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Infeliz Natal no Fazendão

Notícia
Historico
Publicada em 25 de dezembro de 2006 às 11:06 por Da Redação

Na dura realidade azul, vermelha e branca, está mais fácil acreditar no bom velhinho que no décimo terceiro. Uma sortida ceia com peru, vinho, panetone e frutas cristalizadas, hoje, para os cerca de 90 funcionários do Bahia, soa como sonho natalino. Tudo leva a crer que a noite será de orações, na expectativa de um milagre do Salvador.

E poderia ser pior, informou Enaldo Rodrigues, ex-jogador nas décadas de 50 e 60, hoje responsável pelo almoxarifado do Fazendão. Durante a semana, emissoras de rádio e TV doaram 76 cestas básicas ao clube. Teve até o folclórico Ze Bim trajando gorro vermelho, quarta-feira, na entrega de parte delas, numa cena que seria engraçada se não fosse trágica.

“Trabalhar sem receber é complicado. Parece que eles não têm piedade, não dão satisfação. Fazem a gente de cachorro”, desabafa Maria Damiana dos Santos, 57 anos, 27 dedicados ao Esquadrão de Aço. Mesmo assim, continua freqüentando diariamente a lavanderia do CT, das 7h15 às 14h15, “porque senão não terá roupa”. Mas deixa claro, resignada: “Quando a maré não tá mansa, chego a ficar até as cinco da tarde”.

Ela tem certeza que a fase é a pior da história do Bahia. “Já passei por dificuldade, mas igual a essa… Se eles conversassem com a gente, marcassem uma reunião, mas não. Não dão valor aos funcionários. Se eu tivesse idade, mais força para trabalhar, arrumava outra coisa!”, acrescenta, antes de reclamar que “tudo é para os jogadores”. E continua: “A gente é pequenininho, uma sardinha. Tenho 6 filhos e minha casa, quando chove, você precisa ver como é que fica”. E como será o Natal, Dona Damiana? “Até aqui tá muito feio. Cadê o gás?”.

ATRASADOS – Iguais a ela, funcionários que ganham – ou deveriam ganhar – um salário mínimo estão sem ver o dinheiro pingar na conta desde setembro. Apesar disso, temendo possíveis represálias por parte do clube, a maioria absoluta deles prefere o anonimato na hora de criticar a diretoria.

É o caso de um auxiliar de serviços gerais, há 10 anos no Tricolor, que ainda contesta férias não gozadas. “Natal? Eles aí é que podem saber. Do jeito que está é que não dá para ficar”. A colega de profissão que atua na parte de cima do Fazendão endossa o discurso. Conta que antes existiam mais duas pessoas no setor, porém uma foi embora e a outra está doente.

Aos 43 anos, oito de Bahia, reclama da falta de consideração dos cartolas, “que não falam nada com a gente”, e que “às vezes falta até vale-transporte”. Do seu lado, um segurança que também não quis se identificar afirma que se tivesse mais tempo no Alto de Itinga, “contaria tudo”.

Boleiros e roupeiros dizem que desde que entraram, há quatro meses, estão de bolsos vazios, enquanto o porteiro da manhã fala que vai passar o Natal “no aperto, sem nada dentro de casa”. “Ficar sem trabalhar é que não dá, mas estou correndo atrás de outro emprego. Arranjando, eu saio”.

Um funcionário de segundo escalão do clube aproveitou a presença da reportagem e foi taxativo: “Aqui não tem ninguém em dia”.

Matéria publicada na edição de 24/12/2006 do jornal A Tarde

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