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Crise do Bahia de novo em destaque no País

Notícia
Historico
Publicada em 9 de fevereiro de 2007 às 13:11 por Da Redação

Depois do blog do jornalista Juca Kfouri, agora é o portal Pelé.Net quem publica ampla reportagem sobre a atual situação azul, vermelha e branca. A série, escrita pelo repórter Gustavo Franceschini, foi dividia em três matérias e pode ser lida – por assinantes UOL – diretamente aqui. Confira:

Crise do Bahia vai dos campos à Polícia Federal

SÃO PAULO – A crise do Bahia não se restringe mais apenas aos gramados. Agora, o time vai ser investigado pela Polícia Federal. O Ministério Público Federal no Estado pediu abertura de inquérito para apurar denúncias da oposição sobre possíveis ilegalidades na administração do clube da Fonte Nova. Entre as acusações estão supostos crimes cometidos na venda de Daniel Alves para o Sevilla, da Espanha, crime contra o sistema financeiro nacional e formação de quadrilha.

A Polícia Federal tem um prazo inicial de 30 dias para investigar as denúncias e apresentar sua conclusão. Os autores da representação esperam, caso as irregularidades sejam comprovadas, que a Confederação Brasileira de Futebol seja obrigada a intervir no Bahia por ordem da Justiça Federal.

O atual presidente Petrônio Barradas não foi encontrado pela reportagem do Pelé.Net para comentar o caso. Por meio de nota no site oficial do clube, a diretoria classificou as acusações como “infundadas, caluniosas, e desrespeitosas”, e os autores da representação de “indivíduos sem escrúpulos, irresponsáveis, anti-Bahia e de caráter dúbio”.

Ainda nessa nota, a direção do clube tricolor informa que a transferência de Daniel Alves para o Sevilla foi feita por meio do Banco Central e também pelo Banco Itaú, e diz que toda a documentação sobre o negócio está à disposição de qualquer autoridade que desejar.

A oposição, no entanto, vai por outro caminho. Segundo o advogado César Oliveira, autor da representação que originou a abertura de inquérito, há uma “divergência de valores”. “O Bahia diz que recebeu R$ 700 mil, e o Sevilla diz que pagou R$ 1,5 milhão”, citou.

Além dos números diferentes, existe a denúncia de que o pagamento não teria seguido as normas bancárias brasileiras. Segundo César Oliveira, o dinheiro foi depositado em uma conta no exterior e o valor não teria entrado na contabilidade do clube.

Não bastasse o problema com o negócio de Daniel Alves, ainda existem outras denúncias a serem apuradas. A findada parceria com o banco Opportunity, por exemplo, será um dos alvos da investigação da Polícia Federal.

Segundo a representação, o contrato com o banco teria “uma série de irregularidades”. De acordo com César Oliveira, o primeiro problema seria uma fraude na confecção da sociedade.

“Eles enxertaram um `em tempo´ depois que o contrato foi aprovado, que dá uma outra interpretação, e o conselho do clube não aprovou a mudança”, disse o advogado.

Além disso, a oposição aponta o prejuízo do Bahia com a parceria. “O aporte de capital do Opportunity foi de R$ 6 milhões. Hoje eles fizeram um distrato, e o Petrônio [Barradas, presidente do clube] disse que o Bahia tem de devolver R$ 14 milhões. Como pagar isso para você ressarcir um investimento de R$ 6 milhões?”, questionou César Oliveira.

O advogado também fala de uma “confusão financeira”. Baseada em uma entrevista de um ex-presidente do arqui-rival Vitória, a oposição acusa dois ex-mandatários do Bahia de obterem lucro ilícito a partir do clube.

“Temos a prova do Paulo Carneiro, que passou quase dez anos comandando o Vitória e conhece o meio, dizendo que o Marcelo Guimarães tem R$ 1,7 milhão, e o Paulo Maracajá teria R$ 500 mil. O Maracajá é conselheiro do município e ganha R$ 15 mil, é difícil ele comprovar isso”, disse o advogado, que espera que a quebra do sigilo bancário dos citados, e adianta que Paulo Carneiro deve ser chamado para depor como testemunha.

Para completar as denúncias de corrupção, a oposição acusa a atual direção do Bahia de apropriação indébita do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). A oposição ainda adianta que deve ajuizar uma ação na Delegacia Regional do Trabalho para investigar os atrasos de salários de funcionários, que já chegam a oito meses, segundo César Oliveira.

Promessa de campanha, estatuto do Bahia emperra

SÃO PAULO – Quando assumiu a presidência do Bahia, em julho de 2005, Petrônio Barradas prometeu aos opositores que faria uma mudança nas leis do clube. Depois de mais de um ano e meio, no entanto, o novo estatuto ainda não está em vigor.

A criação de novas regras para o Bahia é um dos maiores desejos da oposição. Assim como em outros clubes grandes do país, a eleição na Fonte Nova é feita de maneira indireta – ou seja, apenas os conselheiros podem escolher os dirigentes da agremiação.

Por causa disso, os opositores tradicionalmente encontram muita dificuldade nas urnas do Bahia. O pedido então, é para que haja uma reforma no estatuto do clube que amplie o direito de voto para todos os sócios, caracterizando assim uma eleição direta.

“Ele [Petrônio Barradas] nos prometeu em novembro de 2005 que ia fazer um novo estatuto, mas se elegeu e não convocou nada. Nós insistimos pelos jornais e no fim ele convocou amigos dele, mas aí a coisa foi se arrastando e não definiram nada”, disse Ivan Carvalho, presidente da associação Bahia Livre.

No começo de 2007, no entanto, o assunto voltou à tona na Fonte Nova. A atual diretoria já admite a existência de uma minuta do novo estatuto, mas não sabe dizer em quanto tempo essa novidade seria votada pelo conselho e implantada no clube.

Segundo a oposição, as mudanças poderiam evitar fraudes nas votações que acontecem na Fonte Nova. “Eu estava lá na sede em 2005 e vi um funcionário lavando o banheiro. De repente saiu um segurança do pessoal do Bahia e chamou o rapaz. Ele votou e colocou seu voto na urna. Não quero dizer que ele não tem direito, mas ele é conselheiro?”, questionou Ivan Cordeiro.

Para Cordeiro, um dos benefícios das novas regras para o Bahia seria uma aproximação maior do torcedor com o clube. “Temos de lutar por eleições diretas. Você democratiza um clube assim. Quando você leva o sócio para dentro do clube, você ganha dinheiro. Mas o Bahia está numa crise financeira e eles preferem se manter no poder em vez de trazer o sócio para dentro do clube”, disse o opositor.

Condição do Bahia mobiliza público

SÃO PAULO – “Que outro clube no mundo colocou 50 mil torcedores na rua para protestar?”. A pergunta de Ivan Carvalho, presidente da associação Bahia Livre, dá uma boa dimensão do que está fazendo a torcida do clube tricolor. Para tentar tirar a atual diretoria do poder, um grupo de torcedores já fez passeatas e agora não vai mais ao estádio.

Em 2006, justamente no fim de semana em que o Bahia foi condenado a passar mais um ano na Série C do Campeonato Brasileiro, os torcedores foram às ruas de Salvador para pedir a renúncia do presidente Petrônio Barradas.

Segundo estimativa da Polícia Militar, cerca de 50 mil pessoas participaram da manifestação pacífica. “Eu não tenho conhecimento de nada parecido no futebol mundial. Uma passeata de protesto desse tamanho, e não foi carnaval. Ficou tocando o tempo inteiro o hino do clube”, disse Ivan Carvalho, que ainda deixou claro o aspecto familiar do movimento.

“Foi torcedor levando bandeira, uma coisa tranqüila. Eu levei meu filho de nove anos, que também é [torcedor do] Bahia. Foi um momento histórico na vida do Bahia, sem precedentes”, completou.

Apesar de chamar a atenção e impressionar, no entanto, a passeata não conseguiu mudar o que desejavam seus organizadores. O então presidente Petrônio Barradas continua até hoje no cargo. Para completar, dois dias depois da manifestação, o Bahia perdeu para o Brasil de Pelotas por 2 a 1 e ratificou sua permanência na Série C.

Com o fim da temporada, vieram as promessas de um ano diferente, com um novo gerente de futebol (Renato Brás), mudanças no elenco profissional e a esperança do torcedor se renovou. A estréia em 2007, no entanto, fez tudo isso cair por terra.

Jogando contra o Vitória da Conquista fora de casa, o Bahia começou o ano com derrota por 2 a 0. Indignada com a atuação da equipe, a torcida tricolor se organizou e resolveu não apoiar o clube no estádio contra o Camaçari, pela segunda rodada do Estadual.

“Conseguimos que só pagassem 198 pessoas, a segunda menor renda da história do Bahia, que é reconhecido como campeão de renda”, lembrou Ivan Carvalho, que explica a grande adesão ao protesto: “Tivemos apoio de organizadas, mostramos panfletos e ficamos lá na porta do estádio demonstrando nossa insatisfação”.

A direção preferiu não responder aos protestos. Segundo a assessoria de imprensa do clube, o Bahia não tem interesse de tomar qualquer atitude sobre o assunto, porque o torcedor tem o direito de não entrar no estádio e protestar, desde que não o faça de maneira violenta.

A imprensa local, no entanto, levantou outra possibilidade. Segundo alguns veículos baianos, a direção estaria interessada em expulsar conselheiros oposicionistas do clube, baseando-se em um artigo do atual estatuto, que permite punir com expulsão o sócio que “patrocinar causas contra o clube”.

De concreto, no entanto, não houve nada. Apesar das especulações, a diretoria não tomou nenhuma atitude, não convocou formalmente nenhum conselheiro da oposição e nem expulsou ninguém.

Nos jogos seguintes, a pressão fora dos estádios foi diminuindo, mas a oposição acredita que o protesto foi incorporado pelo torcedor. “A torcida já pegou essa consciência. O clube não merece confiança. Hoje ele é um movimento que saiu da nossa mão, ele é da torcida. Não precisa nem ir à porta do estádio; Torcemos pelo Bahia pela TV, em casa”, revelou Ivan Carvalho.

Para coordenar esses processos, o torcedor do Bahia precisou se organizar para, aos poucos, tentar alcançar seus objetivos comuns. E a criação de movimentos de oposição tem um papel importante para isso.

“Nós existimos há cerca de quatro anos. Resolvemos nos organizar para fazer oposição ao que está aí hoje, para lutar por eleições diretas, para levar o sócio para dentro do clube”, disse Ivan Carvalho, presidente da associação Bahia Livre, uma das primeiras organizações criadas.

Com o crescimento da revolta dos torcedores, a organização teve de aumentar, e os movimentos foram incorporando-se uns aos outros. “Hoje nós fazemos parte de um outro grupo, o Movimento Unidade Tricolor [MUV], que apoiou Fernando Jorge Carneiro para ser presidente na eleição passado”, completou Ivan.

Mesmo com todos os protestos e manifestações, no entanto, o torcedor do Bahia ainda não alcançou seus objetivos. Mas os opositores não desistem, e esperam um forte apoio daqui em diante.

“Se nós considerarmos que o Bahia sempre foi um reduto carlista, ainda temos esperança. Hoje a oposição tomou conta do governo e da prefeitura. Não temos nada de concreto, mas podemos esperar pressão estadual”, avisou Ivan Carvalho, em referência ao senador Antonio Carlos Magalhães, que hoje faz oposição a Jacques Wagner, governador eleito da Bahia.

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