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Moré dá interessante entrevista para jornal de SSA

Notícia
Historico
Publicada em 25 de março de 2007 às 15:29 por Da Redação

O “pingue-pongue” abaixo foi concedido ao repórter Eduardo Rocha e publicado na edição deste domingo do jornal Correio da Bahia. Confira:

Por que o apelido Moré?
Na minha infância eu gostava muito de pescar. Saía de manhã e só voltava à tarde. Por isso, meus primos me colocaram o apelido de Moré, o peixe que a gente pescava. No início eu não gostei e me dei mal, pois apelido pega assim, né? Quando você fica chateado. Meus primos ficavam: ‘Moré, Moré’. E eu já nem saía de casa. Mas passou o tempo e eu fui me acostumando, tanto que hoje em dia as pessoas não me chamam nem de Reginaldo. Quando chamam, eu mal olho. Me identifiquei com Moré.

O Fábio disse que isso é história de pescador…
Isso é história de pescador que pescava. Não era necessidade, era um lazer. Eu não trabalhava, mas meu pai sempre me sustentou. Era só para levar um peixe para casa, para minha família.

Você passou um período no Juventude. O que deu errado por lá?
Eu estive lá porque meu empresário tem parceria com o Juventude. Só fui para treinar e manter a forma, enquanto não aparecia proposta de outros clubes.

E o Ituano? Você chegou a ter chance de jogar no interior de São Paulo?
Joguei no máximo umas cinco partidas. O treinador me levou, mas eu não encaixava no esquema dele. Ele só me colocava para jogar em casa. Eu disse até que ele me achava um jogador caseiro. Fora, eu ia sempre para o banco de reservas, mas mal entrava.

Você estava inclusive voltando para o Icasa-CE quando recebeu um telefonema do Bahia dentro do ônibus. Qual foi a reação da diretoria cearense?
O presidente do Icasa é muito meu amigo e ficou chateado, porque eu disse que estava indo para lá e ele disse que as portas estavam abertas para mim. Comunicaram até à torcida e a torcida lá me dá muito valor. Só que eu recebi essa ligação e meu empresário queria que eu descesse do ônibus para me pegar. Eu falei: ‘Não. Sou homem. Vou lá conversar com ele (o presidente). O Bahia manda a passagem para Juazeiro (do Norte) e daí eu vou para Salvador’. Acho que o presidente ficou mesmo chateado, porque ele sempre me ligava e nunca mais ligou. Mas isso faz parte do futebol. Tinha que procurar ares melhores para mim.

Valeu a pena trocar o Icasa pelo Bahia?
Com certeza. O Bahia é um time nacional. Isso para mim é muito importante, porque estou mostrando o meu trabalho para o Brasil inteiro.

Depois do primeiro jogo contra o Goiás, você disse que chegou para ser ídolo e reconhecido nacionalmente. O que falta para isso?
Eu preciso ser guerreiro e isso estou mostrando dentro de campo. Também preciso fazer gols, porque o atacante vive disso. Mas mesmo quando não estiver bem tecnicamente dentro de campo, serei aguerrido para ajudar meus companheiros. A torcida reconhece esse esforço e no final o jogador acaba sendo reconhecido.

Você marcou gols nos jogos decisivos contra Itabaiana, Vitória e Goiás. O Moré é um jogador que cresce nos momentos de decisão?
Eu adquiri essa personalidade. Gosto de chamar a responsabilidade do jogo. É o meu trabalho e eu me sinto bem nessa posição. Se eu não puxar a responsabilidade do jogo, eu não sou o Moré. No jogo contra o Vitória, estávamos perdendo por 2×0, o Fábio foi expulso e eu cheguei para Humberto e Preto e falei: ‘Dá em mim. Toca e vem que eu vou ajudar’. Passei essa confiança para eles. Foi aí que nosso time cresceu. Não só o Moré, mas a equipe toda junta. Nós chegamos a conseguir o empate, mas infelizmente acabamos perdendo o jogo.

O Preto chegou a te elogiar depois do primeiro Ba-Vi…
O Preto é um grande jogador dentro e fora de campo. Tenho ele como espelho. Isso para mim é muito gratificante. Receber esse elogio dele, que vi jogar tantas vezes, é o reconhecimento do meu trabalho. Estou colhendo os frutos do meu trabalho.

Voltando ao início da sua carreira. Onde você teve sua primeira oportunidade?
Eu comecei no Ceará, em 2004. No final de 2003, eu participei de um amistoso com o Ceará e nós ganhamos por 2×1, com dois gols meus. Logo em seguida, Dimas Filgueiras me chamou para treinar lá. Fiquei feliz, mas disse que trabalhava e tinha que conversar com meu patrão. Ele me liberou e ainda garantiu que se não desse certo eu poderia voltar. Mas não precisou. Eu consegui desempenhar bem o meu trabalho, fiz nove gols no Campeonato Cearense e aí o Moré não parou mais.

Você trabalhava com o que antes do futebol?
Eu trabalhava com aplicação de revestimento fumê em carros.

Começou a jogar profissionalmente com quantos anos?
Comecei com 24 anos.

Os dirigentes não olharam com desconfiança por causa da idade avançada?
Eu não tenho vergonha de falar isso para ninguém. Por todos os clubes que passo, procuro fazer minha história. Eu sempre sonhei em ser jogador profissional. Em 2003, eu já pensava comigo mesmo: ‘meu sonho de ser jogador está indo embora’. A idade já tinha passado. Felizmente tive essa oportunidade. Estava indo de mototáxi para o estádio onde enfrentamos o Ceará e o mototaxista me disse: ‘Já pensou, você vai lá e arrebenta e os caras chamam você para jogar?’. Eu respondi: ‘Era uma boa, mas só quem sabe é Deus’. Eu fui lá para minha diversão, porque ainda não era trabalho e fui muito feliz. Acho que Deus me iluminou.

Em que time você jogava quando enfrentou o Ceará?
Eu sempre joguei pelo Dendê, um time do meu bairro. O bairro onde moro se chama Edson Queiroz, mas o lugar é conhecido como Dendê. É um time do subúrbio, time de várzea. É uma equipe que já revelou muitos jogadores para o futebol profissional.

Voltando ao Bahia, diminuiu a pressão sobre o grupo depois que o estado conseguiu mais uma vaga na Série C?
Não diminui em hipótese nenhuma. A gente não quer só participar da Série C, nós queremos ser campeões da Série C. Mas também queremos ser campeões baianos e, para isso, temos que almejar algo mais. Nosso time vai lutar para chegar lá. Vamos chegar no quadrangular e Deus vai permitir que esse grupo seja campeão.

Ano passado, você brigou, mas a artilharia da Série C acabou com Sorato. Esse é o ano do Moré?
Depende. Se eu ficar até o final do campeonato, acredito que sim. Ano passado, eu sai na segunda fase, com 11 gols. O Sorato me passou na última fase. Se eu estivesse jogando as últimas etapas, com certeza tinha ido mais longe.

Você tem jogado no sacrifício. Tem problemas no tornozelo e na virilha. É o resultado das pancadas que você vem tomando em campo?
Isso faz parte do trabalho e comigo não poderia ser diferente. Já tenho costume de entrar em campo para ser caçado, levar pancada, mas isso eu tiro de letra. Em dois jogos, foram expulsos dois jogadores em cima de mim (André Leone, contra o Goiás, e Vanderson, contra o Vitória). É uma arma que eu tenho. Jogo em cima daquele zagueiro que tem cartão para mandar ele para o chuveiro mais cedo.

Você manteve relação muito boa com a torcida, mesmo com o time patinando nos jogos contra Vitória e Goiás. Qual a mensagem para o torcedor que está meio na bronca com o time?
A torcida está um pouco chateada com o time. Só que se a torcida está chateada com o time, está chateada com o Moré, porque eu faço parte desse grupo. Isso aqui é uma família. A torcida é muito fiel, mas a gente tem que estar fechado. Se um é vaiado, a gente sente por ele, quer ajudar. Enquanto eu estiver aqui, faço de tudo para ficarmos unidos. Aliás, há muito tempo que não vejo um time assim, tão unido.

Já existem propostas para você deixar o Bahia? Especulou-se que o Vitória estaria interessado?
Não fiquei sabendo de nada, mas sou profissional. Se houver alguma proposta, tem que ver com o Bahia o que é melhor para mim e para o clube.

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