Ele foi vendido pelo Bahia, ao Sevilla, por 1,050 milhão de dólares. Na época, janeiro de 2004, o principal diário esportivo espanhol não titubeou: a preço de banana. Pior é que opinião estampada nas páginas do Marca já havia sido escancarada, dias antes, no próprio site oficial do clube andaluz.
A operação foi magnífica. É como dizer que contratamos Daniel Alves por um preço mais de cinco vezes inferior ao que atualmente ele tem no mercado, festejou o presidente José María del Nido, fixando a sua rescisão contratual, logo em seguida, em 60 milhões de dólares. Não por acaso.
Àquela altura, o jogador tinha acabado de conquistar o Mundial Sub-20, disputado nos Emirados Árabes, defendendo a Seleção Brasileira. Mais do que isso, não apenas ganhou o título, como foi eleito o terceiro melhor atleta do torneio. Duas das maiores potências do planeta, a Juventus-ITA e o Real Madrid-ESP, já haviam sondado o lateral. Mesmo assim, o Tricolor aceitou antecipar a negócio em definitivo junto ao Sevilla, diminuindo o valor em 25%, só para receber o dinheiro quatro meses antes.
Mas como ele ainda pode render alguns dividendos para o clube? Será que dá para ser um montante até mesmo maior do que o da venda? Depende. A explicação perpassa o polêmico mecanismo de solidariedade, tão comentando quanto distorcido por estas bandas soteropolitanas.
ENTENDA Encerrados os principais campeonatos europeus, a ordem do dia, no Velho Continente, é especular. E, no início da última semana, uma das inúmeras notícias sobre transações internacionais deixou a cartolagem azul, vermelha e branca em polvorosa. Segundo a imprensa espanhola, o Chelsea do milionário russo Roman Abramovich estaria disposto a oferecer 23 milhões de euros (cerca de R$ 60 milhões) pelo passe de Daniel Alves. Na Inglaterra, reduz-se a história para 19 milhões.
Realmente, estamos em estado de alerta, confessa o diretor financeiro Marco Costa, também responsável pelo marketing do Bahia. Ele acrescenta que o clube possui um advogado, especialista na área, cujo escritório na Suíça estaria sempre de olho em casos como esse envolvendo grandes times do futebol brasileiro.
E se, de fato, a compra sair embora o presidente del Nido tenha declarado, anteontem, que ainda não recebeu nenhuma proposta oficial , o Esquadrão de Aço tem mesmo o que comemorar. Afinal, herdaria uma pequena fatia do preço, sendo beneficiado pelo artigo 21 do Estatuto de Transferência de Jogadores da Fifa.
Advogado da entidade de 2002 a 2006, o português Gonçalo Almeida, que em outubro do ano passado esteve na Federação Bahiana de Futebol palestrando sobre o assunto, explica: O mecanismo de solidariedade estipula que todas as equipes que participaram da formação do jogador, dos 12 aos 23 anos, têm direito a uma indenização pelo investimento que fez.
E AÍ? A referida indenização é de 5% sobre o valor do negócio e rateada, de acordo com a regra criada pela Fifa em 2001, relacionando a idade do atleta e o período que ele permanceu em cada clube. Além disso, a transação deve ser durante a vigência do contrato e para um time de outro país, adverte Almeida, de Lisboa, por telefone.
Isto é, caso Daniel seja vendido para o Real Madrid ou o Barcelona, por exemplo, o Bahia não ganha nada. Mas se for para o inglês Chelsea, abiscoita alguma coisa.
Só que essa parcela, ao contrário do que a cúpula tricolor acredita, não será tão alta assim. Diretor Marco Costa chega a falar em 80%. Porém, não deve ultrapassar 40%.
A explicação é simples. Antes de desembarcar no Fazendão, o lateral-direito passou de 6 de agosto de 1997 a 28 de julho de 1999 no clube de sua terra natal, o Juazeiro. Registrado desde os 14 anos, ele veio para o Bahia com 16, onde ficou até os 19 anos, oito meses e 1 dia.
O empréstimo para o Sevilla aconteceu em 6 de fevereiro de 2003. Como até hoje, aos 24, Daniel Alves continua no time andaluz, os 5% referentes ao mecanismo de solidariedade serão divididos com 0,72% para o Juazeiro, 1,85% para o Bahia e 2,43% para o Sevilla.
RATEIO DA SOLIDARIEDADE
Se Daniel realmente for vendido ao Chelsea por 23 milhões de euros, assim os clubes formadores dividirão os 5% do mecanismo:
– O Juazeiro fica com 14,4%, que dá 165.600 euros, ou R$ 430.560
– O Bahia fica com 37%, que dá 425.500 euros, ou R$ 1.106.300
– E o Sevilla fica com 48,6%, que dá 558.900 euros, ou R$ 1.453.140
SINAL | Parece mesmo que o Sevilla, enfim, aceitará vender Daniel Alves. O noticiário espanhol indica que o clube está contratando a jovem revelação belga Tom de Mul, do Ajax da Holanda, que atua na mesma posição.
HISTÓRICO | O presidente do Bahia na época da contestada venda de Daniel era o ex-deputado Marcelo Guimarães. E a diretoria de futebol tinha o atual mandatário do clube, Petrônio Barradas, que acabou saindo dois meses depois.
5%
é o valor do mecanismo de solidariedade, que difere da indenização por formação, paga em transferências de jogadores com até 23 anos.
Matéria publicada originalmente, por esse mesmo autor, na edição desta segunda-feira 09/07/2007 do suplemento A Tarde Esporte Clube
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