a dívida cresceu de R$ 5,5 milhões para R$ 47 milhões
– Não foi cumprido o protocolo de intenções, que deveria gerar aportes de R$ 24 milhões, previsto em caso de o Vitória ou outro clube conquistar um tetracampeonato, como acabou acontecendo, ou o Bahia ficar sem ganhar título nacional no período de sete anos.
ACUSADOS DE VENDER O BAHIA
– Marcelo Guimarães
– Pedro Lino
– Heraldo Rebello Biscaia
– Ruy Oliveira Accioly Lins
CONTRATOS SUSPEITOS
– Entrega do patrimônio do E.C. Bahia à LigaFutebol S/A por 25 anos
– Uso autorizado de marcas do E.C. Bahia à LigaFutebol S/A
– Arrendamento de Itinga ao Fazendão
– Instituição de usufruto das ações do E.C. Bahia”
Leia também: Sociedade com o Opportunity em xeque
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