De Eduardo Rocha, no Correio da Bahia deste domingo:
“Nonato, ame-o ou deixe-o. O atacante desperta mesmo sentimentos distintos. Em campo, é sinônimo de gols, muitos gols. Eram 102 só com a camisa do Bahia até o amistoso contra o Sergipe, domingo passado, quando reapareceu com mais um. Fora dele, as polêmicas acompanham a carreira desde a estréia nos profissionais do clube, em 1999. Aos 27 anos experiência acumulada em pouco mais de dois anos de futebol coreano, Goiás e Fortaleza , Nonato está de volta para recuperar o tempo perdido. Chegou falando em mudança de atitude, gols e da grandeza do Bahia. Mas nessa entrevista vai além. Não fugiu à dividida e falou abertamente sobre a desconfiança com seu passado, a briga no Fortaleza, o desacerto com o Flamengo e o desafio de disputar a Série C:
Vamos começar com gols, porque é isso que interessa ao atacante. Você está num seleto grupo dos que marcaram mais de cem gols com a camisa do Bahia. Isto aumenta a responsabilidade neste retorno?
É uma responsabilidade enorme. Acredito que vestir a camisa do Bahia já é uma responsabilidade muito grande. Eu tenho uma história muito bonita no clube. Você lembrou bem. São mais de cem gols com a camisa tricolor (103, computado o do amistoso Bahia 1×1 Sergipe). Mas a responsabilidade é ainda maior pelo momento que a equipe se encontra. Na época em que eu jogava, o time estava na primeira divisão. Agora, se encontra numa Série C. Eu estou ciente disso. Vim para ajudar da melhor maneira possível e espero poder marcar muitos gols.
São realidades totalmente diferentes. Por ser Série C, fica mais fácil ou mais difícil fazer gols?
Futebol é profissão muito difícil. Hoje as coisas mudaram muito. Independentemente de ser Série A, B ou C, vai ser complicado. Na Série C, nós vamos encontrar estádios ruins, juízes daquele jeito e para mim vai ser uma novidade, porque eu nunca disputei uma Série C. Mas eu procurei conversar com amigos que já jogaram e sei mais ou menos como vai ser. O que posso dizer é que sei que vai ser muito difícil.
À sua frente em número de gols estão Beijoca (106), Izaltinho (112), Biriba (113), Alencar (116), Marcelo Ramos e Vareta (121). Esses são os mais próximos. É possível atingir a sexta posição este ano?
Acredito que sim. Nada é impossível. Eu tenho procurado melhorar meu condicionamento físico a cada dia que passa e tenho evoluído bem. Minha função é essa: fazer gols. Isso independente da chance de ser o sexto ou primeiro artilheiro do clube. Eu quero é fazer gols e ajudar o Bahia a subir para a Série B. O negócio é tirar o clube dessa situação. É bom ver que o torcedor tem essa esperança. Eu sou um jogador totalmente identificado com o clube. Acredito muito em mim.
Essa identificação com o clube foi definitiva nesse retorno? Você está tratando essa volta como um recomeço?
Independentemente dessa situação, o Bahia nunca deixa de ser uma vitrine. O Bahia sempre teve tradição e sempre vai ter. Eu tive um monte de propostas para disputar a Série C, como a do Atlético-GO. Na Série B, teve o CRB-AL. Mas, com todo respeito a esses clubes, eles não tem a tradição que o Bahia tem. É claro que isso pesou muito. Eu conversei muito com o meu empresário antes de decidir voltar. Além do clube, é uma cidade que todo mundo sabe – eu gosto muito.
E como está a readaptação à cidade, ainda mais agora que você casou com uma goiana?
Eu sou um cara que conheço Salvador de ponta a ponta. Minha mulher é que está tendo um pouquinho de dificuldade. Os costumes são diferentes. Na comida, o tempero é um pouquinho mais forte. Mas aos poucos, com paciência, ela vai acostumando.
Em 2006, você disputou Série A do Brasileiro, Libertadores e agora vai encarar uma Série C. É um choque essa queda brusca?
É totalmente diferente. É como você falou: ano passado pelo Goiás teve Libertadores e, de repente, estou numa Série C. Mas é como eu já disse. O Bahia não deixa de ser grande, independentemente da situação. O Bahia continua sendo o mesmo, inclusive, com mais tradição que o próprio Goiás, que é da Série A. É lógico que são situações diferentes. Mas eu vim preparado para isso. Já caí na real. Já sei o que vou ter pela frente. Estou muito feliz de ter retornado para cá.
Caiu na real, pés no chão. Mas como você tem lidado com a resistência de parte da imprensa e da torcida?
Minha vida aqui no Bahia sempre foi carregada disso aí: pressão, algumas polêmicas. Eu estou tranqüilo, acostumado com isso. Esse tipo de resistência não vai deixar de existir e eu vim sabendo disso. O importante é que eu não tenho mais nada para provar para ninguém. É claro que eu estou voltando agora e tenho que mostrar meu futebol nos jogos. É no campo que você faz com que as pessoas desconfiadas passem a acreditar mais em você. Só que eu sou de um jeito, sou assim e respeito a opinião de todos. De quem gosta ou não de mim. Todos têm o direito de pensar o que quiser, mas eu não posso mudar. Eu nasci assim e vou morrer assim. Quem quiser, vai gostar de mim do jeito que eu sou.
A torcida aceita o seu jeito de ser?
Eu acho que o torcedor do Bahia nunca vai ter o que falar de mim, porque eu sou um cara com uma história muito bonita aqui no clube, principalmente com relação a gols. Desde quando eu saí daqui, não apareceu outro igual. O último título que o Bahia ganhou, fui eu quem contribuiu para ele, lá dentro do Barradão (empate por 2×2, com o Vitória, pela final do Nordestão). E nem eu tenho o que reclamar dessa torcida.
Mas sempre tem um ou outro que fica com o pé atrás…
Às vezes uns ficam com um pé atrás e outro na frente porque eu sempre fui um cara que gosta de sair. Mas eu sempre tive minha vida particular como qualquer outra pessoa tem. Eu sou uma pessoa normal. É claro que tudo que se realiza com exagero é prejudicial. Agora, quando se faz moderadamente, não há mal. A desconfiança com minha passagem aqui no Bahia é relacionada com o que eu fazia exageradamente. Só que isso passou e eu estou muito tranqüilo. O que eu fazia antes era o que todo mundo gosta de fazer. Que o homem gosta de fazer. Eu sei que tem pessoas que não gostam de mulher, mas eu sempre gostei de mulher e minha vida sempre foi essa. Era isso que eu fazia.
E porque tanta repercussão negativa?
É que às vezes eu fazia essas coisas em lugares públicos. Por isso todo mundo ficava sabendo. Mas nunca usei drogas, nunca matei ninguém. O que eu fazia era sair, tomava minha cerveja, pegava mulher… e muitas. Feia ou bonita, eu não tinha preferência quanto a isso. Eu não sou gay, sempre gostei de mulher. Mas agora estou tranqüilo e espero, com fé em Deus e com o apoio de todos, conseguir essa ascensão. A torcida até agora tem me apoiado muito. Eu saio na rua, as pessoas falam comigo positivamente, me dão força e conto com isso.
Essa sua experiência na Coréia do Sul, Goiás e Fortaleza ajudou nessa mudança que você anunciou logo no desembarque em Salvador?
Ajudou sim. Eu comecei a jogar como titular do Bahia com 19 anos. Sempre fui um cara comunicativo, sempre tive muitas amizades. Às vezes, algumas pessoas me convidavam para ir a alguns lugares e eu ia. Eu achava que estava com o meu dever cumprido, chegava em campo e fazia minha parte, e quando saía do clube podia fazer o que quisesse. Só que, como sou um jogador de futebol, uma pessoa pública, existem alguns lugares que não se deve freqüentar. O que me prejudicava muito era isso. Não tinha lugar certo para mim. Eu não escolhia. Ia nos piores e melhores lugares.
O que determinou o fim da sua passagem rápida lá pelo Fortaleza?
Para mim, o Fortaleza foi o pior clube em que joguei. Em termos de estrutura e de relacionamento. Quem me levou para lá foi o patrocinador. Só que o presidente do clube não queria minha contratação, junto com a do Ari. Mas como quem manda é o patrocinador, a Santana Têxtil, eles me falaram: Pode ficar tranqüilo, que nós vamos arcar com tudo aqui. Não tinha problema nenhum, diziam. Só que quando nós chegamos lá, ficou um clima ruim. Não com os jogadores, porque todo mundo lá era gente boa. Mas o presidente e alguns diretores não cumprimentavam a gente e começou por aí. Teve um treino lá em que eu me machuquei e pedi para sair. Acabei não indo para o jogo. O time perdeu e, quando chegou na segunda-feira, eles me chamaram para conversar e me disseram que eu estava afastado. Acharam que eu não joguei porque não quis. Eu liguei para o meu empresário e disse: Você sabe que sou um cara honesto, pode ligar para qualquer clube. Vê se eu sou um cara de ficar em departamento médico, se sou jogador de ficar machucado. Saí do treino justamente porque tinha sentido a panturrilha. Também tinha uma bolha no pé. E eu não pedi para ser afastado do jogo. Eu pedi para não treinar. O time perdeu e eles tentaram colocar a culpa nos jogadores que foram contratados.
E o patrocinador?
Eu liguei para o cara que me levou para o Fortaleza e disse: Oh, o diretor do Fortaleza que eu não sei nem o nome, nem conheço me chamou aqui e falou que eu estava afastado. Então, vocês tratem de resolver logo essa situação, porque eu não sou palhaço. Eu vim para cá, estou sendo um cara correto com vocês e quero que eles sejam corretos comigo também. Principalmente vocês, que me trouxeram para o clube. Eles falaram que era para eu ficar tranqüilo, porque eles iam contornar a situação. Disseram: Eles estão fazendo isso para nos atingir, porque sabem que fomos nós que colocamos vocês (Nonato e Ari) aí. Fica tranqüilo que tudo vai se resolver. Só que quando o cara me chamou na sala e disse que estava afastado, eu pedi um argumento. Um motivo para o afastamento. Aí ele me disse que o presidente achava que eu não tinha jogado porque não quis.
E o que fez então?
Eu fui ao presidente e falei: Vocês são muito desonestos. Comecei a falar um monte de coisa. Xinguei a instituição Fortaleza. Briguei com ele lá, dentro da sala mesmo. Chutei cadeira. Falei que eles estavam errados. À noite, o rapaz da Santana Têxtil me ligou: Pô Nonato, você não deveria ter feito isso. Você xingou a instituição Fortaleza. Você discutiu feio com os caras. Independentemente de eles estarem contra a gente, você não deveria ter xingado a instituição Fortaleza. Eu disse: Por mim, tudo bem. Você quer fazer o quê?. Liguei para o meu empresário e disse: Liga para o Fernando (representante Santana Têxtil) e rescinde meu contrato que eu não estou mais a fim de ficar aqui, não. Foi mais ou menos assim. Começou tudo com isso aí. Foi um clube que eu tive uma passagenzinha rápida e eu nem considero que passei por lá. Eu quero esquecer o Fortaleza e botar no meu currículo só clubes por onde eu passei, fui bem recebido e onde fiz história.
Você esteve com um pé no Flamengo no seu retorno da Coréia do Sul em 2006. Foi o Valdir Espinosa quem melou a negociação?
Sim. Por essa minha fama extracampo, ele ficou desconfiado. Falou que dentro de campo eu ia ajudar muito, mas fora ele ficava com medo de que eu. O Valdir Espinosa realmente me vetou.
O que você acha dessa fase de amistosos?
Jogo é sempre bom. Essa parte de físico é sempre a pior. Você entra de férias e depois volta para uma pré-temporada. O jogador está desacostumado, sai daquele foco de treinamentos. Quebra essa rotina. Mas aos pouquinhos a gente vai se condicionando. Os treinamentos têm sido tranqüilos. Os profissionais da comissão técnica são muito qualificados. Eles conversam bastante antes de dar o treinamento. Está sendo tranqüilo e está sendo bom, principalmente para a gente que está um pouquinho fora de forma. Antes de chegar ao Bahia, estava quase dois meses sem fazer nada e tenho que recuperar a forma.
Para acabar de vez com essa especulação quanto ao peso. Hoje, o Nonato tem quantos quilos acima do peso e precisa de quanto tempo para estar pronto para jogar bem 90 minutos?
Até o dia 8 de julho (data da estréia na Série C, contra o Confiança, em Aracaju), com certeza estou pronto. Isso é normal (enfático). O jogador que tem tendência a pegar um pouquinho de peso, que nem eu tenho, é natural se apresentar no clube acima do peso após dois meses parado. Mas eu já estou trabalhando com relação a isso. Já perdi alguns quilos. O Dudu (Fontes, preparador físico) já me passou, junto com a nutricionista, o meu cardápio. Eu tenho procurado seguir para que possa estar pronto até antes. O torcedor pode ficar tranqüilo. No dia 8 de julho, com certeza, eu vou estar pronto para estrear e vou estar no nível dos outros jogadores”.
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