Certa vez, numa determinada lista de discussão na internet, o torcedor Raimundo Souza soltou: Dá para comparar a Nação Tricolor com aquela música do Aviões do Forró, Você não vale nada, mas eu gosto de você. Pois bem.
O Bahia se encontra na última divisão do futebol nacional, não levanta um caneco profissional desde maio de 2002 e não dá a chance ao associado de escolher o seu principal dirigente. A promessa de reforma do estatuto azul, vermelho e branco acaba de completar dois anos. Devidamente engavetada.
Mesmo assim, o clube é capaz de colocar 49.528 torcedores, em plena quarta-feira à noite, contra um desconhecido Barras do Piauí. Mais gente do que tem no município homônimo inteiro daquele Estado: 43.417, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007).
Na partida anterior aqui, 58.695 pagaram ingresso para assistir a um obscuro Crac, do interior goiano. Tudo isso no inconveniente horário das três e meia da tarde, no meio de um feriado, em dia de estréia da Seleção Brasileira nas Eliminatórias da Copa do Mundo.
E uma nova mostra do que é ser Bahia já tem data e local para acontecer: amanhã, às 20h30, no Estádio Octávio Mangabeira. No outro lado do campo, o Bragantino.
Resultado: apesar de tudo, o Esquadrão de Aço é dono da segunda melhor média de público do País. Só perde para o Flamengo, cuja torcida é mais de sete vezes maior conforme estimativas das últimas pesquisas divulgadas sobre o assunto.
Nos seus nove confrontos em casa com portões abertos na Série C, a equipe levou 31.434 pessoas, em média, para a Fonte Nova. Em 16 partidas, na A, o rubro-negro carioca cravou 32.456.
Virtual campeão da elite, o São Paulo registra média de 26.006 pagantes. Melhor no quesito da Série B, o Santa Cruz põe 28.281 por jogo no Arruda.
ESPECIALISTAS Os números do Bahia impressionam ainda mais quando se percebe que são superiores até mesmo que os da campanha do bicampeonato nacional, em 1988. Naquela ocasião, embora tenha chegado a colocar 110.438 na semifinal frente ao Fluminense, terminou com a média de apenas 26.529 torcedores. O que prova que casa cheia ajuda. Mas não faz gol.
Os públicos tricolores só fizeram aumentar desde o rebaixamento à Terceira Divisão, em 2005. O time, porém, já figura pelo segundo ano consecutivo no inferno tupiniquim.
Doutor em antropologia, Roberto Albergaria tenta explicar: Existem algumas teorias relacionadas ao tema, como a de Roberto da Matta, de que o futebol permite a você representar a sua vida na sociedade. Mas, do meu ponto de vista, não é nem questão de gostar de sofrer, mas de que o torcedor já se acostumou a sofrer mesmo.
Ele justifica dizendo que pela atual condição de cidadão existente no Brasil, o povão tá sempre sofrendo. Sofrer não é nada excepcional. Mas, durante o jogo, ele esquece até o sofrimento dele, de que vai pegar segunda um buzu lotado, então xinga o juiz, toma cachaça e usa a situação como válvula de escape para suas frustrações.
Já o psicólogo Rafael Tedesqui, especialista em esporte, analisa: O torcedor precisa de algo para se sentir em algum grupo, que tenha importância, valor. E há ainda a questão das crenças, de que se ele não estiver lá, o time perderá. Aí, torna-se dependente disso.
FIDELIDADE
Comparação das médias de público do Bahia, desde o início do século, em relação às maiores médias do Campeonato Brasileiro
2001 – Bahia: 21.557 (2°); Atlético/MG 27.239 (1°)
2002 – Bahia 19.995 (2°); Paysandu 23.242 (1°)
2003 – Bahia 13.004 (6°); Cruzeiro 26.109 (1º)
2004 – Bahia 32.512 (1°); Corinthians 13.527 (2°)
2005 – Bahia 17.285 (6°); Remo/PA 30.869 (1°)
2006 – Bahia 23.615 (3°); Atlético/MG 31.922 (1°)
2007 – Bahia 31.434 (2°); Flamengo 32.456 (1°)
RANKING
No ano passado, a Revista Placar divulgou as melhores médias de público da Série A, desde 1971. Foram listados todos os times da Primeirona de 2006, além de Bahia e Atlético/MG. Confira:
1°) Flamengo: 26.501
2°) Bahia: 24.983
3°) Atlético-MG: 24.473
4°) Corinthians: 22.292
5°) Cruzeiro: 19.565
6°) Palmeiras: 18.574
7°) Internacional: 17.917
8°) Vasco: 17.770
9°) São Paulo: 15.985
10°) Fluminense: 15.864
11°) Santa Cruz: 15.721
12°) Grêmio: 15.446
13°) Fortaleza: 14.635
14°) Santos: 14.437
15°) Goiás: 13.846
16°) Botafogo: 13.503
17°) Atlético-PR: 10.453
18°) Figueirense: 9.902
19°) Ponte Preta: 7.953
20°) Paraná: 7.221
21°) Juventude: 5.473
22°) São Caetano: 4.111
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Matéria publicada originalmente, por esse mesmo autor, na edição de segunda-feira 29/10/2007 de A Tarde Esporte Clube
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