Da Tribuna da Bahia: `O Vitória, nem tanto, mas o Bahia pode continuar levando milhares de torcedores ao estádio da Fonte Nova, que ainda assim não vai conseguir dinheiro para amenizar sua grave crise financeira. Além dos preços aviltados, bem abaixo da realidade, com meia a R$ 5,00 e 9 mil 922 ingressos da promoção Sua Nota é um Show a R$ 4,00, corroídos pelo time das despesas, os dois clubes estão às voltas com uma quadrilha de falsificadores de ingressos para os jogos da dupla Ba-Vi pela Série C.
Durante anos os ingressos para o futebol na Bahia eram fornecidos pela empresa paulista BWA, impressos fora do Estado, em São Paulo. Mas a FBF – Federação Bahiana de Futebol decidiu ela mesma fabricar, através de terceirização, os ingressos para os jogos da dupla Ba-Vi. Foi a deixa que a quadrilha precisava para agir livremente nos jogos do Brasileiro, principalmente na Fonte Nova, que é sinônimo de casa cheia em qualquer partida.
Anteriormente, para coibir a falsificação, os ingressos tinham cores, padronagens diferentes, de jogo para jogo. A nova impressão, que leva a assinatura da Centauro Formulários, além de facilitar a falsificação, através de simples cópias coloridas, mantém a mesma cor dos ingressos de partida para partida – amarelo na frente e rosa no fundo – alterando apenas a data e a denominação do jogo.
Isso permite uma outra fraude, aumentando a evasão de rendas nos jogos de Bahia e Vitória pelo Campeonato Brasileiro. Ingressos de outros jogos, não vendidos pelos cambistas, tipo Bahia x Ananindeua, disputado dia 17 de setembro, para serem utilizados em outra partida, tipo Bahia x Rio negro, dia 30 de setembro.
“Não tem como o porteiro identificar. Geralmente o ingresso é passado num momento de grande fluxo de torcedores, quando não dá tempo para avaliar se o ingresso é falso, ou até mesmo se é para àquele jogo. O porteiro confere a cor, o tipo, a vai passando”, explica o gerente de Operações do Bahia, Klaus Ditter, ao lado de duas caixas de sobras de ingressos do jogo Bahia x Rio Negro.
Como as cópias dos ingressos falsificados são feitas no mesmo tipo de papel, ou muito semelhantes, da confecção dos ingressos originais, é muito difícil à identificação pelos porteiros. A falsificação é feita em série, sem qualquer preocupação com a numeração dos ingressos, como na foto ao lado, em que o número 12183 aparece em dois ingressos de arquibancada no jogo “A 3ª Divisão é cruel, jogos ruins e deficitários”. Dentro desta avaliação geral, a FBF e os clubes do futebol baiano, decidiram investir junto à Secretaria da Fazenda do Governo do Estado, no sentido de garantir, para a Série C, a troca das Notas Fiscais pelos ingressos na promoção da “Sua Nota é um Show”, que vem dando certo na disputa dos Campeonatos Baianos dos últimos anos.
Mas a avaliação foi precipitada e errada. O baiano é o torcedor que mais gosta de futebol no Brasil, e tanto faz se Bahia e Vitória estão nas Séries A, B ou C do Campeonato Brasileiro, a qualidade ou o nível dos adversários, que ele vai aos estádios e faz a sua festa nas arquibancadas. Além disso, a 3ª Divisão tem proporcionado partidas difíceis e emocionantes, motivando a ida das torcidas aos estádios.
Ao destinar a cota de 9 mil 922 ingressos para serem trocados pelas Notas Fiscais para cada jogo de Bahia e Vitória na Série C, o contrato da FBF com a Sefaz terminou contribuindo com a evasão de rendas nos jogos da dupla Ba-Vi. Estes ingressos são repassados para os clubes no valor de R$ 4,00, mais a taxação dos impostos, e são revendidos a valores de R$ 0,50, – cinqüenta centavos -, a R$ 2,00 que vão para os bolsos dos cambistas, tirando do clube a venda oficial dos ingressos de meia, a R$ 5 a inteira, R$ 10 a arquibancada.
Por um lado, os times até que ganham com a presença da torcida nas arquibancadas, são sempre jogos de casa cheia. Mas a lotação dos estádios não corresponde à expectativa das arrecadações.
Ingressos falsos, ingressos reutilizados, cambistas da “Sua Nota é um Show”, e o time das despesas, fazem a sangria dos cofres de Bahia e Vitória nos estádios da Fonte Nova e Barradão.
Dirigentes só podem lamentar o problema
As diretorias dos clubes baianos têm pleno conhecimento do derrame de ingressos falsos, e de outras “artimanhas” que estão sugando as rendas dos dois clubes nos jogos pela Série C do Brasileiro. Mas ficaram caladas, porque, no fundo, são co-responsáveis pela falsificação de ingressos, um problema que parecia erradicado do futebol baiano nas últimas décadas, desde que os ingressos passaram a ser fabricados em São Paulo, com papel e impressão difíceis de copiar. “A Bahia tem empresas com condições de produzir ingressos impossíveis de se falsificar, usando, por exemplo, tarja magnética, como fizemos na época em que trabalhei na Federação. Acho que o problema não é na confecção, mas no tipo de solicitação, do custo dos ingressos”, explicou Haroldo Tavares, gerente administrativo do Complexo da Toca do Leão.
Para diminuir os custos, Bahia e Vitória concordaram com a proposta da FBF de suspender o contrato com a paulista BWA e fabricar os ingressos aqui mesmo em Salvador, com qualidade radicalmente inferior aos ingressos anteriores. Além da falsificação, da utilização de ingressos em jogos diferentes, ainda existem problemas da evasão nos portões do estádio.
O Bahia chegou a tomar providências, designando o capitão Diniz para coordenar uma equipe de fiscalização nos seus jogos na Fonte Nova, e questionando o Quadro Móvel da FBF, que apesar de grande, de alto custo, não conseguiu impor uma atuação eficaz contra a evasão de rendas nos jogos do clube. Em jogos de pequeno porte do Vitória, no Barradão, o Quadro Móvel da FBF chega a ter 14 fiscais, com custos de diária e alimentação.
No estádio Manoel Barradas a evasão de renda é menor, não só pelo número de público pagante, mas principalmente pelo controle nas bilheterias, que são em números muito inferiores às do estádio da Fonte Nova. Mesmo assim, os problemas, tipo ingresso falso e ingresso de outra partida, existem e foram identificados.
“Nós identificamos esses problemas de ingressos falsos e a reutilização dos ingressos. Barramos o torcedor, e mantemos uma fiscalização rigorosa sobre o problema”, disse o gerente administrativo do Barradão, Haroldo Tavares´.
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